quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Pai se recusa a deixar o filho para trás! Tentem não chorar!

APOCALIPSE

O Apocalipse desperta interesse em quase todas as pessoas, principalmente nos últimos anos, por ocasião da mudança de milênio. Cristãos ou não, religiosos ou não, muitos são os que têm grande curiosidade em relação ao livro. Entretanto, o medo e a falta de compreensão acabam por afastar o interessado. O que resta, normalmente, são informações obscuras e bastante distorcidas. Apocalipse, Armagedom, Anticristo, Juízo Final e fim do mundo são temas reincidentes nos filmes de Hollywood, que vão dando sentido lendário e fantasioso aos assuntos extraídos das Escrituras. Neste estudo, temos o objetivo de conhecer o livro sem a pretensão de desvendá-lo completamente. Trata-se de uma introdução ao estudo do Apocalipse. Apresentaremos, porém, algumas hipóteses de interpretação em linhas gerais. Quando mencionarmos teorias a respeito de determinado ponto, não significa que adotamos esta ou aquela posição, exceto quando declararmos nossa postura. O Apocalipse contém, logo no início, uma mensagem de bênção para os seus leitores. "Bem-aventurado aquele que lê, e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas, porque o tempo está próximo." (Ap.1.3). O texto nada diz sobre a compreensão, mas sobre o conhecimento. É desejável que entendamos o Apocalipse. Se, porém, não entendermos, este não deve ser o motivo para que o abandonemos. Precisamos ler, ouvir, estudar, guardar o seu conteúdo. Pode ser que muitas de suas profecias não possam ser compreendidas antes de se cumprirem. Contudo, se as conhecemos, poderemos reconhecê-las quando se cumprirem e, reconhecendo, poderemos tomar as atitudes certas no momento certo. Jesus disse: "... quando virdes... a abominação da desolação... então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes." (Mt.24.15). Portanto, quando certos fatos ocorrerem, nós poderemos identificá-los, caso estejamos munidos do conhecimento profético. O GÊNERO APOCALÍPTICO Esse foi um estilo literário que se destacou principalmente entre os anos 210 a.C. e 200 d.C. Seu ambiente de origem era uma época de tribulação para povo de Deus. Diante de circunstâncias que incluíam opressão, perseguição, exílio ou domínio estrangeiro, os escritos apocalípticos traziam uma mensagem de esperança através de uma linguagem enigmática. Seu objetivo era reanimar judeus ou cristãos, trazendo-lhes profecias a respeito da futura intervenção divina para libertar o seu povo, restituindo-lhe a glória usurpada. Muitos "apocalipses" surgiram, tendo como principal modelo o livro de Daniel. Este foi escrito durante o exílio Babilônico e trazia uma mensagem sobre o Reino de Deus que viria destruindo todos os reinos opressores. Daí em diante, muitos livros apocalípticos foram produzidos. Um dos momentos de opressão vividos por Israel foi o domínio romano, produzindo assim mais uma ocasião propícia a esse tipo de literatura, que muitas vezes incluía profecias messiânicas. Diversos escritos desse tipo não foram reconhecidos como canônicos. Como exemplos podemos citar o Apocalipse de Baruque, Apocalipse de Pedro, O Pastor de Hermas, A Assunção de Moisés, A Ascensão de Isaías, O livro de Jubileus, Os Salmos de Salomão, Os Testamentos dos Doze Patriarcas, I Livro de Enoque, II Livro de Enoque, II Esdras e IV Esdras. O Apocalipse de João se encaixa perfeitamente nessa corrente literária. Contudo, seu messianismo não se encontra vago como em outros escritos. Nele, o Messias é claramente identificado como sendo o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Este é o único livro desse gênero no Novo Testamento. Contudo, existem blocos apocalípticos em outras partes da bíblia. Por exemplo: Daniel 7 a 12, Isaías 13,14, 24, 25, Ezequiel 1, 28 a 39, Zacarias 9 a 14, Mateus 24, Marcos 13, Lucas 21, I Tessalonicenses 5 e II Tessalonicenses 2. . CARACTERÍSTICAS, CONTEÚDO E AUTORIA DOS LIVROS APOCALÍPTICOS Características e conteúdo: Mensagem de esperança, escatologia, intervenção divina, visões, símbolos, criaturas estranhas, mensagem oculta, uso de pseudônimos, profecias e apelo à imaginação. O Apocalipse de João só não se encaixa no quesito pseudônimo. Os escritores apocalípticos normalmente não assinavam suas obras. Muitos colocavam algum outro nome famoso e reconhecido, como Enoque, Salomão, etc., para darem mais credibilidade ao livro. João, porém, colocou seu próprio nome, conforme vemos no livro (Ap.1.1,4,9-11). Tal autoria é reconhecida pela maior parte dos críticos e comentaristas. Há quem diga que alguém usou o nome de João, mas essa hipótese não tem muitos adeptos. Alguns detalhes do livro reforçam a crença na autoria joanina. Jesus é apresentado como o Verbo de Deus e o Cordeiro (Ap.19.7,13), exatamente como acontece no evangelho de João (1.1,29). A palavra "testemunho" se destaca assim como acontece no evangelho e na primeira e terceira epístolas. Notamos assim "a mão" de João no Apocalipse. O QUE É APOCALIPSE? Esta palavra, de origem grega, significa "revelação". Revelar é mostrar, tirar o véu, desvendar. Falamos do Apocalipse como algo oculto. Porém, trata-se de uma revelação. O livro revela que Deus tem um plano, cujo desfecho é a vitória de Cristo. Podemos não saber o que é a besta, mas sabemos que ela será vencida pelo poder de Deus. Esta revelação está clara e evidente no Apocalipse. DADOS GERAIS Autor - O apóstolo João - 1.1,4,9-11; Destinatários - As 7 igrejas da Ásia (em geral, fundadas por Paulo). Data - 95 ou 96 d.C. Local - Patmos - ilha vulcânica, rochosa e estéril, localizada a 56 km da costa da Ásia Menor (Turquia). Para lá eram enviados os prisioneiros na época do imperador romano Domiciano (81 a 96). Outra hipótese defendida por alguns é a de que João tenha estado lá em algum momento do governo de Nero (54-68). Idioma - Grego (Ap.1.8; 21.6; 22.13). Tema - Conflito entre o bem e o mal. A vitória de Cristo e a implantação do seu Reino. Versículo-chave - Apc.1.7. Versículo-esboço - Apc.1.19. Características particulares - Único livro bíblico com bênção e maldição relacionadas ao seu uso (1.3 e 22.18-19). Classificação - livro profético. (único do NT embora haja blocos proféticos em outros livros como em Mt.24, Mc.13, Lc.21, etc.). Personagem central - O Cordeiro. Destaques - Verbo vencer (Apc. 2 e 3; 12.11; 15.2; 17.4; 21.7); Testemunho (Apc.1.2,9; 6.9; 12.11,17; 19.10; 20.4; 22.18,20). Verbo vir (referente à vinda de Cristo) (Apc. 1.4,7,8; 2.5,16; 3.3,11; 4.8; 22.20). GÊNESIS X APOCALIPSE Existe um paralelo evidente entre Gênesis e Apocalipse, conforme se observa pelos itens a seguir: GÊNESIS APOCALIPSE Início Fim Criação da terra Nova terra Criação do céu Novo céu Criação do sol A Nova Jerusalém não precisa do sol Vitória de Satanás Derrota de Satanás Adão Cristo Eva Igreja (noiva) Entrada do pecado Fim do pecado Maldição Fim da maldição Bloqueado caminho à árvore da vida. Acesso à árvore da vida. CIRCUNSTÂNCIAS E OBJETIVO Na época em que o Apocalipse foi escrito, a igreja estava sofrendo muito por causa da perseguição do Império Romano. João estava preso em Patmos e todos os outros apóstolos do primeiro grupo haviam morrido. Seria natural que muitos começassem a questionar se aquele não seria o fim do cristianismo. Será que a igreja resistiria àquela fúria das forças do mal? O livro de João vem mostrar o futuro: o castigo dos ímpios, a volta de Cristo, seu triunfo juntamente com a igreja e o estabelecimento do Reino de Deus. O Império Romano não prevaleceria contra os desígnios divinos. A LINGUAGEM SIMBÓLICA A linguagem direta tem suas limitações. A transmissão de uma mensagem complexa pode exigir uma infinidade de palavras e ainda assim ficar obscura. Alguns fenômenos, experiências e elementos naturais não podem sequer ser explicados de modo compreensível. Como podemos explicar a um cego de nascença o que seja cor? Qualquer explicação, por mais correta e científica que seja, não lhe dará nenhuma idéia a respeito do assunto. Como explicar um sabor, um cheiro ou um som? Nenhuma informação substituirá a experiência. As palavras serão inúteis. Nesses momentos de dificuldade, sempre procuramos um elemento de comparação. Buscamos algo que já seja do conhecimento do ouvinte e usamos para dar uma idéia a respeito do que queremos dizer sem ter encontrado palavras adequadas. Se temos esse problema em relação a elementos naturais, o que dizer dos espirituais, cuja essência nem sabemos definir? O espírito é uma realidade bíblica. Contudo, sua definição ou identificação de "substância" é algo fora do nosso alcance. O que dizer então de Deus, da trindade, do céu e das realidades celestiais? Por isso, a bíblia usa tanto a linguagem simbólica. Por outro lado, como se diz, "uma imagem vale mais que mil palavras". Então, até mesmo lições relativamente simples são transmitidas através de figuras, propiciando assim um recurso poderoso que leva a mensagem de forma concentrada, fixando-a na mente do receptor. Por exemplo, quando Jesus disse que era o "pão da vida" (Jo.6.35), ele buscou um elemento do cotidiano dos seus ouvintes para mostrar que ele vinha suprir a necessidade espiritual do homem. Quando a bíblia fala em "reino de Deus", está buscando na monarquia, sistema de governo comum naquela época, uma série de princípios existentes na relação rei-súdito que deveriam existir na nossa relação com Deus. A linguagem simbólica traz muito conteúdo em poucas palavras. Assim, se usamos o leão como símbolo, logo nos vem a mente sua ferocidade, sua coragem, sua força, sua fome, sua beleza, sua "majestade", etc. Se falamos em cordeiro, estamos destacando sua cor e sua índole como símbolos de pureza, inocência, docilidade, submissão, etc. Todos nós estamos bastante acostumados à linguagem simbólica. Utilizamos diariamente tais recursos para enriquecer nossa fala. Estamos sempre fazendo comparações implícitas ou explícitas de modo automático. Os escritos apocalípticos têm ainda um motivo a mais para usar a linguagem simbólica: era a necessidade de criptografar a mensagem, de modo que os inimigos nada compreendessem a respeito da mesma. Só os destinatários poderiam decifrá-la. QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO TEXTO SIMBÓLICO OU LITERAL? Este é um dos maiores dilemas que envolvem o estudo bíblico. O que é literal e o que é simbólico? Encontramos ambos os casos dentro das Escrituras. Então o problema se torna maior: como discernir o literal do simbólico? Tal tarefa nem sempre é fácil. Muitas vezes é difícil e, em algumas situações, parece impossível, a não ser que tenhamos uma iluminação divina. A história de Adão e Eva é literal ou simbólica? Tais personagens são reais ou fictícios? O profeta Jonas foi mesmo engolido por um peixe ou trata-se de uma parábola? Entendemos como literais ambos os casos, uma vez que o próprio Jesus citou a história de Jonas como fato e Paulo citou Adão e Eva da mesma forma. Contudo, isso não convence àqueles que vêem toda a bíblia como algo figurativo. Se todo o conteúdo bíblico for simbólico, então anula-se o seu aspecto concreto. A bíblia seria então comparável a qualquer obra de ficção e o cristianismo seria lendário. Por outro lado, se todo o seu conteúdo for considerado literal, então muitas passagens se tornarão inexplicáveis ou absurdas. Por exemplo: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna." (João 6.54). Logicamente, Jesus estava utilizando linguagem simbólica. Muitos dos seus ouvintes o interpretaram literalmente e o resultado foi o escândalo (João 6.52). Da mesma forma, quando Jesus disse que Nicodemos precisava nascer de novo, aquele doutor da lei tomou suas palavras de modo literal. O mesmo entendimento foi aplicado sobre "derrubar o templo e reconstrui-lo em três dias". Precisamos de discernimento para não cairmos no mesmo erro. Muitas vezes, é a falta de fé que faz com que algumas pessoas considerem como simbólico um texto literal. Por exemplo, a ressurreição de Cristo pode ser tão inacreditável para alguns, que podem acabar considerando-a um símbolo. Encontramos na bíblia diversas situações que envolvem o literalismo e o simbolismo: Texto literal É aquele que se refere a fatos. São histórias ou profecias. Se desconsiderarmos seu caráter literal, estaremos anulando as palavras de Deus. Por exemplo, a crucificação de Jesus está relatada em um texto literal (Mt.27). Texto simbólico É aquele que utiliza linguagem figurada. Por exemplo, a parábola do filho pródigo (Lc.15). Termo literal e simbólico alternadamente Uma palavra pode ser usada literalmente em uma passagem bíblica e como símbolo em outra. Por exemplo, as estrelas no Salmo 8.3 são literais. Em Apocalipse 1.20, as estrelas são simbólicas, representam anjos. Em Apocalipse 9.1, a estrela é simbólica e parece representar uma pessoa ou um anjo. Em Apocalipse 8.10-12, a estrela pode ser simbólica ou literal. Nesse caso, não podemos afirmar com certeza. Vemos, portanto, que uma palavra pode ser usada de várias formas na bíblia. Isso mostra que não podemos fazer uma regra e achar que toda estrela na bíblia seja um símbolo. Texto literal e simbólico simultaneamente A história de Abraão é literal. O povo de Israel está aí para comprovar isso. Aquele episódio de Abraão levando Isaque para ser sacrificado é literal. Foi um fato histórico. Mas, ao mesmo tempo, usando de alegoria, Abraão pode representar Deus, Isaque pode ser visto como um símbolo de Jesus e o sacrifício pode representar a crucificação. Assim, um texto literal pode ter um aplicação simbólica. Desse modo podemos ver inúmeros fatos no Velho Testamento. É possível, numa visão simbólica, extrair-lhes as lições sem negar-lhes o aspecto literal. O batismo e a ceia mencionados na bíblia são literais e ao mesmo tempo simbólicos. São fatos ocorridos mas sempre representando uma realidade espiritual. O mesmo acontece com a ceia do Senhor. Símbolo com mais de um sentido alternadamente Alguns termos, quando usados como símbolos, podem ter um sentido em um texto e sentido diferente ou até contrário em outra passagem. Por exemplo, o leão representa Cristo em um texto (Ap.5.5) e Satanás em outro (I Pd.5.8). A "estrela da manhã" representa Cristo em um texto (Apc.22.16) e o Diabo em outro (Is.14.12). Não temos nisso nenhuma confusão. Um símbolo é usado na bíblia como um recurso didático e não de forma mística, como se aquele animal estivesse "consagrado" para representar sempre determinada pessoa. Não podemos, portanto, fazer uma regra. Cada texto pode apresentar uma situação diferente. Existem porém, elementos na literatura ou na tradição judaica que nos permitem enxergar alguns padrões de simbologia, conforme veremos na seqüência. O SIMBOLISMO NO APOCALIPSE João viu realidades espirituais indescritíveis. Notamos seu esforço para explicar o que estava vendo, ouvindo e sentindo. Ele faz diversas comparações na tentativa de transmitir aos leitores suas impressões. Assim, os termos "como", "semelhante" e o verbo "parecer" são utilizados para dar uma idéia das extraordinárias visões do autor. Em outros momentos ele não faz comparações explícitas mas usa as figuras de forma direta, fazendo