quinta-feira, 7 de abril de 2016

RESENHA DO FILME " A VILA"

RESENHA DO FILME “A VILA”
      O filme A vila retrata a história de um grupo de pessoas que se isolaram da sociedade diante das experiências vividas – violência, tragédias, morte de familiares, etc. Um grupo de pessoas de idade avançada – os anciões - juntaram-se e decidiram que as novas gerações não deveriam passar pelas experiências  até então já vividas por eles. Desta forma, se agruparam e formaram uma nova sociedade (escondida na floresta) regrada em novos princípios, valores e regras.
      Os novos integrantes que iam surgindo conheciam o mundo pelas sombras dos mais velhos, semelhante ao descrito no Mito da Caverna, de Platão. Para manter o grupo às ordens, com o prosseguimento desta cultura, desta ideologia, os anciões “criaram” monstros, mitos, rituais, símbolos (cores vermelha e amarela. P ex.) para que pudessem manter o grupo longe de qualquer contato com indivíduos da cidade, firmando os objetivos da “nova sociedade”. O medo era o principal instrumento para a manutenção deste sistema. Desta forma, criou-se os monstros da floresta afim de evitar que qualquer indivíduo ultrapassasse este limite e mantivesse contato com desconhecidos. Fazendo um paralelo da vila, neste ponto, com as organizações, podemos encontrar os símbolos, como a cadeira e uma mesa maior para o chefe do departamento, e os rituais -  as festas comemorativas para firmar os objetivos da empresa junto aos funcionários.
      Tudo estava tudo bem, até a tentativa de morte do personagem Lucius, integrante da vila. Este grupo, até então “livre” dos valores perversos da “sociedade má”, passava aflorar valores semelhantes desta. Neste ponto, o filme traz à tona o questionamento: a sociedade corrompe o homem, ou homem é corrompido pela sociedade?
Neste momento, Yvi – que tinha um relacionamento com Lucius, e sabia que existia outra sociedade – preocupa-se com ele e, para evitar sua morte, pede autorização a um dos anciões para sair da vila em busca de medicamentos. Os anciões resistem, mas ao fim aprovam a saída da moça.
     Relacionando este fato à Administração, em especial à Antropologia, questionamos: podemos viver sem o contato social entre grupos, entre sociedades? Até que ponto esta relação é benéfica? Podemos viver isolados, mesmo sabendo que o mundo lá fora está se desenvolvendo?
     Ao avançar do filme podemos ver a forma de organização da Vila. Há um sistema de decisões que são tomadas por um grupo – os anciões – mesmo os demais integrantes não fazerem parte deste processo.
      A moça já sabendo da farsa que o grupo é passado, ao voltar a vila, é eleita pelos anciões como a pessoa que tem as condições para ser a lider que irá dá prosseguimento a este sistema. Afinal de contas, todos que sabem da verdade um dia irá morrer. Logo, precisa-se alguém para levá-lo à frente.
      Parafraseando Platão novamente, a verdade é a única forma de libertação da escuridão que nos é imposta.

Autor: Marcio Beserra

A vila (1897) e o Mito da Caverna

A Vila e o Mito da Caverna

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O filme A Vila (The Village) possui algumas características semelhantes ao Mito da Caverna, ou a alegoria da caverna, narrado por Platão no capítulo 7 do livro A República.

O mito da caverna consiste na apresentação hipotética de homens amarrados às correntes no interior de uma caverna desde o nascimento. Esses homens não conseguem enxergar outra coisa além de sombras projetadas nas paredes da caverna advindas da parte externa, juntamente com os sons que ocorrem do lado de fora. Não conseguindo nem sequer observar os companheiros de clausura, esses homens julgam as sombras de homens e pássaros projetadas na parede como sendo a própria realidade das coisas.

Certa vez, um dos homens consegue se libertar das correntes e sair da caverna. Depois de deparar-se com a realidade, o homem retorna ao interior da caverna e tenta descrever para os seus companheiros a verdadeira realidade que encontrara. Ele tem certa dificuldade em narrar aos seus companheiros de clausura porque estes não possuem referência alguma do que está sendo dito.

Esta estória nos apresenta, metaforicamente, a saída da ignorância para a conquista do pensamento racional. Para Platão, há dois mundos: o Mundo das Ideias e o Mundo das Sombras, ou Mundo dos Sentidos. Segundo ele, para atingirmos a racionalidade, devemos nos abster, paulatinamente, dos nossos sentidos, pois estes nos fazem enxergar o mundo de uma forma errônea.

O filme A Vila (The Village) conta a história de um grupo de pessoas cansado do estresse e das conturbações da vida moderna cotidiana que recria uma vila típica de 1897 isolada do restante da civilização contemporânea. Estas pessoas, conhecidas como sábias ou anciãs, transmitem aos mais jovens a ideia de que há monstros perigosos para além da floresta, a fim de manter a farsa velada.

Ora, esses habitantes da vila, enganados pelos mais velhos, são como os homens acorrentados como descritos por Platão. E, assim como Platão acredita que os sentidos nos afastam do pensamento racional, no filme, os anciãos reforçam a ignorância dos mais jovens quando despertam os seus sentidos através do medo. Como por exemplo, a aversão à cor vermelha e o aparecimento dos animais abatidos.

Ironicamente, a única personagem que consegue descobrir o segredo da fictícia vila é uma deficiente visual, Ivy Walker, mostrando-nos que os sentidos não são necessários para a conquista da racionalidade. Algo não muito diferente do que propunha Platão há milhares de anos atrás.


Por: Jurdiney Pereira Junior