Estudos sistemáticos
domingo, 18 de agosto de 2013
TRÊS ESTILOS DE VIDA.(Ev.Robério Oliveira,Conferencista e Pregador)
TRÊS ESTILOS DE VIDA
1 Co 2:14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15 Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.
16 Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de
Cristo.
1 Co 3:1 Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como
a crianças em Cristo.
CONFORME A PALAVRA DE DEUS EXISTEM
TRÊS MANEIRAS OU ESTILOS DE VIDA:
O HOMEM NATURAL
O HOMEM CARNAL
O HOMEM ESPIRITUAL
1° O HOMEM NATURAL
O HOMEM NATURAL É O HOMEM QUE NÃO CONHECE A DEUS.
É O HOMEM QUE NÃO NASCEU DE NOVO.
É O HOMEM QUE NÃO EXPERIMENTOU O NOVO NASCIMENTO.
O HOMEM NATURAL TEM DOIS ESTILOS DE VIDA:
1- DESCOMPROMETIDO
É O INÚTIL. QUE NÃO CONTRIBUI COM NADA PARA NINGUÉM.
VIVE UMA VIDA DESREGRADA. É PESO PARA FAMÍLIA E PARA A SOCIEDADE E
CHEGA AO PONTO DE SER UM VAGABUNDO.
NÃO TEM COMPROMISSO COM NADA E É UM COMPLETO IRRESPONSÁVEL.
É A MANEIRA DELE DIZER QUE É LIVRE.
SENTE-SE LIVRE PRA FAZER O QUE ELE QUER.
2- O RESPONSÁVEL
É O HOMEM QUE PRODUZ, QUE VIVE UMA VIDA NORMAL, CUMPRE SEUS
AFAZERES PESSOAIS.
SABE QUE PRECISA VOLTAR PARA CASA TODOS OS DIAS E QUE PRECISA DAR UMA
SATISFAÇÃO PARA FAMÍLIA E PARA A SOCIEDADE.
SENTE-SE LIVRE PRA FAZER CERTAS COISAS, MAS NÃO COMO O PRIMEIRO
CITADO.
________________________________________
Page 2
AMBOS SÃO HOMENS NATURAIS.
NÃO SÃO SALVOS E PROCURAM SER LIVRES PARA VIVER A VIDA SEM UM
COMPROMISSO COM DEUS.
ESSES HOMENS NÃO SE COMPROMETEM COM DEUS PARA FAZER VOTO ALGUM,
E SE O FAZEM, O VOTO É APENAS PARA PAGAR A DEUS POR ALGUMA COISA.
É COMO PAGAR PARA NÃO FICAR DEVENDO NADA PARA NÃO SE RECEBER
COBRANÇA DEPOIS.
DEFINITIVAMENTE NÃO QUEREM ANDAR SEGUNDO AS ORDENS DE DEUS.
2º O HOMEM CARNAL
É AQUELE QUE É NASCIDO DE NOVO, POIS, RECEBEU O SENHOR JESUS COMO
SALVADOR DE SUA VIDA.
OUÇA BEM: ELE RECEBEU O SENHOR JESUS COM SEU SALVADOR.
MAS JESUS NÃO É SENHOR E SALVADOR?
AÍ RESIDE O PROBLEMA DO CARNAL. JESUS É APENAS SALVADOR E NÃO SENHOR.
O CARNAL É UM RELIGIOSO, É ALGUÉM QUE NÃO QUER TER TANTO
COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS E COM A VIDA DE SANTIDADE.
O CARNAL É O INÚTIL PARA DEUS.
DEUS NÃO PODE CONFIAR NADA EM SUAS MÃOS.
Romanos 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
O CARNAL É AQUELE QUE QUER AGIR NA IGREJA COMO AGIA NO MUNDO.
AGIR COM IGNORÂNCIA.
CONFIANDO NA PRÓPRIA FORÇA.
FAZENDO AS COISAS SEM BUSCAR DIRECÇÃO DE DEUS.
SENDO INDEPENDENTE DE DEUS.
