sexta-feira, 11 de março de 2016

Trabalho: 3 dos 100 fatos do cristianismo

Trabalho: 3 dos 100 fatos mais importantes do cristianismo

1512 Michelangelo completa a cúpula da Capela Sistina

Quando olhamos para a cúpula da Capela Sistina, imagens humanas maiores do que o tamanho real parecem se projetar para baixo, trazendo à vida, de maneira brilhante, nove cenas do livro do Gênesis, sete profetas hebreus e cinco sibilas, profetisas pagas que supostamente predisseram a vinda do Messias. Logo no primeiro vislumbre dessa obra, é possível verificar que ela é totalmente diferente da arte do mundo medieval. A arte espiritual, mas, muitas vezes, estilizada e irreal da Idade Média, cedeu sua vez a um novo realismo que fazia maior uso da perspectiva e do conhecimento da anatomia.  A nova arte, no entanto, refletia mudanças mais profundas do pensamento, que alteraram permanentemente o mundo cristão. O Renascimento começou a ganhar espaço na Europa durante os séculos XV e XVI. O poeta cristão Petrarca descobrira antigos manuscritos latinos e popularizou o estudo deles. A partir disso, surgiu o humanismo, que buscava estudar os clássicos e aplicar seus princípios à vida. De maneira lenta, mas veemente, começou a ser dada maior ênfase ao homem, à sua habilidade de pensar e às suas ações. Embora o cristianismo ainda exercesse grande impacto sobre o pensamento humano, o mundo foi vagarosamente se distanciando do modo de vida centrado na igreja.
Como muitas figuras proeminentes do Renascimento, Michelangelo Buonarroti amealhou conhecimento diversificado. Escreveu maravilhosos poemas e se tornou um artista, escritor e arquiteto talentoso. Sob o patrocínio dos papas Júlio II, Leão X, Clemente VII e Paulo III, criou pinturas e esculturas magníficas, que refletiam o espírito de sua era. Sob Júlio o, Michelangelo aceitou o projeto de pintar a cúpula de uma das capelas particulares do papa, a Capela Sistina. De 1508 a 1512, ele criou os magníficos aíreseos de homens e mulheres de carne e osso, que pareciam ser capazes de assumir vida por iniciativa própria. O realismo com que retratava as histórias bíblicas é estranho à arte medieval. A despeito dos temas espirituais, essas pessoas pareciam mais deste mundo do que do mundo espiritual.
Em 1534, Michelangelo voltaria à Capela Sistina para pintar a parede do altar. O Juízo Universal retrata um Cristo vigoroso. Há grandes figuras dos salvos, que se levantam, e dos que estão destinados à queda, que se mostram tristes por serem incapazes de alterar seu fim. Quando o papa Paulo III viu a obra pela primeira vez, orou, atordoado: "Senhor, não imputes a mim o meu pecado quando chegar o Dia do Juízo". Embora provavelmente seja mais conhecido por suas pinturas, Michelangelo não se considerava, fundamentalmente, um pintor. Seu primeiro amor era a escultura, na qual ele se sobressaiu, como podemos observar por sua magnífica estátua do jovem Davi; pela delicada Pietá, que retrata Maria com o filho sacrificado; e pelo justo e irado Moisés.
A medida que o homem se tornava cada vez mais o padrão de todas as coisas e do mesmo modo que a Reforma desafiava a autoridade da Igreja Católica, a influência do humanismo aumentava. Contudo, ele começou com os cristãos, e a maior parte dos humanistas permaneceu na fé.