comparações implícitas. Algumas ocorrências de "como" - 1.10,14,15; 2.18,27; 4.1,6,7; 6.1,6,12,13. Algumas ocorrências de "semelhante" - 1.13; 2.18; 4.3,6,7. Verbo "parecer" - 9.19. Os símbolos usados pelo autor eram bem familiares para os seus destinatários. Livros selados, trombetas, carros puxados por cavalos, letras gregas, tudo isso era do conhecimento das pessoas que receberiam o Apocalipse. Ao lermos, precisamos saber o que cada coisa significa e qual era o seu sentido naquela época. Talvez não consigamos isso para todos os itens envolvidos, mas este é o caminho a ser trilhado pelo intérprete. Quando pensamos em livros, logo imaginamos blocos de páginas de papel envolvidas por capas protetoras. Os livros mencionados em Apocalipse, porém, eram rolos de pergaminho, peles de animais. Eram livros selados. Quando pensamos em selo, logo imaginamos pequenos adesivos utilizados pelos correios. Porém, os selos do apocalipse são lacres, a exemplo daqueles que os reis usavam para fechar suas correspondências, de modo que as mesmas não pudessem ser violadas no meio do caminho. O selo tinha a marca do anel do rei. Portanto, se alguém o quebrasse, não poderia fazer outro igual para substituí-lo. Estes são apenas alguns exemplos para mostrar que a interpretação do Apocalipse, como também de outras passagens bíblicas, depende muito do conhecimento sobre a antigüidade, principalmente do que se refere ao povo judeu, sua história, seus costumes e tradições. Sem esse conhecimento, sempre correremos o risco das interpretações anacrônicas. Não podemos interpretar o texto bíblico apenas com o sentido atual das palavras ou com base no gosto ou na opinião pessoal. A hermenêutica agradece. O simbolismo do Apocalipse utiliza como figuras: fenômenos naturais, cores, minerais (pedras preciosas), animais, relações humanas e até nomes significativos da história judaica como Jezabel e Balaão. Fenômenos ou elementos naturais e seus significados ELEMENTO SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO Ar Vida É nossa necessidade mais urgente Tempestade (raios, trovões, relâmpagos, saraiva) Perturbações na vida Fogo Purificação ou destruição Pedras preciosas Algumas vezes representa pessoas. Mar Insegurança, perigo, algo sinistro. oposto da terra firme. Cores e seus significados COR SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO Preto Luto, sofrimento Vermelho (sangue) Morte ou redenção relacionado a Cristo às vezes Vermelho (púrpura) Realeza roupa dos reis Amarelo pálido Fome Amarelo ouro Santidade de Deus Obs. elementos do tabernáculo Verde Esperança Branco Pureza, justiça Trono, vestes, cabelos, etc. NUMEROLOGIA A numerologia tem sido bastante valorizada atualmente devido à onda crescente de misticismo que envolve nossa sociedade. Os números têm sido considerados elementos de sorte e azar, e, por meio deles, muitos adivinhadores tentam prever o futuro das pessoas. Alguns povos utilizaram as próprias letras do alfabeto como algarismos, atribuindo-lhes valor numérico. Assim, um nome pode ser transformado em números e ter seu valor totalizado. Isso ocorreu, por exemplo, com algumas letras do alfabeto romano e também com o hebraico. O fato de se obter um valor para um nome não nos diz nada, a não ser que os números representem algum valor moral ou espiritual, uma bênção ou uma maldição. A tradição judaica relaciona alguns números a determinados conceitos religiosos ou cósmicos: NÚMERO SIGNIFICADO SENTIDO REFORÇADO 1 Unidade 2 Fortaleza, confirmação 3 Divindade 4 Mundo físico 5 Perfeição humana 6 Homem, falha humana 666 7 Perfeição, plenitude 40 Provação 70 Sagrado 12 Religião organizada. 24, 144 mil 1000 Grande quantidade A bíblia utiliza muito o simbolismo numérico. O livro de Apocalipse usa tal recurso de forma intensa, principalmente o número 7. Temos 7 igrejas, 7 candeeiros, 7 selos, 7 anjos, 7 trombetas, 7 taças, 7 espíritos, 7 estrelas, etc. ALGUNS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO Para entender um livro, precisamos lê-lo por completo. Assim, teremos uma visão geral do mesmo. Perceberemos a intenção do autor e a sua mensagem geral. Caso contrário, se lermos um verso aqui e outro lá de modo desordenado, terminaremos com uma coleção de retalhos desconexos. Lendo todo o livro, vamos descobrir que ele é auto-explicativo em alguns pontos, como se vê em Apocalipse 1.20. Podemos ler o capítulo 12, verso 5, onde o autor menciona o "filho varão", aquele que "regerá as nações com vara de ferro". A comparação com 19.13 a 16 nos fará compreender que aquele que "regerá as nações com vara de ferro" chama-se "Verbo de Deus", "Rei dos reis" e "Senhor dos Senhores". Logo, o próprio texto já nos mostrou quem é o "filho varão": o próprio Senhor Jesus. Tal conclusão também se utiliza do conhecimento geral que temos da bíblia. O Salmo 2 chama de "Filho" aquele que "regerá as nações com vara de ferro". O livro de Hebreus, no capítulo 1, nos informa que esse "Filho" é o Senhor Jesus. Além disso, o evangelho de João (1) nos diz que Cristo é o Verbo que se fez carne. Fizemos então um rastreamento de várias expressões que nos possibilitam uma interpretação inequívoca sobre o "filho varão" de Apocalipse 12. Outro exemplo: que dragão será aquele mencionado em Apocalipse 12.3? Se lermos até o versículo 9, teremos a resposta. No capítulo 20, verso 2, a explicação é repetida. O próprio texto diz que o dragão é o Diabo, também conhecido como "antiga serpente". Que serpente é essa? Aquela de Gênesis 3. Observa-se então que existe uma "linguagem bíblica" que muitas vezes permite que o texto de um livro possa ser interpretado por outro livro bíblico. Quem é o Cordeiro de Apocalipse 5? Não existe nenhum mistério sobre tal figura, uma vez que João Batista apresentou Jesus como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1.29), sendo ele o definitivo sacrifício tantas vezes representado pelos cordeiros mortos durante as páscoas realizadas desde a saída de Israel do Egito (Êx.12). O mesmo Jesus é chamado "Leão da Tribo de Judá" (Ap.5.5). A origem de tal expressão encontra-se em Gênesis 49, quando Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos seus filhos. Ao falar de Judá, Jacó profetizou sobre a vinda do Messias (Gn.49.8-12). É conclusivo também que, se alguém não conhece a bíblia de modo geral, não deve se arriscar no terreno das interpretações apocalípticas. Precisa começar por Gênesis. Outros exemplos: A ceifa - Compare Ap.14.16-20 e Mt.13.39-43. Muitas águas - Ap.17.1 e 17.15 Noiva - Ap.19.7; 21.9-10; 22.17 e Ef.5.25-27. O fundamento da Nova Jerusalém - igreja - Ap.21.14 e Ef.2.20-21. PRINCIPAIS CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE 1 - Pretérita. Afirma que todo o apocalipse já se cumpriu. Seus defensores vêem o Império Romano como a representação dos inimigos descritos no livro. A queda do Império teria sido então o ápice do juízo divino profetizado por João. A destruição de Jerusalém, no ano 70, também é vinculada ao Apocalipse por aqueles que localizam sua escrita durante o período de Nero (54-68). 2 - Futurista. Os futuristas projetam todo o cumprimento do Apocalipse para os últimos dos últimos dias, às vésperas da consumação dos séculos. Afirmam que nada se cumpriu nem está se cumprindo, mas tudo se cumprirá repentinamente no futuro e em um curto espaço de tempo. Esta é a mais escatológica das interpretações, no sentido mais extremo da palavra. 3 - Histórica. Essa corrente defende a tese de que o Apocalipse vem se cumprindo desde os dias de João até o fim dos séculos. São muitos os que concordam com essa posição. Entretanto, surgem muitas dificuldades e divergências quando se tenta uma identificação entre os fatos ou personagens históricos e os relatos apocalípticos. 4 - Simbólica, ou espiritual. Os adeptos dessa visão se abstêm de fazer ligações entre as profecias e os fatos. Procuram apenas extrair do Apocalipse as lições e os princípios morais ou espirituais ali contidos. Não devemos tomar uma postura extremista nessa questão, mas buscar uma visão equilibrada, que pode levar em conta todas as quatro correntes de interpretação. Cremos em um cumprimento histórico que, automaticamente, engloba a visão pretérita e a futurista. Por exemplo, as cartas às 7 igrejas se referiam a problemas existentes nos dias de João. Está cumprido. Entretanto, os princípios espirituais ali presentes são perfeitamente aplicáveis aos nossos dias. Pela sua infinita sabedoria, Deus nos deixou uma Palavra que não perde sua validade. Devemos nos lembrar que um relato sobre fatos ocorridos nos dias de João pode também ser uma profecia para outra época. Por exemplo, quando escreveu o Salmo 22, o autor estava falando de suas próprias experiências e, ao mesmo tempo, estava profetizando sobre os sofrimentos de Cristo. Vistas sob este ângulo, várias profecias apocalípticas podem ter se cumprido na queda do Império Romano e terem ainda outro cumprimento mais amplo nos últimos dias. A profecia de Jesus em Mateus 24 parece estar ligada à destruição de Jerusalém e também aos últimos dias. "Os que estiverem na Judéia fujam para os montes... Não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam." (Mt.24,16,34). ESBOÇO DO APOCALIPSE Introdução e saudações - 1.1-8 Visão de Jesus glorificado - 1.9-20 Cartas às 7 igrejas - 2.1 a 3.22 Cartas às 7 igrejas da Ásia Carta à Igreja de Éfeso Carta à Igreja de Esmirna Carta à Igreja de Pergamo Carta à Igreja de Tiatira Carta à Igreja de Sardes Carta à Igreja de Filadélfia Carta à Igreja de Laodicéia Visão do trono no céu - 4.1-11 O livro selado e o cordeiro - 5.1-14. Abertura dos 6 primeiros selos - 6.1-17. Os 144 mil selados - 7.1-8. Visão dos santos na glória - 7.9-17 Abertura do sétimo selo. As quatro primeiras trombetas - 8.1-13. A quinta e a sexta trombetas - 9.1-21. O anjo e o livrinho - 10.1-11. As duas testemunhas - 11.1-14. A sétima trombeta - 11.15-19. A mulher e o dragão - 12.1-18. A besta que subiu do mar - 13.1-10. A besta que subiu da terra - 13.11-18. O cordeiro e os remidos no monte Sião - 14.1-5. Os 3 anjos e suas mensagens - 14.6-13. A ceifa sobre a terra - 14.14-20. As 7 taças - 15.1 a 16.21. A grande Babilônia - 17.1-18 A queda da Babilônia - 18.1-24. As bodas do Cordeiro - 19.1-10. O cavaleiro do cavalo branco - 19.11-21. O milênio - 20.1-6. A derrota de Satanás - 20.7-10. Juízo Final - 20.11-15. Novo céu e nova terra - 21.1-8. A Nova Jerusalém - 21.9 a 22.5. Encerramento e saudação final - 22.6-21. COMENTÁRIO GERAL APRESENTAÇÃO DE JESUS NO APOCALIPSE 1.5 - Fiel testemunha, primogênito dentre os mortos, soberano dos reis da terra. 1.13 - Semelhante a filho de homem. 2.18 - Filho de Deus. 3.14 - Amém, testemunha fiel e verdadeira, princípio da criação de Deus. 5.5 - Leão da Tribo de Judá, Raiz de Davi. 5.6 - Cordeiro 6.1 - Cordeiro (e em muitos outros versos). 12.5 - Filho varão 17.14 - Cordeiro, Senhor dos senhores, Rei dos reis. 19.11 - Fiel e verdadeiro. 19.13 - Verbo de Deus. 19.16 - Rei dos Reis, Senhor dos senhores. 22.16 - Raiz, geração de Davi, brilhante estrela da manhã. CARTAS ÀS 7 IGREJAS Esta é a parte mais simples e, consequentemente, a mais citada do Apocalipse. O livro foi enviado às 7 igrejas da Ásia e para cada uma delas havia uma mensagem específica. As cartas seguem quase sempre este esboço: Destinatário: o anjo da igreja (seu líder). Autor: o Senhor Jesus. Conhecimento do Senhor sobre a igreja. Elogio em relação às qualidades da igreja.. Repreensão contra os erros da igreja. Aviso sobre a vinda do Senhor e o juízo divino. Conselho para solução dos problemas mencionados. Promessa aos vencedores. A igreja de Filadélfia não foi repreendida. A de Laodicéia não recebeu nenhum elogio. Curiosamente, um sínodo realizado em Laodicéia no século IV negou reconhecimento ao Apocalipse como livro canônico [Champlin]. Em algumas das cartas, percebemos uma relação direta entre a apresentação que o Senhor faz de si mesmo e o conteúdo da mensagem. Éfeso Candeeiro em 2.1 e 2.5 Esmirna Morte e vida em 2.8 e 2.10-11 Pérgamo Espada em 2.12 e 2.16 Filadélfia Porta aberta ou fechada em 3.7 e 3.8. Nas outras cartas, essa relação não está tão clara. Talvez, tenhamos perdido um pouco das características originais quando o texto foi traduzido. Entre as teorias existentes sobre as 7 igrejas destacam-se as seguintes: Teoria 1 - As 7 igrejas representam a história judaica. Observe a citação de Balaão, Jezabel, sinagoga, etc. Não nos parece razoável essa suposição. Teoria 2 - As 7 igrejas representam a história eclesiástica. Cada igreja representaria um período da história da igreja desde o seu nascimento até a vinda de Cristo. Alguns defensores dessa idéia chegam a dividir a história entre as igrejas. Uma das divisões sugeridas é a seguinte: Éfeso (até o ano 100 d.C.); Esmirna (100-316); Pérgamo (316-500); Tiatira (500-1500); Sardes (1500-1700); Filadélfia (1700-1900); Laodicéia (1900 - fim). Tal possibilidade é bastante interessante, mas não encontramos fundamentos suficientes para comprová-la. Por outro lado, a colocação de datas é bastante temerária. Por mais razoável que possa ser tal interpretação, não podemos perder de vista o fato de que a mensagem de Deus é para nós hoje. Teoria 3 - As 7 igrejas são apenas aquelas da Ásia, às quais o Apocalipse foi endereçado. Essa posição é literal e perfeita em sua afirmação. Contudo, se a aplicabilidade das cartas fosse restrita àquelas igrejas, então não haveria motivo para que tais mensagens chegassem às nossas mãos. Enfim, todo o livro de Apocalipse nos seria estranho e inútil, pois foi originalmente destinado às 7 igrejas da Ásia. O entendimento literário está exato, mas não podemos desconsiderar o peso simbólico do texto. O próprio número 7, significando perfeição, totalidade ou plenitude, faz com que as 7 igrejas representem a totalidade da igreja de Cristo em todos os tempos e em todos os lugares. A ADORAÇÃO NO APOCALIPSE A adoração é elemento de grande destaque no Apocalipse. O tema central é o combate entre o bem e o mal. Os seres humanos ou celestiais demonstram seu posicionamento nesse conflito através da adoração que prestam. Um dos grandes desejos de Satanás é conseguir para si a adoração que é devida a Deus (Mt.4.9). TEXTO ADORAÇÃO A Apc.4.10 Deus Apc.5.12-14 Deus e o Cordeiro Apc.9.20 Demônios e ídolos Apc.11.1,16 Deus Apc.13.4 O dragão e a besta. Apc.13.12 A besta Apc.13.15 A imagem da besta Apc.14.2 Deus Apc.14.9,11 A besta e sua imagem. Apc.16.2 A imagem da besta Apc.19.4 Deus Apc.19.10 Um anjo (recusada) e Deus Apc.19.20 A imagem da besta Apc.20.4 A besta e sua imagem Apc.22.8-9 Um anjo (recusada) e Deus Em Apocalipse 8.1 verificamos que houve silêncio no céu durante meia hora. Isso nos faz deduzir que existe um som de louvor e adoração constante no céu. João viu os 24 anciãos e os seres viventes que adoravam a Deus e ao Cordeiro. As impressionantes profecias do livro estão intercaladas com manifestações de adoração e cânticos. Em sua visão do céu, João viu um santuário e peças que nos lembram o tabernáculo e o templo do Velho Testamento. Existe no céu um lugar de culto utilizado pelas hostes celestiais. Ali também adoraremos a Deus e ao