COLOCANDO O SEU EGO ACIMA DA VONTADE DE DEUS.
O CARNAL NÃO PODE SER CONTRARIADO, NÃO PODE SER CONTESTADO E SUAS
IDÉIAS NÃO PODEM SER REJEITADAS.
________________________________________
Page 3
O CARNAL É AQUELE QUE ANDA SEGUNDO O QUE ELE VÊ E NÃO ANDA SEGUNDO A
FÉ EM DEUS.
Hebreus 11:6 De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.
O CARNAL É AQUELE QUE ATÉ FAZ UM VOTO OU UM COMPROMISSO COM DEUS,
MAS, NO MEIO DO CAMINHO RETROCEDE.
O CARNAL NÃO VAI ATÉ AO FIM COM DEUS.
ALGO NO MEIO DO CAMINHO O DESESTIMULA, MOSTRANDO A DIFICULDADE DE
CONTINUAR ACREDITANDO NA PALAVRA DE DEUS E MOSTRA QUE ELE PODE
DAR UM JEITINHO NA SITUAÇÃO, POIS, ELE É “EXPERT” EM FAZÊ-LO.
O ESTILO DE VIDA DO CARNAL É SEM COMPROMISSO COM AS COISAS DA IGREJA
E COM O TESTEMUNHO DE JESUS.
O CARNAL SENTE-SE LIVRE PARA PECAR...
GL 5:19 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,
20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,
21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos
declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas
praticam.
TANTO O HOMEM NATURAL COMO O HOMEM CARNAL PODEM ATÉ SENTIR-SE
LIVRES PARA PECAR, MAS, VEJA O QUE A PALAVRA DE DEUS DIZ COM
RESPEITO AO QUE VIVE PECANDO:
2 Pe 2:17 Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles
está reservada a negridão das trevas;
18 porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por
suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro,
19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que
é vencido fica escravo do vencedor.
Jo 8:34 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é
escravo do pecado.
SÃO ESCRAVOS DO PECADO E DO DIABO.
3° O HOMEM ESPIRITUAL
Gálatas 5:16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.
________________________________________
Page 4
Gl 5:22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade,
23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.
24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
Jo 8:32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE É VERADEIRAMENTE LIVRE, MAS, NÃO
LIVRE PARA PECAR E SIM LIVRE PARA NÃO PECAR, POIS, NÃO É ESCRAVO DO
PECADO E DO DIABO.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE TEM RESPONSABILIDADES PARA COM
DEUS SUA PALAVRA E A SUA IGREJA.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE ANDA SEGUNDO A VONTADE DE DEUS.
É AQUELE QUE TEM A JESUS COMO SENHOR E SALVADOR.
JESUS NÃO É SOMENTE SALVADOR DO HOMEM ESPIRITUAL, MAS, JESUS É
SENHOR E COMO SENHOR ELE EXERCE O GOVERNO NA VIDA DO SEU SERVO.
O HOMEM ESPIRITUAL É O SERVO QUE ESPERA A DIRECÇÃO, A ORDEM PARA
PODER CAMINHAR CONFORME A VONTADE DO SEU SENHOR.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE FAZ VOTOS COM DEUS E OS CUMPRE.
SER HOMEM ESPIRITUAL NÃO É SER UM SUPER-HOMEM ACIMA DOS MEDOS
DIFICULDADES E PRESSÕES.
SER UM HOMEM ESPIRITUAL É CONFIAR EM DEUS, É ESPERAR ATÉ A ÚLTIMA
HORA A ACÇÃO DE DEUS.
É FECHAR OS OLHOS PARA O NATURAL E ABRIR PARA O ESPIRITUAL.
A ACÇÃO DE DEUS É ALGO SOBRENATURAL E ALGO SOBRENATURAL É ALGO
ESPIRITUAL.
SER ESPIRITUAL É CHAMAR A RESPONSABILIDADE DA IGREJA PARA SI.
É PROCURAR DAR TESTEMUNHO DA PALAVRA, É FUGIR DO PECADO E CORRER
PARA OS BRAÇOS DO PAI.