1517 Martinho Lutero afixa As noventa e cinco teses
"Tão logo a moeda no cofre ressoa, a alma sai do purgatório." Essa era a curta mensagem musicada de propaganda de João Tetzel, o homem autorizado a conseguir dinheiro para construir uma nova basílica em Roma. Seu esquema para o levantamento de fundos — a venda de indulgências — era, simplesmente, a venda do perdão. "Faça com que os seus entes queridos, que já partiram, saiam do purgatório por uma pequena taxa e ganhe algum crédito adicional para os seus pecados." A corrupção reinava na igreja. Os cargos eclesiásticos eram comprados por nobres ricos e usados para alcançar mais riqueza e mais poder. Um desses nobres foi Alberto de Brandemburgo, que pedira dinheiro emprestado para se tornar arcebispo de Mainz e que precisava encontrar um modo de pagar seu empréstimo. O papa autorizou a venda de indulgencias na região de Alberto, contanto que metade do dinheiro coletado fosse usada para a construção da Basílica de São Pedro em Roma. O restante do valor levantado iria para Alberto. Todos estavam felizes, a não ser certo número de alemães devotos, dentre os quais estava Martinho Lutero. Tetzel, monge dominicano e pregador bastante popular, tornou-se o comissário das indulgências. Ele viajava de cidade em cidade, proclamando seus benefícios: "Ouça a voz de seus entes queridos e amigos que já morreram, suplicando-lhes e dizendo: 'Tenha pena de nós, tenha pena de nós. Estamos passando por tormentos horríveis dos quais você pode nos redimir, contribuindo com uma pequena esmola'. Vocês não desejam fazer isso?". Lutero, sacerdote e professor de Wittenberg, opunha-se totalmente à venda das indulgências. Quando Tetzel chegou àquela localidade, Lutero redigiu uma lista de 95 queixas e a afixou na porta da igreja, que também servia como quadro de avisos da comunidade. O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia Lutero, uma vez que Deus o oferece gratuitamente. As indulgências, porém, eram apenas a ponta do iceberg. Lutero se rebelava contra toda a corrupção da igreja e pressionava para que uma nova compreensão da autoridade do papa e das Escrituras fosse adotada. Tetzel saiu logo de cena (morreu em 1519), mas Lutero prosseguiu, vindo a liderar uma revolução religiosa que mudou radicalmente o mundo ocidental. Lutero nasceu em 1483, em uma família de camponeses em Eisleben, Alemanha. Seu pai, um mineiro, levou-o a estudar Direito, enviando-o à Universidade de Erfurt. Contudo, o fato de ele ter sido poupado da morte quando um raio caiu muito próximo dele fez com que Lutero mudasse de idéia. Ele entrou para um mosteiro agostiniano em 1505, tornando-se sacerdote em 1507. Reconhecendo suas habilidades acadêmicas, seus superiores o enviaram para a Universidade de Wittenberg a fim de que obtivesse o diploma em Teologia. A inquietação espiritual que atormentava outros grandes cristãos, ao longo de todas as eras, também influenciou Lutero. Ele estava profundamente consciente do próprio pecado, da santidade de Deus e de sua total incapacidade de obter o favor divino. Em 1510, Lutero viajou para Roma e ficou desiludido com o tipo de fé mecânica que encontrou ali. Fez tudo o que pôde para ser verdadeiramente piedoso. Subiu, até mesmo, a escada de Pilatos, em que Cristo supostamente caminhou. Lutero orava e beijava cada degrau à medida que prosseguia, mas, mesmo ali, suas dúvidas ainda fervilhavam. Poucos anos depois, voltou para Wittenberg como doutor em Teologia, para ensinar disciplinas relacionadas à Bíblia. Em 1515, começou a lecionar sobre a epístola de Paulo aos Romanos. As palavras de Paulo consumiram a alma de Lutero. "Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo", escreveu Lutero.  "Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que Ό justo viverá pela fé'. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão dessa descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda a Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se, para mim, o portão para o céu".
Assim, mais confiante em suas crenças e com algum apoio de seus colegas, Lutero sentiu-se livre para falar contra a corrupção. Ele já criticava a venda de indulgências e a adoração das relíquias mesmo antes de Tetzel aparecer em sua região. Tetzel simplesmente fez com que o conflito alcançasse uma posição de destaque. As noventa e cinco teses de Lutero eram profundamente restritas, caso consideremos a sublevação que provocaram. Afinal, eram apenas um convite ao debate.
Ele realmente conseguiu um debate, primeiramente com Tetzel e, mais tarde, com o renomado estudioso João Eck, que acusou Lutero de heresia. No primeiro momento, parecia que Lutero esperava que o papa concordasse com ele sobre o abuso na questão das indulgências. Conforme a controvérsia continuou, Lutero, porém, solidificou sua oposição ao papado. Em 1520, o papa emitiu uma bula (decreto) condenando as idéias do monge alemão, e Lutero a queimou. Em 152 1, a Dieta (concilio) de Worms ordenou que Lutero se retratasse. Ali, segundo a lenda, Lutero afirmou: "Não posso fazer outra coisa. Aqui estou. Deus me ajude. Amém".
Depois disso, Lutero foi excomungado, e seus escritos foram banidos. Para sua proteção, foi levado à força por seu patrono Frederico, o Sábio, e ficou escondido no castelo de Wartburg. Ali, ele trabalhou em outros escritos teológicos e na tradução do Novo Testamento para o alemão popular.
Contudo, a batalha apenas começava. Quando ousou fazer oposição ao papa, Lutero despertou os sentimentos de independência tanto nos nobres alemães quanto no povo em geral. A Alemanha se tornou uma colcha de retalhos, à medida que alguns nobres apoiaram Lutero e outros permaneceram leais a Roma. A Reforma já estava em preparação também na Suíça, liderada por Ulrico Zuínglio. A igreja e o Sacro Império Romano voltaram sua atenção para as batalhas políticas que se estenderam por toda a década de 1520. Quando decidiram agir de forma enérgica contra os reformadores, já era tarde demais.
Uma reunião realizada na cidade de Augsburgo, em 1530, chegou perto de fazer com que a causa luterana voltasse a ficar sob a tutela romana. Filipe Melâncton, amigo de Lutero, preparou uma afirmação conciliatória das idéias de Lutero, apresentando seu ponto de vista como um posicionamento fiel ao catolicismo histórico. Porém, o concilio católico exigiu concessões que Lutero não faria, e a ruptura se tornou definitiva.
Em retrospecto, parece que os acontecimentos da Reforma devem muito à personalidade única de Lutero. Se não fosse sua dúvida profunda, talvez jamais tivesse garimpado as verdades das Escrituras como fez. Sem seu zelo pela justiça, talvez nunca afixasse seu protesto na porta da catedral. Sem sua impetuosidade, talvez jamais atraísse um número significativo de seguidores. Ele viveu em um tempo propício às mudanças e era o homem indicado para fazer com que acontecessem.
1523  Zuínglio lidera a Reforma na Suíça