Cordeiro pelos séculos dos séculos. AMOR E JUÍZO João, o discípulo amado, fez do amor um de seus principais temas, seja no seu evangelho ou em suas epístolas. Em Apocalipse, porém, o amor de Jesus e da igreja é mencionado apenas até o capítulo 3. Ao falar à igreja de Filadélfia, Jesus declara: "Eu te amo." (Apc.3.9). Filadélfia significa "amor fraternal". A partir do capítulo 4, o tom da mensagem muda completamente. Não mais se menciona o amor de Deus mas apenas sua justiça. A santidade divina foi afrontada pelo pecado. Sua ira manifesta sua justiça através de guerras, pestes e catástrofes naturais. Sabemos, porém, que o amor de Deus é eterno e sua manifestação ocorre através das bodas do Cordeiro e da recepção dos salvos na glória. VISÃO GERAL - uma hipótese de interpretação A experiência pessoal de João pode representar a experiência da igreja. No início do livro ele se encontra vivendo sua própria tribulação, preso e exilado. Então o Senhor Jesus vem até ele. No capítulo 4, João é arrebatado ao céu e passa a ver o derramamento da ira divina sobre a terra. Assim, a vinda de Cristo proveria socorro à igreja atribulada, levando-a consigo no arrebatamento. Em seguida, a terra ficaria submersa na Grande Tribulação. Tal interpretação é frágil em sua consistência pois o texto bíblico não diz que João possa estar representando a igreja. Os que defendem o paralelo na questão do arrebatamento de João, chamam a atenção para o fato de que a partir do capítulo 4 a igreja não é mais mencionada com este nome dentro do ciclo de visões do Apocalipse. Supostamente, teria sido encerrado seu período histórico terreno representado pelas 7 cartas. Os fatos apresentados em relação à igreja são bíblicos. A dificuldade está em localizá-los em determinados símbolos e estabelecer-lhes a ordem de ocorrência. De acordo com esta hipótese, que é muito aceita e essencialmente futurista, a abertura do primeiro selo seria o início da Grande Tribulação (Ap.7.14), que incluiria os selos, as trombetas, as taças e todos os flagelos destinados aos ímpios e às forças do mal. No meio da cena encontram-se o dragão e as duas bestas tentando usurpar a glória que é devida ao Cordeiro. O dragão é Satanás. As duas bestas são o Anticristo e o Falso Profeta. Durante a Grande Tribulação muitos seriam salvos e morreriam por sua fé. Enquanto isso, estaria acontecendo no céu as bodas do Cordeiro. Ao fim desse período, Cristo desceria do céu para aniquilar a besta e o falso profeta. O dragão seria preso por mil anos e nesse período Cristo reinaria com todos os santos sobre a terra. Estaria encerrada a Grande Tribulação e inaugurado o milênio, ao fim do qual, Satanás seria solto e tentaria novamente uma reação contra Cristo. Entretanto, seus agentes seriam consumidos antes de iniciarem a batalha. Na seqüência ocorre o juízo final, que será o julgamento de todos os homens. Aqueles cujos nomes não se encontram no livro da vida serão lançados no lago de fogo, onde serão atormentados eternamente. Em seguida, João vê a Nova Jerusalém. Essa passagem é vista como uma descrição do estado eterno dos salvos. A cidade seria o lugar onde viveremos para sempre com Cristo. QUESTIONAMENTOS E OBSERVAÇÕES Algumas dessas afirmações são amplamente aceitas. Tal arranjo escatológico pode parecer bastante apegado ao texto. Contudo, observamos que essa interpretação contém alguns pontos questionáveis e incertos. Outros parecem perfeitos. A primeira dificuldade é entender o arrebatamento de João como arrebatamento da igreja, conforme já mencionamos. O arrebatamento de João se deu antes de se tocarem as 7 trombetas. Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, disse que o arrebatamento da igreja aconteceria quando a última trombeta fosse tocada. Disse também que a ressurreição dos santos acontecerá antes do arrebatamento. Encaixando isso no quadro apocalíptico, teríamos o arrebatamento da igreja junto com a ressurreição no capítulo 20. Sendo assim, a igreja teria participado ou, pelo menos, presenciado a Grande Tribulação. Em Mateus 24, Jesus menciona a Grande Tribulação (v.21) antes do fato que parece ser o arrebatamento (v.31). No meio da tribulação estarão os escolhidos (v.22). Estes podem indicar toda a igreja, mas alguns comentaristas dizem que são apenas os que forem salvos durante o período. Outro problema ocorre em relação à Nova Jerusalém do capítulo 21. Considerando a hipótese de que o livro apresenta os fatos em ordem cronológica, então, ao chegarmos ao capítulo 21, já passamos pelo milênio e pelo juízo final. A Nova Jerusalém descreve então o estado eterno dos salvos. Contudo, o texto cita ainda nações que vivem fora da cidade santa, às quais se destinam as folhas da árvore da vida, afim de que sejam curadas. Esses detalhes parecem ameaçar o quadro escatológico descrito. Se os ímpios já estão no lago de fogo e os salvos estão na Nova Jerusalém, que nações são essas que o autor cita? Uma solução proposta é que o relato sobre a Nova Jerusalém se refira ao milênio e não ao estado eterno. Sendo assim, o texto não se encontraria em ordem cronológica. Observamos que o Apocalipse não contém as expressões: "juízo final", "Anticristo", "milênio" ou "arrebatamento". Então, de onde tiramos tal vocabulário? Das interpretações correntes, que, de tanto serem faladas, já se confundem com o próprio texto bíblico. Sabemos que a idéia de "milênio" e "juízo final" encontra-se em outras palavras no capítulo 20. O verbo "arrebatar" é encontrado em Ap.1.10; 4.2; 12.5,15, podendo ser substituído dependendo da versão utilizada. Trata-se dos arrebatamentos de João, do Filho Varão, e uma tentativa de Satanás no sentido de arrebatar a mulher. Outra situação semelhante, mas com verbo diferente, trata da subida das duas testemunhas ao céu. Não obstante, cremos no arrebatamento da igreja, o qual ser encontra de forma mais clara em I Tessalonicenses 4.17. Sobre o Anticristo falaremos de modo mais específico. Todo esse questionamento, feito por comentaristas e teólogos, cria uma série de correntes de interpretação designadas como: milenistas, pré-milenistas, amilenistas, pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas, etc. O ANTICRISTO E O FALSO PROFETA O único autor bíblico que usa a palavra "anticristo" é João, mas não no Apocalipse. A citação é nas epístolas. Tal personagem escatológico é normalmente entendido como sendo o "iníquo" ou "homem do pecado" ou "filho da perdição" mencionado por Paulo (II Tss.2.3,8). Da mesma forma, a besta que sobe do mar, em Apc.13, é identificada pelos intérpretes como o Anticristo. Embora o texto não diga isso, o modo de agir da besta parece dize-lo. Sua ação é sobretudo anti-cristã. A besta quer para si a adoração que é devida ao Cordeiro. Então, encaixa-se no perfil traçado por Paulo. Quem é o Anticristo? Alguns dizem que é um sistema político, mas a maioria dos estudiosos o vêem com sendo um homem. Isto é bastante coerente com as citadas palavras de Paulo. O texto de II Tessalonicenses não é essencialmente simbólico. Então, quando o apóstolo diz que é um homem, devemos entender literalmente. Afinal, aquela igreja já estava com muitos problemas de entendimento escatológico e Paulo precisava ser o mais claro possível. Se o Anticristo é um homem, quem é ele? Não nos arriscaremos a responder tal pergunta, mas muitos já se arriscaram no decorrer da história. Sempre há quem queira "eleger" um Anticristo. Quando João escreveu, ele poderia estar se referindo a Nero ou a Domiciano, sem prejuízo do sentido escatológico da profecia. O culto ao imperador era uma prática oficial no Império Romano. Domiciano, aquele que provavelmente mandou João para Patmos, considerando-se um deus, mandou que imagens suas fossem espalhadas pelo Império. Os que se recusavam a adorá-las eram condenados à morte. Portanto, aquele imperador se encaixou no perfil do Anticristo. O próprio João disse que muitos "anticristos" tinham se levantado (I João 2.18,22; 4.3; II João 7). Contudo, é bastante aceita a crença numa personificação do mal através de um Anticristo escatológico, aquele que estará no mundo no dia da segunda vinda de Cristo (II Tss.2.8). Hitler, alguns líderes religiosos e outros malfeitores da história foram apontados como sendo o Anticristo. Porém, Jesus não voltou em suas épocas e o "cargo" ficou para outra pessoa. Conquanto não possamos identificar o Anticristo, sabemos contudo as linhas gerais do seu caráter e atuação. Através das interpretações mais aceitas, compreende-se que ele poderá ser um líder político de projeção mundial. O atual fenômeno da globalização seria ideal como preparação para um governo mundial. Os conflitos internacionais e a fome seriam solucionados por algum tempo mediante um plano econômico extraordinário. A besta que sobe do mar (Ap.13.2) receberá o poder do dragão (Satanás) e em seu nome dominará sobre toda tribo, povo, língua e nação (13.7). A interpretação desse texto é feita normalmente em relação com a profecia das setenta semanas de Daniel (9). Em todas as épocas da história, o poder político teve alguma ligação com o poder religioso. Os déspotas eram avalizados pelo clero. Assim, o povo reconhecia o origem divina da autoridade absoluta e permanecia submisso. Da mesma forma, o Anticristo precisará do Falso profeta, que é a besta que sobe da terra. O Falso Profeta parece representar o poder religioso que fará parceria com o Anticristo, talvez numa manifestação ecumênica. BABILÔNIA X NOVA JERUSALÉM A Babilônia do Apocalipse parece ser a "sede de governo do Anticristo". Nos dias de João, era uma referência a Roma (Ap.17.9,18), capital do Império, lugar onde se encontrava Domiciano, que se fazia passar por deus. A Babilônia representa a independência humana em relação a Deus, e isso significa rebeldia. A origem de Babilônia foi Babel, lugar onde Ninrode, descendente de Cão, construiu sua cidade, tornou-se célebre, e projetou uma torre para alcançar o céu por suas próprias forças. Babilônia tem sua própria organização. Sua política (Ap.17.12) e seu comércio funcionam muito bem. O comércio, prática tão comum na vida humana, toma aspectos malignos quando se comercializa o que não deveria ser vendido. Por exemplo, podemos mencionar o episódio quando Esaú vendeu seu direito de primogenitura. Assim, o comércio da grande Babilônia inclui uma abominável troca de valores. O ápice de tal negociação é expresso através do comércio de almas humanas (Apc.18.13). A mais clara forma de comércio de almas é através de uma falsa religião que se pratica apenas por motivos financeiros. O que será a Grande Babilônia? Uma hipótese é que a cidade com esse nome, às margens do Rio Eufrates, hoje reduzida a ruínas, venha a ser reconstruída e volte a ter projeção mundial. Outra teoria associa a cidade a uma religião de alcance mundial. Como religião mundial, alternativa plausível, a Grande Babilônia poderia ser vista como uma falsa igreja, em contraposição à Nova Jerusalém, que desce do céu. João viu as duas cidades e seus destinos. A Nova Jerusalém é a noiva. Babilônia é meretriz. A Grande Babilônia será destruída pelos juízos divinos, enquanto que a cidade santa será a morada de Deus e do Cordeiro. A Nova Jerusalém muitas vezes é tomada de forma literal. É vista como uma cidade onde os salvos vão morar. Contudo, o texto é carregado de símbolos, levando a crer que própria cidade é apenas um símbolo da igreja triunfante. Veja o paralelo. NOVA JERUSALÉM IGREJA Chamada noiva e esposa do Cordeiro (Ap.19.7; 21.2,9; 22.17) Chamada noiva de Cristo (Ef.5.25-26). Possui 12 fundamentos (Ap.21.14) Fundada sobre os 12 apóstolos (Ef.2.19-21) OS PARÊNTESES DO APOCALIPSE O relato de João parece apresentar uma série de fatos que vão ocorrendo de modo consecutivo, embora exista uma hipótese de que as várias visões apocalípticas se refiram aos mesmos fatos históricos. Assim, as 7 trombetas, as 7 taças e os 7 selos seriam diferentes versões dos mesmos juízos. Uma base para esse tipo de visão está em Gênesis 41, onde "vacas" e "espigas" eram dois símbolos para um só fato. De qualquer forma, o texto apresenta uma seqüência e esta parece interrompida em alguns pontos. João interrompe a narrativa sobre as catástrofes mundiais para falar sobre o anjo e o livrinho no capítulo 10, as duas testemunhas no capítulo 11, e a mulher e o dragão no capítulo 12. - Comer o livrinho significa tomar conhecimento das profecias acerca dos últimos dias. O livro é doce na boca mas amargo no ventre. A mensagem apocalíptica fala de esperança e glória, mas também de grande tribulação. - As duas testemunhas são objeto de muita polêmica. Eis algumas interpretações sugeridas: "Moisés e Elias", "Enoque e Elias ". Os fatos mencionados no capítulo 11 nos fazem lembrar as experiências de Moisés e Elias narradas no Velho Testamento. Contudo, tais testemunhas serão mortas. Os melhores candidatos então seriam pessoas que nunca experimentaram a morte. Logo, são mencionados Enoque e Elias. Alguns eruditos se recusam a ver as duas testemunhas como dois homens. Daí surgem outras hipóteses. Seriam elas o Velho e o Novo Testamento? Tal sugestão não parece razoável. Há quem entenda que as testemunhas sejam apenas um símbolo da igreja em seu papel de evangelização. - O dragão do capítulo 12 é Satanás. A mulher representa a nação de Israel. O Filho Varão é Cristo. O resto da semente parece representar a igreja. As menções a Israel no Apocalipse constituem pontos de dúvida. Elas podem se referir à nação de Israel ou simplesmente à igreja, o "novo Israel". Assim acontece com os 144 mil eleitos de Deus (Apc.7.4). São 12 mil de cada uma das tribos. Como sabemos, tais números têm valor simbólico. Portanto, não faz sentido pensarmos que 144 mil seja o número final dos salvos. Na seqüência do mesmo capítulo, João vê os remidos de toda tribo, língua, povo e nação, cujo número era incontável (Apc.7.9). CONCLUSÃO O Apocalipse trata dos últimos lances da guerra histórica entre o bem e o mal. Satanás usa suas últimas armas durante o tempo que lhe resta. Contudo, a vitória divina é inevitável. Em meio a todo esse combate estão os homens, servindo a um dos lados. A mensagem apocalíptica é um aviso divino para a humanidade. Não existe esperança para as forças demoníacas, mas para os homens sim. Ignorar o Apocalipse seria como rasgar uma notificação judicial sem tê-la lido. O prazo está se esgotando. Ainda que o mundo dure mais 1000 anos, é o nosso tempo de vida que determina nossa chance de deixar o mal e escolher o bem. O arrependimento é também um tema em destaque no Apocalipse (2.5,16,21,22; 3.3,19; 9.20,21; 16.9,11). Deus poderia extinguir a raça humana em um instante. Porém, ele manda seus castigos aos poucos, esperando que os homens sintam a culpa pelo pecado e se arrependam. Devemos ouvir a sua voz enquanto temos tempo. Antes que o juízo venha, existe uma porta aberta para o Reino de Deus através do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. "O Espírito e a noiva dizem: Vem. Quem ouve diga: Vem. Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida." (Ap.22.17). Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor: Anísio Renato de Andrade - Bacharel em Teologia.