________________________________________
Page 5
É FAZER VOTOS E ATÉ QUEBRÁ-LOS, MAS, SE ARREPENDER VOLTAR ONDE O
VOTO FOI QUEBRADO COMEÇAR DE NOVO E PROSSEGUIR PARA O ALVO
PROPOSTO.
SER ESPIRITUAL É NÃO DESISTIR DO OBJECTIVO ESTABELECIDO POR DEUS.
É BUSCAR A VITÓRIA NO TRABALHO, NO LABOR E NA PERSEVERANÇA.
QUAL DESTES TRÊS ESTILOS DE VIDA VOCÊ VIVE?
VOCÊ ESTÁ ENQUADRADO AONDE?
VOCÊ É O HOMEM NATURAL QUE NÃO NASCEU DE NOVO E PRECISA DA
SALVAÇÃO EM JESUS?
VOCÊ É O HOMEM CARNAL QUE NASCEU DE NOVO, QUE ENTREGOU SUA VIDA
PARA JESUS, MAS, VIVE NUMA VIDA DE DERROTA?
OU VOCÊ É O HOMEM ESPIRITUAL QUE QUER AGRADAR A DEUS E BUSCA DIA A
DIA UMA VIDA DE CONSAGRAÇÃO A DEUS?
NESTE ANO QUE ESTÁ FINDANDO BUSCAMOS UMA VIDA DE SANTIDADE POR MEIO
DA ORAÇÃO, JEUM, ENSINO DA PALAVRA E CONQUISTAS DAS VIDAS PARA JESUS...
SEI QUE MUITOS CRESCERAM COMO NUNCA CRESCERAM ANTES NAS SUAS VIDAS
ESPIRITUAIS.
SEI QUE MUITOS RENUNCIARAM AS VONTADES DA CARNE O AMOR AO MUNDO E
VENCERAM AS TENTAÇÕES DO DIABO.
SEI QUE EXPERIMENTARAM MUITAS VITÓRIAS EM JESUS E TERMINAM O ANO
VISUALIZANDO VITÓRIAS MAIORES NO ANO QUE VEM...
SEI TAMBÉM QUE ALGUNS ESTÃO COMEÇANDO OS PRIMEIROS PASSOS DA VIDA
CRISTÃ.
SE VOCÊ ESTÁ COMEÇANDO A VIDA CRISTÃ AGORA SAIBA QUE A VIDA CRISTÃ
DEVE SER VIVIDA DE FÉ EM FÉ E VITÓRIA EM VITÓRIA, POIS, VOCÊ AGORA ESTÁ
ANDANDO COM DEUS.
VIDA CRISTÃ NORMAL NÃO É UMA VIDA DE CRENTES CABISBAIXOS POR SEREM
DERROTADOS PELO PECADO E O DIABO NÃO.
MAS, A VIDA CRISTÃ NORMAL É VOCÊ VIVER NA PRÁCTICA UMA VIDA DE ”MAIS
DO QUE VENCEDOR QUE VOCÊ É”.
________________________________________
Page 6
TALVEZ NESSE ANO VOCÊ NÃO FOI TÃO VENCEDOR COMO VOCÊ QUERIA SER OU
TÃO ESPIRITUAL COMO VOCÊ VIU OUTROS SEREM.
TALVEZ VOCÊ VIVEU MAIS COMO O HOMEM CARNAL DO QUE O HOMEM
ESPIRITUAL.
MAIS RELAXADO DO QUE COMPROMETIDO COM DEUS.
TALVEZ NESSE ANO VOCÊ FUGIU AO COMPROMISSO DE VIVER UMA VIDA SANTA E
DE BOM TESTEMUNHO DIANTE DOS HOMENS.
HOJE É DIA DE VOCÊ FALAR PRA DEUS QUE VOCÊ AINDA QUER TERMINAR O ANO
SE ARREPENDENDO E NOS POUCOS DIAS QUE RESTAM PARA ACABAR O ANO DE
2007 VOCÊ TERMINARÁ EXPERIMENTANDO VITÓRIAS EM DEUS PARA COMEÇAR O
ANO QUE VEM EMBALADO POR UMA VIDA DIFERENTE COM DEUS.