Ao mesmo tempo em que a Reforma seguia adiante na Alemanha, ela também se iniciava na Suíça, sob o comando de Ulrico Zuínglio. De modo diferente de Lutero, esse sacerdote nunca foi monge e tampouco experimentou uma conversão intrincada. Sua conversão foi um processo intelectual lento, no qual ele passou a entender as Escrituras e a perceber como a Igreja Católica estava distante delas. Durante os dez anos de serviço como pároco em Glarus, na Suíça, Zuínglio atuou, em duas ocasiões, como capelão de alguns jovens mercenários suíços. O que viu fez com que fosse contra a prática dos rapazes, que vendiam seus serviços de guerreiros, e, portanto, posicionou-se publicamente contra essa prática. Para Zuínglio, esse pequeno incidente foi apenas o começo de uma carreira que abrangeria tanto a reforma política quanto religiosa. Serviu como sacerdote em Einsiedeln de 1516 a 1518. Por ter sido muito influenciado por Erasmo, Zuínglio aprofundou-se no estudo do Novo Testamento grego daquele grande erudito. Sua pregação começou a ter cunho mais evangélico. No primeiro dia do ano de 1519, Zuínglio se tornou pastor da principal igreja de Zurique. Ao chegar, anunciou que, em vez de seguir os textos prescritos no lecionário, pregaria sobre o evangelho de Mateus. Isso foi praticamente um ato de desafio à igreja, embora, naquele momento, ele não tivesse intenção alguma de se separar de Roma. No mesmo ano, a peste chegou a Zurique, e quase um terço da população da cidade foi vitimada. Zuínglio fez de tudo para ministrar ao povo, até que ele mesmo contraiu a doença. Os três meses que levou para se recuperar lhe ensinaram lições sobre a dependência que devemos ter de Deus, algo que mudou sua vida completamente. Zuínglio continuou a pregar que encontrava na Bíblia, mesmo quando o ensino era diferente dos rituais e das doutrinas da igreja. Essa situação chegou a seu ápice em 1522, quando alguns de seus paroquianos desafiaram as regras da igreja sobre comer carne durante a Quaresma. Zuínglio os apoiou pregando um sermão sobre a liberdade. O governo civil de Zurique aceitou a paz, mas, ao fazê-lo, terminou por tomar a igreja nas próprias mãos. Logo no começo do ano seguinte, eles promoveram um debate público sobre assuntos de fé e de doutrina, em que a idéia de Zuínglio prevaleceu. Em 29 de janeiro de 1523, o conselho da cidade decretou: "Que o sr. Ulrico Zuínglio continue e prossiga, como antes, com a proclamação do santo evangelho e da pura e santa Escritura de acordo com sua capacidade". No decorrer de dois anos, os debates continuaram e as reformas se expandiram: sacerdotes e freiras poderiam se casar, imagens foram removidas das igrejas e, para firmar a ruptura final com a Igreja Católica, a missa foi substituída por um culto simples no qual a maior ênfase era dada à pregação. Zuínglio enfrentou oposição não apenas da Igreja Católica, mas também dos anabatistas — grupo mais radical de reformistas — que queriam ver as reformas em Zurique acontecer de forma mais rápida. Embora muitos reformadores concordassem entre si no sentido de que desejavam a fé mais bíblica, eles, muitas vezes, diferiam quanto ao real significado dessa fé mais bíblica e de como alcançá-la. Em 1529, Filipe, o landgrave de Hesse, reuniu Lutero e Zuínglio. Filipe queria que o movimento reformado fosse coeso com relação à questão militar, política e espiritual. Para esse fim, trouxe os dois homens a Marbur-go. Das quinze questões doutrinárias que discutiram, Zuínglio e Lutero concordaram em catorze. A eucaristia foi o ponto de discórdia: Zuínglio via esse ato como o recebimento "espiritual" do corpo de Cristo, ao passo que Lutero o via em termos mais concretos. O encontro que objetivava a união dos dois grupos protestantes resultou, na verdade, em uma ruptura ainda maior. O movimento reformista de Zuínglio se espalhou principalmente na porção alemã da Suíça, chegando, finalmente, a Genebra, de língua francesa, e pavimentando o caminho para o trabalho de Calvino naquela região. Entretanto, Zuínglio ainda enfrentava a oposição católica nos cantões rurais, o que terminou por levá-lo a uma batalha. O clérigo, que pregou contra os mercenários, uniu-se às tropas de Zurique como soldado, empunhando armas, e morreu em 11 de outubro de 1531, na Batalha de Kappel. Seu corpo foi esquartejado e desonrado por seus inimigos. Essa foi apenas uma parte da série de lutas religiosas que seriam travadas nos cem anos que se seguiram.

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