JUDAS

Autor: Judas, irmão de Jesus. Data: entre 64 e 70 d.C. Tema: Defesa da fé cristã. Palavra-chave: guardar. Texto chave - 3,4. ESBOÇO 1 - Saudações - 1-2. 2 - Defesa da fé cristã - 3-4. 3 - Os deturpadores do evangelho - 5-16. 4 - Instruções práticas - 17-23. 4 - Doxologia - 24-25. GUARDADOS EM CRISTO JESUS (v.1). Estar em Cristo, expressão importante na teologia de Paulo, é uma realidade espiritual que expressa nosso vínculo com Jesus e nossa posição espiritual. Trata-se de uma união mística. Estamos ligados a ele como os membros se ligam ao corpo e este à cabeça ou como os ramos se ligam à videira. Judas diz que estamos guardados em Cristo. Ele é o nosso refúgio, nossa fortaleza. Lendo apenas o versículo 1 e o 24, poderíamos pensar que a nossa situação e futuro dependem unicamente de Deus. Se assim fosse, não precisaríamos de tantas palavras de advertência como temos na bíblia. Contudo, o verso 20 muda a conjugação verbal e nos exorta dizendo: "Guardai-vos no amor de Deus" (ou conservai-vos). O autor nos repassa uma grande responsabilidade no sentido de nos mantermos na posição que obtivemos em Cristo mediante a salvação. Nosso estar em Cristo pode ser comparado à condição da família de Noé dentro da arca, a qual representou a salvação daquelas pessoas. O problema central apresentado pela epístola de Judas é o caso daqueles que não guardaram suas posições e se perderam, tornando-se exemplos do juízo divino (v.6). O autor cita como exemplos: o povo de Israel no deserto, os anjos, Sodoma, Gomorra, Caim, Balaão e Coré. Ele fala de experiências coletivas e individuais. Menciona desde pessoas que conheciam bem pouco sobre Deus, passando por aquelas que conheciam muito e chegando a mencionar os anjos, que viam a Deus face a face. O que todos tiveram em comum foi a corrupção e a conseqüente destruição. É impressionante observarmos que o povo de Israel, por sua rebelião e incredulidade, entra para uma lista de exemplos ao lado de Sodoma e Gomorra. Da mesma forma, um profeta ganancioso, Balaão, é listado juntamente com Caim, o irmão homicida. Isso mostra que, seja qual for a nossa posição, devemos ser cuidadosos para não entrarmos nas listas daqueles que não guardaram sua condição original e se corromperam. "Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Apc.3.11). HERESIA - CAMINHO DA PERDIÇÃO Por quê alguém deixaria sua posição de obediência a Deus para se tornar um infiel? Tal pergunta fica muito difícil de ser respondida se indagarmos a respeito da queda de Satanás. Daí em diante, um dos meios mais utilizados foi a persuasão. Assim, os anjos foram levados, e também Adão e Eva. O infiel vai propagando a infidelidade. Judas estava preocupado com essa prática, pois os hereges se manifestavam dentro da igreja e ameaçavam a firmeza dos irmãos através de doutrinas erradas. A epístola diz que eles "convertem em dissolução a graça de Deus" (v.4). Aqueles falsos mestres transformavam a graça de Deus em libertinagem, como se a misericórdia de Deus representasse conivência em relação ao pecado. O fato de Deus não punir imediatamente o pecador significa que este tem oportunidade para se arrepender. Contudo, isso não significa que o juízo foi esquecido. Caso não haja arrependimento, haverá o castigo. OS MENSAGEIROS DO MAL Tais elementos são muito perigosos porque entram nas igrejas (v.12) e conseguem posições de liderança e ensino (v.8,12). A sua aparência não é ameaçadora. Pode até ser agradável. Contudo, seu procedimento denuncia seu caráter. O autor utiliza muitas figuras de linguagem para mostrar tal realidade. APARÊNCIA CARÁTER Nuvens sem água Árvores sem fruto, sem vida, sem raiz firme Ondas bravias Estrelas errantes Rochas submersas Pastores que apascentam a si mesmos A aparência pode ser muito boa, mas o conteúdo deixa a desejar. Apresentam um potencial muito grande, mas não utilizado como deveria. Por exemplo, a rocha, que poderia servir como base em uma construção, encontra-se submersa, representando um perigo oculto e fatal. As figuras de linguagem utilizadas nos falam de elementos que não se encontram fixos, não têm firmeza, encontram-se em movimento constante: nuvens levadas pelo vento, árvores que não estão presas por suas raízes, ondas do mar, estrelas cadentes. Os falsos mestres não conseguem se firmar dentro da verdadeira igreja do Senhor. Por isso é que acontecem os escândalos e eles se vão. Vemos no texto também a questão da inutilidade de tais pessoas. Uma estrela cadente não serve como ponto de referência. Ondas bravias só causam destruição. Nuvem sem água não produz chuva. Além disso, é levada pelo vento e nem sombra produz. O mesmo acontece com a árvore que, além de não ter frutos, foi arrancada. Nesse caso, o que não é útil pode se tornar uma ameaça. Então, nada lhe resta senão o fogo, que representa o juízo divino. Assim, Judas apresenta o caráter dos falsos mestres, o perigo de sua mensagem e o destino que lhes cabe, a exemplo do que aconteceu com os rebeldes israelitas do deserto, e Sodoma, Gomorra, etc. Não devemos olhar para os fracos na fé e vê-los como falsos na fé. Por isso, Judas adverte que devemos ter compaixão daqueles que estão em dúvida (v.22). Devemos salvá-los (v.23), tomando cuidado para não sermos contaminados com seus erros práticos ou doutrinários. Judas adverte a respeito dos falsos, mas tem uma expetativa positiva em relação aos verdadeiros irmãos. "Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; " (v.17). "Mas vós, amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna". (v.20-21). A conjunção "mas" introduz um texto com teor contrário ao anterior. Depois de falar sobre a mensagem, a vida e o destino dos falsos mestres, o autor exorta que os destinatários se firmassem na palavra ensinada pelos apóstolos de Cristo. Desse modo, teriam uma vida livre da corrupção e, consequentemente, seriam apresentados imaculados diante de Deus para a vida eterna. Por essa razão, Judas encerra sua epístola de modo tão exultante, com uma expressão de louvor a Deus. PARALELO ENTRE JUDAS E II PEDRO II PEDRO ASSUNTO JUDAS 2:1 Falsos mestres 1:4 2:4 Anjos que pecaram 1:6 2:6 Sodoma e Gomorra 1:7 2:10 Contaminados e atrevidos 1:8 2:11 Contenda de anjos 1:9 2:15 Animais irracionais 1:10 2:17 Caminho de Balaão 1:11 2:18 Nuvens levadas pelo vento 1:12,13 3:2-5 Falando coisas arrogantes 1:16 3:2 Lembrai-vos das palavras 1:17 3:3 Escarnecedores dos últimos tempos 1:18 Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor: Anísio Renato de Andrade - Bacharel em Teologia.

3-JOÃO

Autor: Apóstolo João Data: entre 90 e 95 d.C. Tema: Caráter cristão. Palavra-chave: verdade. ESBOÇO 1 - Saudações - 1-4. 2 - O bom exemplo de Gaio - 5-8. 3 - Diótrefes - o ambicioso - 9 - 11. 4 - Demétrio - o cristão fiel - 12. 4 - Considerações finais e saudações - 13-15. A epístola em estudo é de autoria do apóstolo João. Para confirmação compare os versículos: III João 1 II João 1 III João 13-14 II João 12 III João 11 II João 9 A terceira epístola de João é uma correspondência particular dirigida a um irmão chamado Gaio. Este nome era bastante comum naquela época. Temos sua ocorrência em At.19.29, At.20.4, Rm.16.23, I Cor.1.14, além de III João. Contudo, tais passagens não se referem sempre à mesma pessoa. Não temos muitas informações sobre Gaio, a quem João escreve. Entendemos que ele não era o líder de sua igreja local. O versículo 9 indica que o líder é outro. A QUESTÃO DA PROSPERIDADE O verso 2 diz: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai à tua alma." Este talvez seja o versículo mais conhecido dessa pequena carta, o qual é muitas vezes utilizado como apoio para a doutrina da prosperidade. Devemos observar que a única certeza do texto está relacionada à alma do destinatário, ou seja, seu bom estado interior. No mais, o verso expressa apenas o desejo de João no sentido de que Gaio tivesse boa saúde e fosse próspero em todas as coisas. Não temos ali uma promessa nem uma doutrina sobre prosperidade material. Tal êxito depende do propósito de Deus para cada pessoa. Gostaríamos de ser bem sucedidos em tudo e em todo o tempo. Porém, essa trajetória certamente será muitas vezes interrompida por tribulações, as quais fazem parte da nossa experiência cristã. ANDAR NA VERDADE (vs.3-4). Tal expressão, tão importante para João, significa praticar, viver de acordo com a verdade. O verbo andar foi também muito utilizado pelo apóstolo Paulo em seus ensinamentos sobre a vida cristã (Gál. 5.16,25; Ef.4.1; 5.15; etc.). Trata-se do "procedimento" mencionado no verso 5. PROCEDIMENTO, TESTEMUNHO E EXEMPLO (vs.3,4,6,10,12) A palavra testemunho tem destaque em todos os escritos de João, desde o evangelho até o Apocalipse. Como cristãos, damos testemunho a respeito do Senhor Jesus, e isso vai gerar um outro testemunho que será dado a nosso próprio respeito. O procedimento será observado e produzirá um testemunho positivo ou negativo. João se alegrou pelo testemunho dado pelos irmãos a respeito de Gaio. Contudo, os estranhos também dão testemunho. Nesse contexto, os "estranhos" são irmãos vindos de outros lugares. No verso 12, todos dão testemunho, inclusive o próprio apóstolo e a própria verdade. Parece que a verdade, nesse contexto, está relacionada à doutrina, a qual serviria como parâmetro para confirmar determinado testemunho. Vemos portanto, que as nossas obras geram testemunhos a nosso respeito e essas mensagens circulam rapidamente e estruturam ou derrubam nossa reputação. A epístola destaca o procedimento de Gaio, Diótrefes e Demétrio. Daí surgiram testemunhos positivos e negativos, fazendo com que essas pessoas se tornassem bons ou maus exemplos, a serem imitados ou evitados. Gaio e Demétrio são apresentados como cristãos fiéis (vs.3-6,12). Diótrefes é visto como ambicioso. Estava na liderança, mas João não o reconhece como tal. O apóstolo diz que Diótrefes "gosta de ter entre eles a primazia." (v.10). Ele gostava de ser líder, contudo não era vocacionado para aquele trabalho. Seu caráter se manifesta por suas palavras e ações: - Profere palavras maliciosas. - Não recebe o apóstolo João na igreja. É rebelde contra as autoridades espirituais. - Proíbe que os irmãos o recebam. - Exclui da igreja quem o faz. (v.10). Gaio, que já andava na verdade, deveria se inspirar nos bons exemplos (v.11).