PROPÕE NO CORAÇÃO HOJE DE VIVER UMA VIDA DIFERENTE DA QUE VOCÊ
VIVEU ATÉ AGORA E DEUS VAI TE ABENÇOAR E VOCÊ VAI SER EXEMPLO DAQUI
PARA FRENTE...
FALE COM DEUS AGORA...
(EV.ROBÉRIO OLIVEIRA)075-99536335-071-87981356..TRÊS ESTILOS DE VIDA
TRÊS ESTILOS DE VIDA
1 Co 2:14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15 Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.
16 Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de
Cristo.
1 Co 3:1 Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como
a crianças em Cristo.
CONFORME A PALAVRA DE DEUS EXISTEM
TRÊS MANEIRAS OU ESTILOS DE VIDA:
O HOMEM NATURAL
O HOMEM CARNAL
O HOMEM ESPIRITUAL
1° O HOMEM NATURAL
O HOMEM NATURAL É O HOMEM QUE NÃO CONHECE A DEUS.
É O HOMEM QUE NÃO NASCEU DE NOVO.
É O HOMEM QUE NÃO EXPERIMENTOU O NOVO NASCIMENTO.
O HOMEM NATURAL TEM DOIS ESTILOS DE VIDA:
1- DESCOMPROMETIDO
É O INÚTIL. QUE NÃO CONTRIBUI COM NADA PARA NINGUÉM.
VIVE UMA VIDA DESREGRADA. É PESO PARA FAMÍLIA E PARA A SOCIEDADE E
CHEGA AO PONTO DE SER UM VAGABUNDO.
NÃO TEM COMPROMISSO COM NADA E É UM COMPLETO IRRESPONSÁVEL.
É A MANEIRA DELE DIZER QUE É LIVRE.
SENTE-SE LIVRE PRA FAZER O QUE ELE QUER.
2- O RESPONSÁVEL
É O HOMEM QUE PRODUZ, QUE VIVE UMA VIDA NORMAL, CUMPRE SEUS
AFAZERES PESSOAIS.
SABE QUE PRECISA VOLTAR PARA CASA TODOS OS DIAS E QUE PRECISA DAR UMA
SATISFAÇÃO PARA FAMÍLIA E PARA A SOCIEDADE.
SENTE-SE LIVRE PRA FAZER CERTAS COISAS, MAS NÃO COMO O PRIMEIRO
CITADO.
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AMBOS SÃO HOMENS NATURAIS.
NÃO SÃO SALVOS E PROCURAM SER LIVRES PARA VIVER A VIDA SEM UM
COMPROMISSO COM DEUS.
ESSES HOMENS NÃO SE COMPROMETEM COM DEUS PARA FAZER VOTO ALGUM,
E SE O FAZEM, O VOTO É APENAS PARA PAGAR A DEUS POR ALGUMA COISA.
É COMO PAGAR PARA NÃO FICAR DEVENDO NADA PARA NÃO SE RECEBER
COBRANÇA DEPOIS.
DEFINITIVAMENTE NÃO QUEREM ANDAR SEGUNDO AS ORDENS DE DEUS.
2º O HOMEM CARNAL
É AQUELE QUE É NASCIDO DE NOVO, POIS, RECEBEU O SENHOR JESUS COMO
SALVADOR DE SUA VIDA.
OUÇA BEM: ELE RECEBEU O SENHOR JESUS COM SEU SALVADOR.
MAS JESUS NÃO É SENHOR E SALVADOR?
AÍ RESIDE O PROBLEMA DO CARNAL. JESUS É APENAS SALVADOR E NÃO SENHOR.
O CARNAL É UM RELIGIOSO, É ALGUÉM QUE NÃO QUER TER TANTO
COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS E COM A VIDA DE SANTIDADE.
O CARNAL É O INÚTIL PARA DEUS.
DEUS NÃO PODE CONFIAR NADA EM SUAS MÃOS.
Romanos 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
O CARNAL É AQUELE QUE QUER AGIR NA IGREJA COMO AGIA NO MUNDO.
AGIR COM IGNORÂNCIA.
CONFIANDO NA PRÓPRIA FORÇA.
FAZENDO AS COISAS SEM BUSCAR DIRECÇÃO DE DEUS.
SENDO INDEPENDENTE DE DEUS.
COLOCANDO O SEU EGO ACIMA DA VONTADE DE DEUS.
O CARNAL NÃO PODE SER CONTRARIADO, NÃO PODE SER CONTESTADO E SUAS
IDÉIAS NÃO PODEM SER REJEITADAS.
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O CARNAL É AQUELE QUE ANDA SEGUNDO O QUE ELE VÊ E NÃO ANDA SEGUNDO A
FÉ EM DEUS.
Hebreus 11:6 De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.
O CARNAL É AQUELE QUE ATÉ FAZ UM VOTO OU UM COMPROMISSO COM DEUS,
MAS, NO MEIO DO CAMINHO RETROCEDE.
O CARNAL NÃO VAI ATÉ AO FIM COM DEUS.
ALGO NO MEIO DO CAMINHO O DESESTIMULA, MOSTRANDO A DIFICULDADE DE
CONTINUAR ACREDITANDO NA PALAVRA DE DEUS E MOSTRA QUE ELE PODE
DAR UM JEITINHO NA SITUAÇÃO, POIS, ELE É “EXPERT” EM FAZÊ-LO.
O ESTILO DE VIDA DO CARNAL É SEM COMPROMISSO COM AS COISAS DA IGREJA
E COM O TESTEMUNHO DE JESUS.
O CARNAL SENTE-SE LIVRE PARA PECAR...
GL 5:19 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,
20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,
21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos
declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas
praticam.
TANTO O HOMEM NATURAL COMO O HOMEM CARNAL PODEM ATÉ SENTIR-SE
LIVRES PARA PECAR, MAS, VEJA O QUE A PALAVRA DE DEUS DIZ COM
RESPEITO AO QUE VIVE PECANDO:
2 Pe 2:17 Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles
está reservada a negridão das trevas;
18 porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por
suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro,
19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que
é vencido fica escravo do vencedor.
Jo 8:34 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é
escravo do pecado.
SÃO ESCRAVOS DO PECADO E DO DIABO.
3° O HOMEM ESPIRITUAL
Gálatas 5:16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.
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Gl 5:22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade,
23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.
24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
Jo 8:32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE É VERADEIRAMENTE LIVRE, MAS, NÃO
LIVRE PARA PECAR E SIM LIVRE PARA NÃO PECAR, POIS, NÃO É ESCRAVO DO
PECADO E DO DIABO.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE TEM RESPONSABILIDADES PARA COM
DEUS SUA PALAVRA E A SUA IGREJA.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE ANDA SEGUNDO A VONTADE DE DEUS.
É AQUELE QUE TEM A JESUS COMO SENHOR E SALVADOR.
JESUS NÃO É SOMENTE SALVADOR DO HOMEM ESPIRITUAL, MAS, JESUS É
SENHOR E COMO SENHOR ELE EXERCE O GOVERNO NA VIDA DO SEU SERVO.
O HOMEM ESPIRITUAL É O SERVO QUE ESPERA A DIRECÇÃO, A ORDEM PARA
PODER CAMINHAR CONFORME A VONTADE DO SEU SENHOR.
O HOMEM ESPIRITUAL É AQUELE QUE FAZ VOTOS COM DEUS E OS CUMPRE.
SER HOMEM ESPIRITUAL NÃO É SER UM SUPER-HOMEM ACIMA DOS MEDOS
DIFICULDADES E PRESSÕES.
SER UM HOMEM ESPIRITUAL É CONFIAR EM DEUS, É ESPERAR ATÉ A ÚLTIMA
HORA A ACÇÃO DE DEUS.
É FECHAR OS OLHOS PARA O NATURAL E ABRIR PARA O ESPIRITUAL.