2-JOÃO

Autor: Apóstolo João Data: entre 90 e 95 d.C. Propósito: Alertar contra os enganadores; combater a mentira. Palavra-chave: verdade. ESBOÇO 1 - Saudações - 1-3. 2 - O caminho da verdade e do amor - 4-6. 3 - Os enganadores e como tratá-los - 7-11. 4 - Saudações - 12-13. O autor não menciona seu próprio nome. Apresenta-se como "presbítero", que significa "ancião", conforme já consta em algumas versões bíblicas. Os anciãos, desde os tempos do Velho Testamento, eram os homens mais velhos, mais experientes, e, por conseqüência, líderes do povo (Êx.3.16,18; 4.29; 12.21 etc.). Ao escrever seu evangelho e epístolas, o apóstolo João já era idoso. Estando já familiarizados com os escritos do apóstolo, logo reconhecemos sinais de sua autoria na segunda epístola. Por exemplo, a ênfase sobre os temas: "verdade", "amor", "mandamento", "permanecer", e o combate às falsas doutrinas. Tudo isso constitui marca de João em seu evangelho, na primeira epístola, e também na segunda. Afinal, dos 13 versos da segunda epístola, 8 se encontram quase idênticos na primeira. Destinatária - A segunda epístola é dirigida a uma senhora e seus filhos. Tal mulher não é identificada pelas escrituras. Há quem defenda a tese de que a "senhora eleita" seja Maria, irmã de Marta, a qual estaria mencionada no versículo 13. Há quem tome o termo "senhora" em grego, kuria (kuria), considerando-o como nome próprio. Outras hipóteses sugerem que João estivesse chamando de "senhora eleita" a uma igreja específica ou à igreja em geral. Nada disso se comprova. Seguindo a mais rigorosa interpretação, não podemos afirmar qual tenha sido essa mulher. Apenas entendemos tratar-se de uma senhora que, provavelmente era viúva. Caso tivesse marido, não seria natural que o apóstolo lhe dirigisse diretamente uma carta. O texto parece indicar que em sua casa aconteciam reuniões da igreja (vs.10). De qualquer forma, trata-se de uma mulher amada e respeitada por todos os irmãos que a conheciam (vs.1). Tema - todas as epístolas de João foram escritas na mesma época. Nota-se na segunda, que os assuntos da primeira ainda persistem na mente no apóstolo. Ele ainda se mostra combativo em relação aos enganadores. Seu esforço é a favor da verdadeira doutrina de Cristo. NOSSA RELAÇÃO COM A DOUTRINA DE CRISTO Cristo veio e nos deu sua doutrina, seu mandamento, que consiste no amor a Deus e ao próximo. O amor determina nosso vínculo com Deus e com os irmãos. Já recebemos a sua doutrina. A questão agora é: vamos andar nesse mandamento? O verbo "andar" é muito utilizado por João e também por Paulo, indicando nosso modo de vida, nossas decisões, nossos rumos, nossas ações. Se praticamos a vontade de Deus, então estamos andando em espírito (Gál. 5.16), andando com Deus (Gn.5.22,24), no caminho que é Cristo (Jo.14.6). Contudo, de nada adianta estarmos no caminho por algum tempo se sairmos dele antes de chegarmos ao lugar onde ele nos levaria. Portanto, precisamos permanecer no caminho, por mais difícil que isso possa ser. Aos que permanecerem, Deus dará a devida recompensa. Os enganadores ameaçam o êxito desse processo (vs.7 a 10). Isso ocorre com aqueles que abandonam o caminho da verdade e do amor, não permanecendo na doutrina de Cristo (vs.9). Os que se desviam perdem a recompensa, perdem o fruto do seu trabalho e fazem perder-se o fruto do trabalho daqueles que os conduziram a Cristo (vs.8). João disse que alguns "vão além" da doutrina. Esta é uma forma sutil da heresia: Exigir mais do que o que Deus exigiu. Esperar mais do que o que Deus prometeu. Precisamos ser cuidadosos no sentido de não criarmos doutrinas extra-bíblicas, como se a palavra de Deus precisasse de complemento. Os que lideram precisam estar atentos em relação ao que exigem de seus liderados. Estaremos indo além da palavra de Deus? Vemos em Gênesis que, ao repetir o mandamento divino, Eva lhe acrescentou as palavras: "nem nele tocareis" (Gn.3.3). Paulo profetizou que nos últimos dias, surgiriam doutrinas de demônios, proibindo o casamento e determinando a abstinência de manjares que Deus criou para os fiéis (I Tm.4.1-3). A bíblia fala em dízimo, que significa 10%. Se alguém quiser dar 100%, fique à vontade. Será uma oferta voluntária. Entretanto, se algum líder exigir 100%, estará indo além, muito além, da doutrina bíblica. Esperar mais do que aquilo que Deus prometeu pode ser uma atitude inofensiva ou não, dependendo da situação. Se alguém espera que Deus lhe dê uma casa na praia, isso não é pecado. Contudo, não sabemos se Deus fará isso. Pode ser que sim e pode ser que não, uma vez que a bíblia nunca nos prometeu esse tipo de coisa. Então, se Deus não der, qual será a reação daquele que pediu e esperou? O problema se agrava quando esse tipo de expectativa é alimentada por formas doutrinárias, como as que temos ouvido hoje em dia, e que estão destituídas de fundamento bíblico. Esta é uma das formas de "ir além" da doutrina de Cristo. A palavra do Senhor nos ensina que ele atende aos nossos pedidos desde que estejam coerentes com a sua vontade (I Jo.5.14; Tg.4.3). A doutrina gnóstica, tão influente nos dias de João, negava a humanidade de Cristo, atribuindo-lhe apenas caráter espiritual. Era então um ensinamento espiritualista, o que, aparentemente, demonstrava elevação, desapego em relação à matéria. Estavam indo muito além da espiritualidade bíblica, a qual não nos nega o provimento às nossas legítimas necessidades físicas (I Tm.4.1-3; Col.2.16-23). O cristianismo mostra o espiritual se encontrando com a matéria. "O verbo se fez carne e habitou entre nós" (João 1.14). E este era o principal ponto negado pelos enganadores a quem João combatia (II João 7). O próprio batismo e a ceia do Senhor fazem com que os nossos corpos participem das nossas experiências com Deus. Palavras de João: "vimos com os nossos olhos... e as nossas mãos tocaram..." (I João 1.1). Era uma experiência física com o verbo encarnado. Uma espiritualidade exagerada, que vai além dos parâmetros bíblicos, é algo que deve ser questionado. Como exemplos podemos mencionar certas abstinências alimentares ou o celibato. Tudo isso pode ser praticado, desde que seja voluntário. Se for doutrina, será humana. Sobre os enganadores, aqueles que não trazem a doutrina de Cristo, João diz: "Não os recebais em casa nem tampouco os saudeis." Está estabelecido o limite para a hospitalidade cristã, tão valorizada pelos escritores do Novo Testamento. Não devemos ser tão bons ao ponto de acolher os lobos que vêm para ameaçar nossa firmeza na fé. O apóstolo não está nos aconselhando a sermos rigorosos contra os fracos na fé, mas sim contra aqueles que nos procuram com o objetivo de corromper a doutrina que recebemos do Senhor. Não trate bem uma serpente. Ela te matará na primeira oportunidade. Deduzimos que a "senhora eleita" era uma viúva. Seria mais um motivo para que ela ficasse atenta em relação àqueles que desejassem entrar em sua casa. Muitos exploradores, disfarçados de mensageiros de Deus, "devoravam as casas das viúvas" (Mt.23.14; II Tm.3.6). PALAVRAS EM DESTAQUE Verdade - II João 1,2,3,4. Mandamento - II João 4,5,6. Amor - II João 3,6 Ensino (doutrina) - II João 9,10. Permanecer - II João 2,9. Anticristo - II João 7.

1-JOÃO

AUTORIA - João, o apóstolo. Seu nome não é mencionado em suas três epístolas. Não obstante, sua autoria foi confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano. O nome "João" significa "graça de Deus". Era judeu, pescador (Mt.4.21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare Mt.27.56 e Mc.15.40). Foi chamado de discípulo amado - Jo.13.23; 19.26; 21.20. Foi o discípulo mais íntimo do Mestre. Até no momento da crucificação, João estava presente. Isso mostra sua disposição de correr risco de vida para ficar ao lado de Jesus. Apesar de ter fugido no momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo depois. Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do trovão", referindo-se ao seu temperamento indócil, tempestuoso, violento (Mc.3.17; Mc.9.38; Lc.9.54). São várias as citações a respeito de João nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é omitido no seu evangelho (João 20.2; 19.26; 13.23; 21.2). Encontram-se referências ao apóstolo também em At.4.13; 5.33,40; 8.14; Gl.2.9; 2 Jo.1; 3 Jo.1; Apc.1.1,4,9. Na segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o presbítero". Podendo se apresentar como apóstolo, demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em Apocalipse, apresenta-se como "servo". Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde morreu entre os anos 95 e 100. Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João, que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma testemunha e um mestre, dormiu em Éfeso." Palavras chave: Conhecimento (ou saber) , amor e comunhão. Data de escrita da primeira epístola - Final do primeiro século, entre os anos 95 e 100. Local de origem - Éfeso Destinatários - Por não conter saudações, despedidas ou menção de nomes, tem-se considerado que a carta foi destinada à igreja em geral. O apóstolo trata carinhosamente os destinatários como "meus filhinhos" (2.1,18,28; 3.7,18; 4.4; 5.21) e "amados" (3.2,21; 4.1,7,11). Isso parece indicar que, embora não tenha vinculado a epístola a uma comunidade específica, o autor tem em mente pessoas conhecidas, as quais seriam as primeiras a receberem aquela mensagem. CARACTERÍSTICAS A carta apresenta denúncia contra os falsos e incentivo aos verdadeiros cristãos. O autor é incisivo, direto, totalmente convicto. Sua afirmações são muito fortes no sentido de apontar o erro e a verdade. O propósito da carta está bem definido com também vimos no evangelho (João 20.31). A epístola foi escrita: 1 - "Para que a nossa alegria seja completa" - 1.4 2 - "Para que não pequeis" - 2.1. 3 - Para advertir contra os enganadores - 2.26. 4 - "Para que saibais que tendes a vida eterna" - 5.13. Entendemos que o autor estava bastante preocupado com a igreja, em seu estado presente e futuro. Os demais apóstolos já haviam morrido e falsos mestres apareciam por toda parte. Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais tranqüilo e sua alegria seria completa (1.4). Seu alerta é contra o pecado (2.1) e contra as heresias (2.26). São duas portas para o diabo entrar nas vidas e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam intrinsicamente ligadas, as heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo de pecado deve ser evitado, mas se, eventualmente, cometermos algum, confessaremos e seremos perdoados (1.7,9; 2.1). A heresia entretanto, constitui-se num caminho de afastamento de Deus. A heresia, do tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então, tem-se uma situação muito perniciosa em que a pessoa está errada mas pensa que está certa. Trata-se de um estado de pecado sem reconhecimento, sem confissão, sem arrependimento e, consequentemente, sem perdão. Aquele que passa a crer numa doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é que Deus se recuse a perdoá-lo, mas a própria pessoa não acredita na única solução divina, que é o sacrifício de Cristo. A reversão desse quadro é possível, mas muito difícil. O melhor é a prevenção contra as heresias e isso se faz através do conhecimento e apego à Palavra de Deus. CENÁRIO OBSERVADO POR JOÃO A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas cartas às sete igreja da Ásia (Apc.2 e 3). As heresias grassavam em muitas comunidades. Em Apocalipse, livro escrito na mesma época, João menciona as expressões "sinagoga de Satanás" (Ap.2.9), "nicolaítas" (Ap2.6,15), "doutrina de Balaão"(Ap.2.14), etc. O gnosticismo, sistema que mistura idéias filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era uma das principais fontes de heresias da época. Assim, muitos cristãos se tornaram gnósticos. Criam em Jesus mas negavam a realidade de sua encarnação e morte. O fato de se denominarem cristãos criava uma situação confusa. Quem eram os verdadeiros cristãos? Os que criam de uma forma ou os que criam de outra? João observou a necessidade de identificação, discernimento, definição e posicionamento. Observemos as perguntas-chave que autor apresenta: 1 - "Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?" (I Jo.2.22). 2 - "Quem é o que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (I Jo.5.5). O autor se mostra bastante interessado em mostrar "QUEM É O QUÊ". São usados pronomes demonstrativos e indefinidos para apresentar especificações bem definidas que permitem identificar os indivíduos em relação a Cristo. João usa repetidamente a fórmula: "Quem não faz isso não é aquilo". ou "Quem faz tal coisa é outra coisa". Aquele - 2.6,11,17,22,23,26,29; 3.4,6,17; 5.1,5,16,18 (Veja também II João 1.9). Alguém - 2.1,15,27; 4.20; 5.16. Quem - 4.7,8,9,10. O mentiroso e o verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em sua primeira epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação dos próprios leitores no contexto da verdade e da mentira. O exemplo clássico utilizado é o de Caim e Abel (I Jo.3.11-12), representando dois grupos de pessoas que estavam dentro da igreja. O autor identifica quem está em comunhão com Deus e quem não está. No quadro a seguir, listamos diversas expressões da epístola através das quais se traça uma linha divisória entre os dois grupos. Vamos chamá-los, alegoricamente, de "grupo de Abel" e "grupo de Caim". "Grupo de Abel" "Grupo de Caim" Vida (1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20) Morte (3.14; 5.16-17) Verdade - 1.6,8; 2.4,5,8,21,27; 3.18,19; 4.6; 5.7,20. Mentira - 1.6,10; 2.4,21,22,27; 4.20; 5.10 Erro - 4.6 Engano - 1.8; 2.26; 3.7 Verdadeiro (2.8,27; 5.20) Falso ou mentiroso (2.22) Espírito da verdade (4.6) espírito do erro (4.6) Cristo (1.3, etc) Anticristo (2.18,22) Amor ao irmão (2.10) Amor ao mundo (2.15) Sofre ódio do mundo (3.13) Ódio ao irmão (2.11; 3.15) Luz - 1.5,7; 2.8,9, 10. Trevas - 1.5,6; 2.8,9,11. É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado conversão ou, no sentido contrário, apostasia. João disse que "passamos da morte para a vida." (3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira. IDENTIFICANDO A DOUTRINA, O MESTRE E O ESPÍRITO A heresia é uma doutrina errada, mas isso pode não estar tão claro no início. O que chega até nós é simplesmente uma doutrina. Esta deve ser então identificada. Por meio dos parâmetros encontrados na epístola, o autor identifica a doutrina, o mestre e o espírito que está por trás (2.22-23, 4.1-6). As chaves identificadoras são: Relação com Cristo (2.22-23); Relação com os irmãos. (3.10,17). Relação com o mundo (2.15). Estes são os "instrumentos" que nos farão identificar a verdade e a mentira. Tais indicadores são complementares entre si. Se alguém negar que Cristo é o Filho de Deus, estará reprovado. Não está na verdade. Se alguém afirma que Cristo é o Filho de Deus mas nega sua encarnação e morte, estará reprovado. Se alguém diz ter uma fé correta a respeito de Cristo, então o próximo teste é a relação com os irmãos. Se a pessoa odeia os irmãos ou lhes nega auxílio nas necessidades, então estará reprovada. Se a pessoa ama o mundo, anda segundo o mundo, vive de modo agradável ao mundo, pecando habitualmente, então está do lado da mentira. A relações com os irmãos e com o mundo constituem evidências visíveis do tipo de relação que temos com Cristo, uma vez que esse vínculo é espiritual e invisível. O objetivo dessas colocações não é sairmos julgando as pessoas