A ACÇÃO DE DEUS É ALGO SOBRENATURAL E ALGO SOBRENATURAL É ALGO
ESPIRITUAL.
SER ESPIRITUAL É CHAMAR A RESPONSABILIDADE DA IGREJA PARA SI.
É PROCURAR DAR TESTEMUNHO DA PALAVRA, É FUGIR DO PECADO E CORRER
PARA OS BRAÇOS DO PAI.
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É FAZER VOTOS E ATÉ QUEBRÁ-LOS, MAS, SE ARREPENDER VOLTAR ONDE O
VOTO FOI QUEBRADO COMEÇAR DE NOVO E PROSSEGUIR PARA O ALVO
PROPOSTO.
SER ESPIRITUAL É NÃO DESISTIR DO OBJECTIVO ESTABELECIDO POR DEUS.
É BUSCAR A VITÓRIA NO TRABALHO, NO LABOR E NA PERSEVERANÇA.
QUAL DESTES TRÊS ESTILOS DE VIDA VOCÊ VIVE?
VOCÊ ESTÁ ENQUADRADO AONDE?
VOCÊ É O HOMEM NATURAL QUE NÃO NASCEU DE NOVO E PRECISA DA
SALVAÇÃO EM JESUS?
VOCÊ É O HOMEM CARNAL QUE NASCEU DE NOVO, QUE ENTREGOU SUA VIDA
PARA JESUS, MAS, VIVE NUMA VIDA DE DERROTA?
OU VOCÊ É O HOMEM ESPIRITUAL QUE QUER AGRADAR A DEUS E BUSCA DIA A
DIA UMA VIDA DE CONSAGRAÇÃO A DEUS?
NESTE ANO QUE ESTÁ FINDANDO BUSCAMOS UMA VIDA DE SANTIDADE POR MEIO
DA ORAÇÃO, JEUM, ENSINO DA PALAVRA E CONQUISTAS DAS VIDAS PARA JESUS...
SEI QUE MUITOS CRESCERAM COMO NUNCA CRESCERAM ANTES NAS SUAS VIDAS
ESPIRITUAIS.
SEI QUE MUITOS RENUNCIARAM AS VONTADES DA CARNE O AMOR AO MUNDO E
VENCERAM AS TENTAÇÕES DO DIABO.
SEI QUE EXPERIMENTARAM MUITAS VITÓRIAS EM JESUS E TERMINAM O ANO
VISUALIZANDO VITÓRIAS MAIORES NO ANO QUE VEM...
SEI TAMBÉM QUE ALGUNS ESTÃO COMEÇANDO OS PRIMEIROS PASSOS DA VIDA
CRISTÃ.
SE VOCÊ ESTÁ COMEÇANDO A VIDA CRISTÃ AGORA SAIBA QUE A VIDA CRISTÃ
DEVE SER VIVIDA DE FÉ EM FÉ E VITÓRIA EM VITÓRIA, POIS, VOCÊ AGORA ESTÁ
ANDANDO COM DEUS.
VIDA CRISTÃ NORMAL NÃO É UMA VIDA DE CRENTES CABISBAIXOS POR SEREM
DERROTADOS PELO PECADO E O DIABO NÃO.
MAS, A VIDA CRISTÃ NORMAL É VOCÊ VIVER NA PRÁCTICA UMA VIDA DE ”MAIS
DO QUE VENCEDOR QUE VOCÊ É”.
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TALVEZ NESSE ANO VOCÊ NÃO FOI TÃO VENCEDOR COMO VOCÊ QUERIA SER OU
TÃO ESPIRITUAL COMO VOCÊ VIU OUTROS SEREM.
TALVEZ VOCÊ VIVEU MAIS COMO O HOMEM CARNAL DO QUE O HOMEM
ESPIRITUAL.
MAIS RELAXADO DO QUE COMPROMETIDO COM DEUS.
TALVEZ NESSE ANO VOCÊ FUGIU AO COMPROMISSO DE VIVER UMA VIDA SANTA E
DE BOM TESTEMUNHO DIANTE DOS HOMENS.
HOJE É DIA DE VOCÊ FALAR PRA DEUS QUE VOCÊ AINDA QUER TERMINAR O ANO
SE ARREPENDENDO E NOS POUCOS DIAS QUE RESTAM PARA ACABAR O ANO DE
2007 VOCÊ TERMINARÁ EXPERIMENTANDO VITÓRIAS EM DEUS PARA COMEÇAR O
ANO QUE VEM EMBALADO POR UMA VIDA DIFERENTE COM DEUS.
PROPÕE NO CORAÇÃO HOJE DE VIVER UMA VIDA DIFERENTE DA QUE VOCÊ
VIVEU ATÉ AGORA E DEUS VAI TE ABENÇOAR E VOCÊ VAI SER EXEMPLO DAQUI
PARA FRENTE...
FALE COM DEUS AGORA...
PSICOLOGIA DO ESPORTE
NO BRASIL.....
Ev.robério oliveira(Pregador e Conferêncista)Tel.075-99536335-07187981356
Introdução
Vários esforços têm sido feitos na
direção de delimitar os campos de atuação do psicólogo, mas ainda existem
questões presentes que não se esgotam. Mesmo com o aumento da freqüência de
discussões e trabalhos publicados, os estudos realizados referentes ao
exercício profissional do psicólogo continuam a apontar para uma limitada
percepção das possibilidades de atuação deste profissional (Botomé , 1988).
Segundo o mesmo autor, ainda é
presente no reconhecimento da Psicologia enquanto área de conhecimento e campo
profissional, o perfil predominante do saber fazer da clínica. Em outras
palavras, é como se o aprendizado oferecido nos cursos de formação continuassem
enfatizando a herança herdada pela Psicologia do modelo médico, onde as
atividades desenvolvidas pelos psicólogos estão muito mais voltadas para o
trabalho com indivíduos isolados ou grupos pequenos do que, por exemplo,
grandes contingentes populacionais. A prática clínica está tão enraizada nas
origens da Psicologia que a própria identidade entre Psicologia e psicoterapia
resiste a todo conhecimento produzido nos últimos 50 anos a respeito do que é e
pode ser a Psicologia tanto como área de conhecimento como quanto campo (ou
campos?) de atuação profissional (Botomé, 1988; p. 276).
Mesmo assim, essa forte ligação,
apesar de resistente, não impediu os diversos avanços que têm sido feitos na
direção de ampliar a prática do psicólogo para além da clínica. Para Francisco
e Bastos (1992), os psicólogos têm buscado consolidar uma atuação que não se
restringe mais só às atividades voltadas à mensuração de características
psicológicas e intervenção frente a problemas de ajustamento de indivíduos. Não
obstante, os órgãos oficiais (Conselhos Federal e Regional de Psicologia),
criaram em 2001, o título de especialista reconhecendo não só os campos mais
tradicionais da Psicologia (clínica, escolar e organizacional), mas também
aqueles que, através de pesquisas, se constituíram nos novos cenários de
atuação do psicólogo no Brasil (hospitalar, trânsito, jurídica, esporte,
psicopegagogia, psicomotricidade, social e neuropsicologia).
O parágrafo que se segue é um trecho,
de um dos temas das discussões, realizadas por comissões, em todos os Conselhos
Regionais de Psicologia, em 2000, a respeito da criação do título de
especialista, que prova a iniciativa de oficializar campos de atuação da
Psicologia até então, desconhecidos do ponto de vista legal.
A especialidade é, portanto, uma
decorrência do próprio desenvolvimento da Psicologia em suas diferentes áreas
de inserção, tais como hospitais, presídios, creches, fóruns etc. A Psicologia
não pode hoje ser vista como uma prática limitada ao consultório, aos recursos
humanos e à escola. Sua entrada em setores distintos produz modificações nessas
áreas, assim como no saber psicológico. Se desconsiderarmos, estas novas
realidades corremos o risco de reproduzir práticas tradicionais que não se
adaptem às novas demandas. É fundamental que essas práticas sejam
sistematizadas, com vistas à produção de conhecimentos científicos. A criação
do registro pode favorecer que profissionais com atuação numa mesma área se
unam, reflitam, pesquisem e aprofundem conhecimentos que representem avanços
tanto teóricos como práticos para a Psicologia (Jornal de Psicologia; 03-
04/2000).