dentro da igreja. Em primeiro lugar, cada um deve julgar e purificar a si mesmo (I Jo.3.3; 5.10; I Cor.11.28,31; II Cor.13.5; II Jo.1.8). Depois, é preciso que saibamos julgar as profecias e as doutrinas que recebemos (I Cor.14.29; I Tess.5.20-21; I Cor.10.15). Se uma doutrina é contrária a Cristo, contrária à comunhão dos irmãos ou favorável ao mundanismo, então deverá ser rejeitada. Finalmente, a vida de um mestre deverá ser avaliada para que se decida sobre a sua doutrina. "Pelos seus frutos os conhecereis." (Mt.7.15-16). Muitos irmãos podem apresentar uma série de erros e até mesmo pecados por uma questão de imaturidade, fraqueza, ignorância, etc. Não devem ser alvos de julgamentos mas de orientação. O objetivo de João era alertar contra aqueles que se colocavam como mestres da igreja. ESTAR E PERMANECER - POSIÇÃO E PERSEVERANÇA No cenário da verdade e da mentira precisamos nos localizar. Onde estamos? João usa diversas vezes o verbo "estar". Em algumas delas, ele se preocupa em "localizar" espiritualmente as pessoas. Se guardamos a palavra e amamos os irmãos, isso indica que "estamos" em Cristo. Quem não ama seu irmão, "está" nas trevas. Finalizando, o autor diz que "estamos" em Cristo, que é o verdadeiro Deus. (I Jo.2.5,6,9; 5.20). Podemos ter nossa posição muito bem definida. Entretanto, vamos mantê-la? Um outro verbo muito importante para João é "permanecer". Lembre-se do capítulo 15 do evangelho de João: "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós". "Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto." "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora." "Se vós permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós pedireis o que quiserdes e vos será feito." "Permanecei no meu amor...", etc. Na primeira epístola, a ênfase continua nos seguintes textos: 2.10,14,17,19,24,27,28; 3.6,9,14,15,17,24; 4.12,13,15,16. Em todos esses versículos aparece o verbo "permanecer". Isso demonstra a preocupação do autor com a perseverança dos irmãos no caminho da verdade. (Veja também II João 1.2,9). COMBATE AO GNOSTICISMO João se mostrou bastante combativo em relação ao gnosticismo. Esta palavra vem do termo grego "gnosis" que significa "conhecimento". Os gnósticos criam e ensinavam que a salvação da alma dependia do conhecimento de alguns mistérios só revelados aos que participavam de seus rituais de iniciação. O apóstolo usou então a mesma palavra, "conhecimento", para combater as heresias gnósticas. Tanto no evangelho como na primeira epístola, ele mostrou o que realmente importa conhecer: A verdade, que é o próprio Cristo e o amor, que é o próprio Deus. O conhecimento sem amor pode causar tragédias. A bomba atômica é um exemplo clássico. O verbo "conhecer" aparece nos seguintes versículos: I Jo. 2.3,13,14,18,20; 3.1,6,16,19,20,24; 4.2,6,7,8,13,16; 5.2.20. (II João 1.1). A carta destaca também a palavra "luz", que também é um símbolo do conhecimento: 1.5,7; 2.8,9, 10. Outro verbo similar é o "saber". Essa palavra tem um sentido muito forte, pois não admite dúvida, insegurança, medo nem ignorância. O comentário da Bíblia Thompson chama a primeira epístola de João de "a carta das certezas". O autor usa o verbo "saber" de uma forma bastante clara e determinada. (I Jo.2.3,5,11,21,29; 3.2,5,14,15; 5.15). Ele diz: "Sabemos que somos de Deus." Não estamos perdidos nem confusos. SABEMOS quem somos, onde estamos e para onde vamos. O gnosticismo afirmava que o mal residia na matéria. Portanto, negavam que Deus pudesse se encarnar. Em relação a Cristo, João escreveu: "nós ouvimos, vimos, contemplamos, nossas mãos tocaram..." (I Jo.1.1-3). Ou seja, o apóstolo estava afirmando insistentemente que o corpo de Cristo era matéria, pois poderia ser tocado, como de fato o foi. Não se tratava de um espírito, uma aparição, como os gnósticos afirmavam. (I Jo.4.2; 5.6) OUTRAS PALAVRAS, EXPRESSÕES E CONCEITOS EM DESTAQUE VIDA - 1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20 Vida de Deus para nós por meio de Cristo. MUNDO - nosso posicionamento: não amamos o mundo; somos odiados por ele; haveremos de vencê-lo (I Jo.2.2,15,16,17; 3.1,13,17; 4.1,3,4,5,9,14,17; 5.4,5,19). VERDADEIRO - Mandamento - 2.8. Luz - 2.8. Unção - 2.27. Jesus - 5.20. Deus - 5.20. AMOR ( e verbo amar) 2.5,10,12,15; 3.1,10,14,16 (x Jo.3.16). 3.17,18,23; 4.7,8,9,10,11,12,16,17,18,19,20,21; 5.1,2,3. (Obs. II Jo.1,3,6 III Jo.1,6,7 Apc.2.3,4,19; 3.9,19). São da autoria de João alguns dos mais famosos versículos bíblicos sobre o amor: "Deus é amor" e "Porque Deus amou o mundo de tal maneira..." Na primeira epístola, o autor usa o verbo amar em diversas conjugações: ama, ameis, amamos, amemo-nos, amado, amados, amou, amar-nos, amo, amar, ame, amemos. O amor vem de Deus, através de Jesus. "Ele nos amou primeiro". Daí em diante, o amor deve ter livre curso em direção aos irmãos, mas não em direção ao mundo. O amor deve "circular como sangue" no Corpo de Cristo, que é a igreja. COMUNHÃO - 1.3,6,7. MANDAMENTO(s) - 2.3,4,7,8; 3.22,23,24; 4.21; 5.2,3. O QUE SE DIZ E O QUE SE É - 1.6,8,10; 2.4,6,9; 4.20; MANDAMENTOS NEGATIVOS NÃO AMEIS o mundo - 2.15. NÃO CREIAIS a todo espírito - 4.1. O amor e a fé só são positivos quando bem direcionados.

2-PEDRO

Autoria No primeiro versículo, o autor já se apresenta como "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo." Pouco adiante, Pedro menciona que presenciou o episódio da transfiguração (I Pd.1.16-18; Mt.17.5). No capítulo 3, versículo 1, o autor se refere à primeira epístola. Data - 64 d.C. Destinatários - por 3.1 entendemos que os destinatários são os mesmos da sua primeira carta: cristãos dispersos na Ásia Menor. O primeiro versículo do livro parece sugerir que o autor pretendia que seu escrito tivesse um alcance maior: ele se dirige "aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa..." Temas e Objetivos - Animar os irmãos (cap.1); Denunciar os falsos mestres (cap.2); Falar sobre a segunda vinda de Cristo. Textos chave - 2.1 e 3.1-4. ESBOÇO Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo - 1.1-21. Caminho 2 - Os falsos mestres - denúncia - 2.1-22. 3- A segunda vinda de Cristo e o juízo - 3.1-18. A segunda epístola de Pedro nos fala de dois caminhos. O primeiro, apresentado no capítulo 1, é chamado de "caminho da verdade" (2.2), "caminho direito" (2.15) e "caminho da justiça" (2.21). Embora essas expressões estejam no capítulo 2, é no início da carta que o autor fala sobre o procedimento do cristão. O outro caminho, o dos falsos mestres, é apresentado no capítulo 2 e chamado "caminho de Balaão" (2.15). É interessante notarmos que, ao falar do caminho de Balaão, Pedro não está se referindo àqueles que nunca conheceram o Senhor, mas ele fala de pessoas que foram resgatadas (2.1), mas desviaram-se das veredas da justiça (2.15,20,21,22). O próprio Balaão era um profeta verdadeiro até que, pelo interesse financeiro, desviou-se da verdade. Em cada um desses caminhos temos: ponto de partida, modo de caminhar e ponto de chegada, conforme fica evidente na epístola. 1 - Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo - 1.1-21. O capítulo 1 está falando da trajetória cristã. O ponto de partida está em 1.4: "...havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo". Trata-se da conversão. Quem se converte não pode achar que já tem tudo o que Deus pode oferecer. A partir do versículo 5, o autor apresenta uma lista de qualidades ou capacidades que devem ser alcançadas pelo cristão. Aquele se converte tem fé. A fé foi alcançada (1.1), mas ela não é um fim em si mesma. Pelo contrário, é o início de uma jornada. Com diligência (ou zelo) (1.5), o cristão deve buscar: virtude (bondade ou bom procedimento), conhecimento, temperança (ou domínio próprio), paciência (ou perseverança), piedade, amor fraternal (fraternidade), amor (ágape). Essas qualidades são mutuamente dependentes e complementares. Pedro está propondo um plano de crescimento, o qual deve ser o alvo de todo cristão. É desse modo que a natureza divina se desenvolve em nós (1.4). A fé sem conhecimento pode resultar em fanatismo e heresia. O conhecimento sem fé é intelectualismo ou legalismo. Imaginemos que alguém tem fé, conhecimento, mas não tem amor. Tal pessoa pode ser perigosa, tornando-se um manipulador e até mesmo agressor. Quando Tiago e João quiseram pedir fogo do céu para destruir os samaritanos, eles demonstraram que tinham conhecimento e muita fé, mas nenhum amor ao próximo, nenhuma bondade, nenhuma paciência, nenhum domínio próprio. Felizmente, Jesus impediu aquela tragédia e, mais tarde, aqueles discípulos aprenderam a amar. No relato de toda essa experiência cristã, Pedro utiliza diversas palavras que podem ser divididas em dois grupos: ações divinas e ações humanas. O início da nossa caminhada se dá pela operação do "divino poder" do Senhor (1.3). A partir daí, o homem tem muito a fazer. PARTE DIVINA PARTE HUMANA Seu poder (1.3) Empregando diligência (zelo) (1.5) Seus dons (1.3) - ele nos deu tudo. Acrescentai bondade, conhecimento, temperança, paciência, piedade, amor fraternal, amor ágape. (1.5) Sua glória (1.3) Procurai confirmar vossa vocação e eleição (1.10) Sua virtude (1.3) Suas promessas (1.4) Sua natureza (1.4) Sua vocação (1.10) - ele nos chamou Sua eleição (1.10) - ele nos elegeu Se Pedro estava exortando (1.12-15) os irmãos a fazerem a sua parte no que diz respeito ao crescimento espiritual, é porque eles poderiam, depois de tudo o que Deus fez, ter cruzado os braços e parado no meio da estrada. Nesse caso, o resultado seria: a visão curta ou mesmo a cegueira espiritual, o esquecimento das primeiras experiências com Deus e o tropeço que poderia levar à queda (1.9-10; 3.17). Os tempos e modos dos verbos encontrados no texto nos ajudam a ver uma trajetória traçada e uma ordem de avanço. Alguns verbos estão no passado, indicando o lugar de onde saímos e aquilo que Deus já fez por nós. Alguns deles, no pretérito perfeito, indicam ações consumadas por Deus. È algo que foi feito e não se vai se repetir. Outros verbos estão no gerúndio e indicam uma ação constante. É presente, mas ainda não foi encerrada. São ações contínuas de Deus a nosso favor e ações contínuas da nossa parte em busca do alvo. Outros verbos estão no futuro e apontam para o resultado desejado. Destacam-se também aqueles que estão no modo imperativo e indicam ordem para que avancemos em nosso caminho com Deus. PASSADO PRESENTE CONTÍNUO IMPERATIVO FUTURO Alcançaram fé (1.1) Nos tem dado promessas (1.4) Acrescentai (1.5) Não vos deixarão ociosos (1.8). Nos deu tudo (1.3) Empregando diligência (1.5) Procurai (1.10) Jamais tropeçareis (1.10) Nos chamou (1.3) Vos será concedida entrada no reino (1.11). Havendo escapado da corrupção (1.4) Lendo o quadro anterior, cada coluna, da esquerda para a direita, percebemos a idéia de movimento, de progresso com o passar do tempo. No caminho da vida cristã, o modo de caminhar se define por alcançar, praticar e manter as qualidades e capacidades já mencionadas. Esse deve ser o nosso modo de vida (3.11). O ponto de chegada ou objetivo a ser alcançado pode ser compreendido através das expressões: "para que por elas vos torneis participantes da natureza divina" (1.4), ".. não vos deixarão ociosos nem infrutíferos" (1.8) e "vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (1.11). 2 - Caminho 2 - Os falsos mestres - denúncia - 2.1-22. No capítulo 2, o autor muda para um assunto extremamente oposto ao que estava sendo tratado até então. Seu conteúdo é muito semelhante à epístola de Judas. Enquanto que no capítulo 1, Pedro falava a respeito dos cristãos fiéis, agora ele passa a se referir aos falsos mestres, seu caráter, suas obras e o conseqüente castigo. Esses são os que andam pelo "caminho de Balaão" (2.15). Sabendo de sua morte iminente (1.14), o autor está preocupado com aqueles que talvez o sucederão e aos demais apóstolos na liderança da igreja. Os falsos mestres: Foram resgatados mas desviaram-se (2.1,15,19,20,21,22). Contudo, continuam dentro das igrejas (2.1,13). Estão na liderança (2.2 - muitos os estão seguindo). Seu interesse primordial é o dinheiro. Assim como Balaão (2.3,14,15). São comparados aos anjos caídos, aos contemporâneos de Noé e aos habitantes de Sodoma e Gomorra (2.4,5,6). O ponto de partida desse caminho é o mesmo daqueles mencionados no primeiro capítulo. Já que foram resgatados (2.1), o lugar de onde saíram está identificado como as "contaminações do mundo", de onde escaparam mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo (2.20). Contudo, desviaram-se da rota traçada pelo Senhor (2.15), sendo envolvidos e vencidos pelo mundo, terminando por se afastarem do santo mandamento de Deus (2.20-21). O seu modo de caminhar é identificado através de seu comportamento. O texto apresenta verbos e adjetivos que nos fazem compreender o caráter desses homens: - Falsos, dissimulados, hereges, destruidores, negam a Cristo, libertinos, avarentos, mentirosos, fazem comércio de vidas, são carnais, seguem paixões imundas, são rebeldes, atrevidos, obstinados, como animais irracionais, blasfemos, injustos, luxuriosos, enganadores, adúlteros, insaciáveis, malditos, vaidosos, arrogantes, inconstantes, escravos da corrupção (2.1,2,3,10,12,13,14,18,19; 3.3). Tais palavras variam um pouco de uma versão bíblica para outra. - Apesar de todo esse conteúdo maligno, tais homens apresentam uma aparência positiva. Afinal, são líderes, são mestres, e prometem liberdade aos seus seguidores (2.1,2,19). São fontes... sem água. São nuvens .... também sem água (II Pd.2.17; Jd.12). O aspecto é promissor mas não produzem nada de positivo. Dentre tantas características apresentadas, percebemos que se destacam as atitudes desses falsos mestres em relação à autoridade, ao dinheiro e ao sexo. Eles são rebeldes, avarentos e adúlteros, entre outros adjetivos a estes relacionados. O ponto de chegada desse caminho está demonstrado pelas expressões: "... a sentença..." (2.3). "... a perdição..." (2.3). "... inferno..." (2.4). "... cadeias da escuridão..." (2.4). "... juízo.." (2.4). "... destruição..." (2.6). "... o dia do juízo, para serem castigados." (2.9). "... a negridão das trevas" (2.17). "... o último estado pior do que o primeiro" (2.20). "... juízo e destruição..." (3.7). 3 - A segunda vinda de Cristo e o juízo - 3.1-18. Pedro encerra sua obra com um capítulo escatológico. Após ter falado sobre dois caminhos, dois tipos de vida, o apóstolo fala sobre a segunda vinda de Cristo (3.4) e, novamente, trás à tona o tema do juízo, comparado ao dilúvio dos dias de Noé (3.7). Está em destaque a aparente demora da "parousia". Pedro adverte que o tempo de Deus é diferente do nosso. "Um dia para Deus é como mil anos e mil anos como um dia". (3.8). Sobre a segunda vinda precisamos de duas atitudes: fé e paciência. A aparente demora de Deus é manifestação da sua misericórdia. Ele está dando tempo para muitos ainda se arrependam e se convertam (3.9). Enquanto que o dilúvio foi a destruição dos ímpios e suas obras através da água, Pedro nos diz que o fim desta nossa era se dará por meio de um "dilúvio de fogo". O apóstolo "desenha" um cenário "apocalíptico" iluminado pelas chamas da ira divina. O fogo abrasará (3.10,12), destruirá (3.7) e fará derreter (3.12). Serão atingidos: os céus (3.7,10,12), a terra (3.7,10) e todas as coisas que nela há (3.10-11). Semelhantemente ao texto de Apocalipse 21.1, Pedro também fala de novos céus e nova terra (II Pd.3.13; Is.65.17).

1-PEDRO

ESBOÇO 1 - Natureza da salvação - 1.1-21 2 - Crescimento do cristão - 1.22 - 2.10. 3 - Vida cristã prática - 2.11 - 3.22. 4 - Exortações diversas - 4.1-19 5 - Admoestações aos líderes - 5.1-14. Texto chave - 4.1 Palavra chave - sofrimento (1.11; 2.20; 3.17; 4.19; 5.1,9,10) Autoria Apesar de ter sido considerado homem inculto e iletrado (At.4.13), Pedro escreveu uma epístola de alto nível. Talvez aquele rótulo advenha do fato de Pedro não ter freqüentado as universidades gregas da época, nem ter sido um escriba ou doutor da lei. Contudo, isso não significa que ele fosse analfabeto e ignorante. Se lhe faltava muito da vasta cultura grega, o mesmo não se pode dizer quanto ao idioma, pois o grego era falado por todas as classes sociais. Além disso, falava o aramaico e talvez o hebraico. Como todo bom judeu, Pedro tinha todo o conhecimento da lei de Moisés e demais Escrituras do Velho Testamento. A forma do seu texto pode também ter sido influenciada pela mão de Silvano, que foi seu amanuense (I Pd.5.12). A autoridade do autor fica evidente. Além de ser apóstolo (I Pd.1.1), Pedro foi "testemunha das aflições de Cristo" (I Pd. 5.1). Seu ensino estava, portanto, bem fundamentado, sendo digno de aceitação. Além de Silvano, também Marcos estava na companhia de Pedro quando escreveu a primeira epístola (I Pd.5.13). Data - Os comentaristas sugerem datas entre 63 e 68 d.C. O ano mais indicado é 64. Destinatários - cristãos dispersos na Ásia Menor (judeus e gentios) - 1.1; 2.10. Durante algum tempo, Pedro foi contrário à evangelização dos gentios. Vemos, portanto que, por ocasião do envio dessa epístola, tal problema já tinha sido superado. Agora Pedro já aceita os gentios e os considera tão dignos do evangelho e do reino de Deus quanto os judeus. O apóstolo chega a tomar palavras ditas a Israel no Velho Testamento, aplicando-as aos gentios que fazem parte da igreja. "...Antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus...". (I Pd.2.9-10). Outros textos desenvolvem esse paralelismo entre a igreja e Israel, citando o sacrifício e o templo numa nova perspectiva (I Pd.1.19; 2.4-5). A epístola foi dirigida aos irmãos que moravam em regiões por onde Paulo passou e fundou igrejas. Por quê Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando essa epístola foi produzida, Paulo já teria morrido. O fato Silvano e Marcos, antigos companheiros de Paulo, estarem com Pedro também é usado como argumento a favor dessa hipótese. Circunstância - A carta foi escrita numa época de grande perseguição imperial contra a igreja após o incêndio em Roma. No livro de Atos, os principais perseguidores eram os judeus. No período em que Pedro escreveu, os perseguidores passaram a ser os gentios (4.3,4,12). Características - O livro é exortativo, consolador, cristológico, "cristocêntrico". Observamos que Tiago quase não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu nome a base de sua doutrina. Pedro apresenta Jesus como: Fonte de esperança - 1.3 Cordeiro do sacrifício - 1.19. Pedra angular - 2.6 Exemplo perfeito - 2.21-23. Aquele que levou nossos pecados - 2.24. Sumo pastor - 2.25. Bispo das nossas almas - 2.25. Aquele que está assentado à destra de Deus - 3.22. Coisas preciosas para Pedro Provas - 1.7 Sangue - 1.19 Pedras - 2.4 Cristo - 2.6 Espírito manso - 3.4 Propósito da carta - firmar, orientar, confortar. Para os irmãos atribulados, Pedro oferece uma palavra de esperança, menciona os fundamentos da fé cristã e o que Deus tem para nós no futuro. Quando as tribulações se multiplicam, é bastante oportuno que essas verdades sejam mencionadas para renovação da fé e do ânimo. A obra de Cristo no passado (1.3) e a herança cristã no futuro (1.4-5) são mencionados como estímulo para se enfrentarem as dificuldades presentes (1.6). Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem somos. Nossa identidade pode estar sendo questionada pelos homens, pelo diabo (Mt.4.2) ou até mesmo por nós mesmos. Pedro então enfatiza essa realidade espiritual que, muitas vezes, é desafiada por uma realidade aparente adversa. Ele utiliza enfaticamente o verbo ser: "Não éreis povo..."; "Agora sois... povo de Deus, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido..." (2.9-10). "Sois guardados, mediante a fé, para a salvação." (1.5). "Sois edificados como casa espiritual." (2.5). O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (1.2,3,19; 2.5,21; 3.18). Nos momentos difíceis é bom lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o nosso vínculo com ele. O inimigo procura colocar tudo isso em dúvida na hora da tentação. ESBOÇO COMENTADO Podemos delinear uma seqüência de pensamento na epístola, embora os temas às vezes se intercalem. 1 - Natureza da salvação - 1.1-12 Salvos pela obra de Cristo O autor começa sua epístola falando sobre a salvação e a herança no céu. Os irmãos que estavam padecendo perseguições poderiam questionar sobre o efeito de sua conversão. Talvez alguns estivessem esperando uma herança na terra, uma vida tranqüila e próspera. Deus pode nos dar todo tipo de bênção material, mas isso não é uma promessa de Cristo para todo aquele que nele crê. Isso depende da vontade de Deus para cada pessoa. O que ele promete a todos nós é a vida eterna, uma herança nos céus. Não podemos esperar conquistas materiais como efeito obrigatório do evangelho. O resultado pode ser a frustração. Por outro lado, nada impede que o cristão trabalhe para conseguir o que lhe for lícito, assim como também fazem os não salvos. Entretanto, a busca material não se tornará o objetivo principal da nossa vida ou da nossa fé. 2 - Crescimento do cristão - 1.13 - 2.10. O que somos e o que devemos ser Tendo falado da salvação, Pedro poderia agora expressar palavras comemorativas e congratulatórias para seus destinatários como se tudo estivesse resolvido. Contudo, não é assim. Agora que estamos salvos, precisamos do crescimento espiritual, que só é possível mediante o legítimo alimento espiritual: a palavra de Deus (1.23-25; 2.1-2). A palavra "portanto", de 1.13, liga as duas seções do texto. O "portanto" indica que considerando tudo o que foi dito antes, seriam apresentadas, a seguir, admoestações que estariam relacionadas às conseqüências naturais ou necessárias ao bom andamento da questão anterior. Como dissemos, Pedro utiliza bastante o verbo "ser". Observamos principalmente as conjugações: "sois" e "sede" em referência ao que já "somos" pelos méritos de Cristo e por nosso compromisso com ele, e o que devemos "ser". Observe na palavra "sede" o modo imperativo indicando uma ordem. Pedro já disse que somos salvos... portanto... precisamos ser: - Santos (separados da corrupção do mundo) 1.15-16. - Sóbrios (conscientes, atentos e vigilantes) (1.13). - Obedientes (1.14). Essas poucas palavras resumem tudo o que Deus espera de nós. 3 - Vida cristã prática - 2.11 - 3.22. O risco do pecado; vigilância; oração; serviço; comportamento; sofrimento e glória. Após a conversão, temos um caminho pela frente: é a vida cristã prática. Pedro menciona situações e relações do cotidiano. O pecado é mencionado como um risco constante (2.11-12; 4.1-6; 1.13-16). Pedro, que um dia disse que não negaria a Cristo e acabou negando três vezes, está bem consciente de que o pecado pode acontecer, embora não deva. Diante desse risco real, o autor nos aconselha a orar e vigiar (4.7; 5.8-9) . Contudo, a vida cristã apresentada por Pedro não é apenas espiritual. Não se resume à oração e à vigilância. Ele ensina o serviço cristão, exemplificado através da hospitalidade e do ministério (4.9-11). Não basta orar; é preciso agir, trabalhar. Outro item abordado é o comportamento. As falhas nesta área podem invalidar nossas orações (3.7) e nosso serviço. Pedro menciona então a vida social e civil (2.12-17), familiar (3.1-7), profissional (2.18). Aconselha maridos, esposas e servos. O Sofrimento é o tema principal da epístola. Esse elemento também faz parte da vida cristã. Esta era a situação vivida pelos destinatários da carta. O autor diz que não devemos estranhá-lo, como se fosse algo anormal (4.12). Então, devemos concluir que o mesmo faz parte do plano de Deus para nós, pois ele assim o quer (3.17). Trata-se de algo necessário (1.6). Tais afirmações podem ser chocantes. Por quê Deus quer que soframos? Não é que ele queira o sofrimento em si, mas sim o resultado do processo. Existem virtudes que não serão adquiridas de outra forma. O sofrimento tem grande força didática. "Te deixei ter fome... para te dar a entender que nem só de pão viverá o homem..." (Dt.8.3). Pedro menciona dois tipos de sofrimento: um pelo evangelho (perseguição, tentações e perseguições) e outro pelo pecado (conseqüências e punições). O autor adverte que se sofremos como cristãos, sem culpa, então somos bem-aventurados. Se sofrermos merecidamente, então nenhuma honra receberemos (2.19-20; 4.14-16). Lembremo-nos do Calvário. Dois tipos de sofrimento ali aconteciam: Jesus morria inocente, enquanto que os ladrões morriam em conseqüência dos seus próprios erros. O sofrimento pela causa do evangelho trará como conseqüência a glória. Esta é outra palavra importante na epístola, indicando glória presente na vida do cristão, glória futura e também a vanglória (1.24); (1.7,8,11,21; 2.12,20; 4.11,13,14,16; 5.1,4,10). O sofrimento é de pequena duração quando comparado com a glória eterna que nos aguarda (1.6; 5.10. Veja também Rm.8.18). Queremos a glória (e às vezes até mesmo a vanglória), mas sofrimento... jamais. Queremos colher o fruto sem plantar sua erva. Queremos participar da glória de Cristo em sua vinda, mas não queremos participar dos seus sofrimentos. Pedro vincula tais elementos (1.11; 4.13; 5.1). Para justificar a necessidade e a utilidade do sofrimento, Pedro cita Cristo como exemplo (2.21; 3.18). O mesmo apóstolo se diz testemunha das aflições de Cristo e participante da glória. Com isso, ele deixa subentendida sua própria participação nos sofrimentos pelo evangelho. Diante do sofrimento somos levados a procurar seus motivos. Perguntamos: por quê está acontecendo isso? O que eu fiz para merecer isso? Assim, olhamos para trás em busca da causa. O sofrimento pelo pecado pode ser assim compreendido. Podemos olhar para trás e reconhecer nossa falha. Muitas vezes, porém, não conseguimos ligar o fato presente ao erro cometido. No caso do sofrimento permitido por Deus sem que tenhamos pecado, devemos olhar para frente e perguntar: para quê está acontecendo isso? Mesmo que não possamos, em muitos casos, saber o propósito específico, sabemos, de modo geral, que toda adversidade que nos ocorre vem para o nosso próprio crescimento. Todo exercício físico, corretamente realizado, contribui para o desenvolvimento e manutenção da boa forma muscular. Tais exercícios não são leves nem suaves. Se assim fossem, seriam inúteis. Assim são as provações e adversidades que enfrentamos. São exercícios para o espírito e para o caráter. Por meio deles nossa fé cresce, nossa paciência e nossa experiência se desenvolvem. O produto do sofrimento faz com ele se justifique e seja até mesmo valorizado por escritores bíblicos como Pedro e Paulo (Rm.5.3-5). O ouro é retirado da jazida em estado bruto, cheio de sujeira e deformidades. Contudo, não será rejeitado por isso. Da mesma forma Deus nos resgata: sujos e deformados. Ele não rejeita a sua vida, por mais sujo que você esteja. Podemos até lavar aquela pepita de ouro, mas isso não será suficiente. Algumas impurezas estão encrustadas no metal. Então, o ourives precisa levá-lo ao fogo (Malaquias 3.2). Pedro compara o fogo às tribulações e diz que assim como o ouro precisa passar pelo fogo, da mesma forma nossa fé precisa ser provada para que sejamos aprovados (I Pd.1.7). O fogo, por mais destruidor que seja, só destrói as impurezas do ouro. No final do processo, o metal está limpo, brilhante, e muito mais valorizado. Assim acontece conosco. Em sua primeira epístola, Pedro menciona muitos termos negativos e muitos outros positivos. Pode parecer conflito ou paradoxo, mas não é. Nossa vida é assim. Todos os elementos negativos do processo são necessários para que os positivos se manifestem. É uma relação necessária. Sem morte não haverá ressurreição. Primeiro vem o fogo, depois o brilho e o valor. Só não é necessário o pecado nem o sofrimento que dele advém, já que não produz nenhum benefício, exceto uma lição que deveria ter sido aprendida de outra forma. Vejamos então as palavras negativas e positivas encontradas em I Pedro NEGATIVAS Sofrimento - 5.9 Fogo - 1.7. Provação - 4.12 Tristeza - 1.6; 2.19. Aflição - 4.13; 5.1 Vitupério - 4.14 Padecimento - 5.10 POSITIVAS Fé - 1.21; 5.9 Glória, honra - 1.7,8,21; 2.17,20; 4.11,14; 5.1,10 Esperança - 1.21 Alegria, exultação, gozo inefável - 1.8; 4.13 Amor - 1.20,22; 2.17; 3.8; 4.8 Misericórdia - 1.3; 2.10 Paz - 1.2; 3.11; 5.14. Graça - 1.2; 5.5,12 Louvor - 1.7; 2.14 Dias felizes - 3.10 Muitas vezes, as experiências negativas são presentes, enquanto que o benefício está indicado para o futuro (I Pd.1.4-5; 4.13; 5.1,4,6,10). Contudo, já no tempo presente experimentamos a esperança, a paz, a alegria, o amor, a misericórdia, etc. A glória, ou exaltação, é o principal elemento localizado no futuro, vinculado à segunda vinda de Cristo. 4 - Exortações diversas - 4.1-19 Nesse bloco são incluídos diversos conselhos sobre comportamento, amor mútuo, serviço e novamente sobre o sofrimento. 5 - Admoestações aos líderes - 5.1-14. Pedro se dirige especialmente aos anciãos, os presbíteros da igreja, dizendo que os mesmos deviam ser exemplo para o rebanho e não dominadores. O líder não deve agir como se fosse dono das ovelhas, como se fosse senhor de suas vidas. Liderança não é manipulação nem opressão, mas orientação amável. A ovelha deve ser vista como alvo de cuidado e proteção e não como fábrica de leite e lã, embora ela os produza. DESTAQUES DA CARTA PEDRAS VIVAS O texto de Mateus 16.16-18 tem sido objeto de muitas discussões. Seria Pedro a pedra fundamental da igreja? Em sua primeira epístola, o apóstolo diz que todos os cristãos são "pedras vivas" e que Cristo é a principal pedra da construção que é a igreja. Se é assim, então Pedro continua pedra, como é o significado do seu nome. A igreja está firmada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas. Eles foram as pedras fundamentais da igreja. Porém, Cristo é a pedra principal. Sem ele, a construção não existiria. Qual é a relação entre tais pedras e a igreja? Tal fundamento está diretamente ligado às vidas, obras e ensinamentos desses homens, os apóstolos e profetas. Eles foram os primeiros a compor a igreja do Senhor. O próprio Jesus, por sua vez, é a pedra principal pois deu sua própria vida para que a igreja existisse. Foi ele quem resgatou com seu sangue todos aqueles que fariam parte dessa construção espiritual. Voltando às palavras de Pedro, todos nós somos pedras vivas, fazendo parte da igreja. Não fazemos parte do fundamento, pois a igreja já existia antes de nós. Porém, fazemos parte da obra, estando apoiados sobre os que nos antecederam e servindo de base para os que se inspiram em nosso testemunho e palavra ( I Pd.2.4-8; I Cor.3.11; Ef.2.20-22). A PREGAÇÃO AOS MORTOS "Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água." (I Pd.3.18-20). Este é um dos textos mais misteriosos das Sagradas Escrituras. As polêmicas em torno do seu significado não têm fim. Procuraremos expor resumidamente as principais linhas de interpretação do assunto em questão. Leia também I Pd.4.5-6, Rm.10.7, Salmo 16.10 e Ef.4.9. Neste assunto, além dos católicos não concordarem com os protestantes, estes últimos não concordam entre si. Encontramos posições diferentes de uma denominação evangélica para outra. A pergunta inicial é: Jesus foi ao inferno? O texto de Pedro não está dizendo isso, mas esta tem sido, muitas vezes, a interpretação adotada, principalmente por causa de outros textos bíblicos, dos credos da igreja católica e dos livros apócrifos, alguns dos quais mencionam explicitamente a descida de Cristo ao inferno entre sua morte e sua ressurreição. Por exemplo podemos citar o chamado "credo dos apóstolos" e os apócrifos: "Evangelho de Bartolomeu" e "Evangelho de Nicodemos". Um paralelo entre tais escritos e os textos bíblicos mencionados produzem a interpretação correspondente. Questão Respostas encontradas nos comentários Jesus foi ao inferno? Sim Não Como ele foi? Em seu espírito humano em carne e espírito Através do Espírito Santo De jeito nenhum. A quem ele pregou? Aos justos Aos ímpios (todos ou só aos da época de Noé) A justos e ímpios. Aos anjos caídos. A ninguém O que ele pregou? O evangelho Sua vitória O evangelho e sua vitória Nada Com que objetivo? Salvar os justos Salvar os ímpios Salvar a todos Declarar sua vitó-ria Sofrer (batismo de fogo?) Nenhum Qual foi o efeito? Salvação e ressurreição dos justos. Salvação dos ímpios. Salvação de todos. Conde-nação dos ím-pios Nenhum O quadro apresentado assemelha-se a uma prova de múltipla escolha onde existem alternativas para todos os gostos, inclusive para quem não gosta de nenhuma. Contudo, trata-se apenas da exposição das diversas interpretações do texto de I Pedro 3.18-20, juntamente com uma série de pressupostos considerados em cada caso. Cada alternativa traz uma série de conseqüências naturais (?) ou teologicamente necessárias, formando assim um intrincado conjunto de perguntas intrigantes, respostas incertas e dúvidas crescentes. Uma vez que o próprio texto bíblico não foi claro sobre o assunto, torna-se muito improvável que possamos sê-lo. Contudo, tal exposição poderá ajudar o estudante a tirar suas próprias conclusões. Algumas alternativas apresentadas podem ser refutadas pelo simples retorno ao texto de I Pedro. A passagem não diz que ele foi pregar aos justos e nem que teria sido a todos os mortos ou a todos os ímpios. São mencionados apenas os ímpios que viveram nos dias de Noé. Alguns comentaristas estendem tal pregação a todos os mortos, utilizando o texto de I Pedro 4.5-6, onde isso fica mais evidente. Dizer que Cristo foi em carne e espírito ao inferno, seria o mesmo que ele estava vivo antes da ressurreição. Se carne e espírito estão juntos, então não estamos falando de Cristo durante seus três dias em estado de morte. Dizer que o Espírito Santo foi ao inferno resgatar alguém é fazer uma grande confusão entre as funções das pessoas da trindade. Tal equívoco se dá pelo fato de que algumas traduções usam a palavra "Espírito" com letra maiúscula em I Pd.3.18. Aqueles que dizem que Cristo não foi ao inferno, afirmam que ele foi se apresentar ao Pai após sua morte. Mencionam como argumento as palavras de Jesus ao ladrão crucificado: "Hoje estarás comigo no paraíso." (Lc.23.43 e 46). Como explicariam então o texto de Pedro? Calvino chegou a afirmar que a cruz foi o "inferno" experimentado por Cristo. Para os anabatistas, este mundo foi o "inferno" ao qual Cristo desceu ao encarnar. Pelo que ficou registrado nos livros, até o século IV d.C. era plenamente aceita a idéia de que Cristo tenha mesmo descido ao inferno, assim identificado como o "lugar dos mortos". Somente a partir do século V é que passou-se a questionar tal sentido. Nesse tempo, Agostinho propôs o seguinte entendimento para o texto de Pedro: o evangelho teria sido anunciado aos mortos no tempo em que os mesmos estavam vivos. Assim, os contemporâneos de Noé teriam ouvido a pregação antes do dilúvio. O espírito de Cristo, mencionado em I Pd.3.18, estaria agindo através de Noé, o pregoeiro da justiça. Tal interpretação, bastante inteligente, não explica o texto de I Pd.4.5-6, onde todos os mortos parecem estar envolvidos. Além disso, o texto de I Pd.3.18-20 fala que a pregação foi dirigida a "espíritos em prisão" e não a pessoas vivas. O texto de Atos (2.27-31) talvez seja o mais claro para que se conclua que Cristo foi ao inferno. O autor utiliza a palavra Hades. Esta palavra estaria sendo usada em referência a um lugar espiritual? ou simplesmente à sepultura? (2.29) ou apenas ao estado de morte? (2.31). Algumas versões usam a palavra "hades" (A.R.C.) enquanto outras a traduzem como "morte" (Thompson e A.R.A). A versão católica dos Monges de Maredsous menciona "região dos mortos", o que não indica um sentido estritamente físico ou espiritual. A bíblia das Edições Loyola utiliza a expressão "mansão dos mortos". A versão do padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz "hades" como "inferno". A palavra "hades" é grega e se origina da mitologia dos gregos, sendo utilizada para identificar o lugar espiritual para onde vão os mortos. O hades estaria divido em duas partes: O "elísio" para os bons e o "tártaro" para os maus. Os hebreus tinham uma concepção semelhante sobre a região dos mortos. Chamavam-na de seol, ou sheol, também com um lugar para os justos e outro para os ímpios. Entretanto, sheol também significa sepultura. Como o Novo Testamento foi escrito em grego, então foram usadas as palavras gregas que mais se aproximavam do conceito hebraico. Assim, a dúvida sobre lugar físico ou espiritual prevalece. Sheol (ás vezes traduzido como inferno ou sepultura): Gn.37.35; Nm.16.30; Jó 21.13; Salmo 9.17; Pv.5.5; 7.27; 9.18; 15.24; 23.14; Dt.32.22; Jó 26.6; Pv.15.11; 27.20; II Sm.22.6; Salmo 18.5; 116.3; Os.13.14. Hades (às vezes traduzido como inferno): At.2.27,31; Mt.11.23; 16.18; Lc.10.15; Lc.16.23; Ap.1.18; 6.8; 20.13-14. Geena (às vezes traduzido como inferno): Mt.5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15; 23.33; Lc.12.5; Tg.3.6; Mc.9.43-48. Tártaro (às vezes traduzido como inferno): II Pd.2.4. O Velho Testamento passa a idéia de que o Sheol é um lugar para onde vão todos os mortos, bons e maus. É normalmente identificado com o hades do Novo Testamento. Veja que em Atos 2, a citação do Salmo 16, troca Sheol por Hades. Os luteranos interpretam hades como sinônimo de inferno e seio de Abraão como paraíso. Utilizam a passagem de Lucas 16.22-25. O paraíso seria o lugar para onde o cristão iria imediatamente após a morte, a encontrar-se com Cristo (Filipenses 1.23). Os católicos romanos dividem o hades em: inferno, purgatório, limbus patrum e limbus infantum. Eles entendem que Cristo tenha ido ao limbus patrum ou seio de Abraão, onde estariam os justos do Velho Testamento aguardando a salvação cristã. Apesar da boa organização de idéias, tal teoria não tem apoio bíblico, já que a Bíblia não menciona purgatório nem limbus. É bastante antiga a idéia de que alguém pudesse descer ao hades com alguma missão. De acordo com a mitologia grega, Hércules teria ido até lá. Histórias semelhantes são encontradas na literatura babilônica, egípcia, e romana. Conforme Orígenes, houve entre os judeus a crença de que os profetas do Velho Testamento tenham ido ao seol, onde continuariam seu ministério de pregação. Tal suposição aparece também no Talmude. Assim, a crença de que Cristo teria ido ao inferno não seria de difícil aceitação. Alguns, como Clemente de Alexandria, chegaram a dizer que os apóstolos também teriam ido ao hades após suas mortes para pregar e que também os demais cristãos teriam essa missão. Isso seria usado por alguns para justificar mortes de pessoas jovens (J.Paterson Smith). Afinal, segundo essa tese, essas pessoas teriam grande trabalho a executar na região dos mortos. Apresentamos, a seguir, outro quadro comparativo sobre o assunto, destacando a posição denominacional e de alguns líderes e teólogos. Cristo foi e salvou os justos Cristo foi e salvou a todos Cristo não foi ao inferno. Cristo foi mas não salvou ninguém Cristo salvou apenas algumas pessoas Defendido por católicos Algumas igrejas reformadas Anabatistas Luteranos Lutero, mais tarde assumiu essa posição. Algumas igrejas reformadas. Arminianos * Calvinistas Flacius Zwínglio Agostinho Calov Marcion Wolf Tertuliano Buddeus Aretius * Calvino Encontramos duas posições distintas atribuídas a Calvino em relação à ida de Cristo ao inferno. Não sabemos se ele mudou de idéia como ocorreu com Lutero. Uma das fontes consultadas foi escrita por um calvinista e nega a ida literal de Cristo ao inferno. Alguns livros apócrifos afirmam que Cristo esvaziou o inferno, salvando todos os que ali estavam. Essa idéia serve bastante aos que pregam o "universalismo", que consiste na crença em uma salvação universal. Tais teólogos afirmam que ninguém escapará do alcance da graça de Deus e, finalmente, todos serão salvos, até mesmo os anjos caídos. Se assim fosse, então não precisaríamos pregar o evangelho. Para o melhor entendimento possível a respeito desse assunto é fundamental que consideremos o ensino geral da Bíblia. Qualquer suposição deve ser confrontada com outros textos das escrituras para que se conclua sobre sua prevalência ou não. Jesus teria ido pregar aos mortos para que estes se salvassem? Tal entendimento não parece coerente com outras passagens das escrituras. Se, depois de viverem e morrerem no pecado, todos os ímpios ainda pudessem se salvar, então de nada teria valido a vida de justiça dos justos, já que todos acabariam no mesmo lugar e na mesma situação: salvos. É bem provável que Jesus tenha anunciado o evangelho aos justos do Velho Testamento, embora o texto de I Pedro 3.18-20 não os mencione. O fato é que muitos deles ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, conforme está em Mateus 27.51-53. Davi disse: "Não deixarás minha alma no hades." Além de estar profetizando sobre Cristo, ele não poderia também estar falando sobre sua própria alma, conforme uma interpretação literal do Salmo? Os ímpios mortos também teriam ouvido a respeito do evangelho mas não poderiam ser salvos. Contudo, tal conhecimento serviria para legitimar a autoridade de Cristo para julgá-los no último dia. "... Áquele que está preparado para julgar os vivos e os mortos. Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos..." (I Pd.4.5-6). Jesus teria descido para tomar as chaves da morte e do inferno das mãos do Diabo? Os calvinistas dizem que isso não faz sentido, já que o Diabo nunca teve tais chaves. Por outro lado, podemos também questionar: quem disse que o Diabo mora no inferno? Pelo que sabemos, ele habita o planeta terra e circula pelas regiões celestiais. Muitas vezes o inferno é mencionado pelas pessoas como um lugar onde o Diabo mora e faz suas reuniões estratégicas com os seus demônios. Em algumas dessas supostas reuniões, eles estão eufóricos com seus planos e realizações. Não estaríamos alimentando um folclore religioso com tudo isso? Afinal, a bíblia mostra o inferno como um lugar de tormento e não de reuniões satânicas. Se o Diabo lá estivesse, estaria sofrendo tormentos e não fazendo planos.