Após quatro anos da
Resolução Nº 002/2001, baixada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 22
de março de 2001, os problemas referentes à prática profissional do psicólogo
prosseguem e estes não dizem respeito só ao campo da Psicologia do Esporte,
tema central deste curso. Na verdade, o que se percebe é que o título “garante”
o lugar do psicólogo no mercado de trabalho, mas não garante um conhecimento
que, a priori, deveria ser adquirido na sua formação, seja ela inicial ou em
nível de pós-graduação. E neste sentido, é unânime encontrar em várias obras da
literatura que discutem este assunto, autores como Botomé (1988); Francisco e
Bastos (1992); Bastos e Achcar (1994) e Duran (1994) que afirmam, apesar de
todas as mudanças voltadas a sistematizar a diversidade que permeia a
Psicologia enquanto área de conhecimento e campo profissional, a formação ainda
é uma questão pendente.
Em citações originais dispostas cronologicamente e por ordem de capítulos (especificamente para aqueles que fazem parte da mesma obra) é possível identificar alguns pontos comuns entre os autores, a respeito do tema levantado: Veja a seguir:
Em citações originais dispostas cronologicamente e por ordem de capítulos (especificamente para aqueles que fazem parte da mesma obra) é possível identificar alguns pontos comuns entre os autores, a respeito do tema levantado: Veja a seguir:
Botomé (1988):
...A formação profissional parece baseada em uma concepção de “modelo pronto de trabalho em Psicologia”. Há uma ausência, na formação, de habilitações para estudar, analisar, elaborar, testar e desenvolver projetos de trabalho profissional a partir de problemas, limitações e dificuldades (p. 277)
...O ensino
superior não parece dedicar-se a corrigir a tendência predominante do exercício
profissional. Mesmo por que, o currículo parece mais voltado ao ensino de
técnicas e modelos de atuação profissional já existentes do que ao
desenvolvimento de alternativas de atuação profissional socialmente
significativas.
Nem ao menos há,
ainda, uma significativa dedicação, na universidade, ao desenvolvimento de
conhecimento sobre outras possibilidades de realização do exercício e da profissão.
Os modelos de currículo e de ensino ainda enfatizam a “transmissão de
conteúdos”, ignorando que essa metáfora (algo “cheio” transmite “conteúdos” a
algo vazio) não é um discurso adequado para traduzir o processo que ocorre
quando alguém aprende a partir do que faz alguém que ensina...(p. 280-281).
No planejamento da
formação do psicólogo e no exame do exercício profissional há pouca clareza
sobre a distinção entre as concepções da Psicologia como área de conhecimento,
como campo de atuação profissional e como mercado de trabalho. O exercício da
profissão e a formação de novos psicólogos, sem essa distinção, correm o risco
de não superarem os vários problemas hoje existentes na atividade profissional
(p. 281).
Francisco e Bastos (1992):
Francisco e Bastos (1992):
...Ao se estudarem
os vínculos do exercício profissional com o processo de formação, a ênfase
normalmente recai nos aspectos curriculares que determinam a existência de um
modelo hegemônico de fazeres profissionais que veda a possibilidade de
diversificação do exercício da Psicologia. Como fator importante, ao formar
psicólogos cujo leque de competências não amplia a sua inserção no mercado e
não transforma campo potencial em demanda de serviços- os processos formativos
reproduzem o modelo hegemônico e ampliam o isolamento do psicólogo. Como
assinalam Weber e Carraher (1982), “existe um consenso de que o currículo
vigente no Brasil não reflete o estado atual da Psicologia como ciência e como
profissão. Constatam-se defasagens patentes entre o que aqui é ensinado e o que
é produzido nos grandes centros intelectuais, bem como entre o que o psicólogo
aprendeu e os desafios que afronta cotidianamente na sua prática profissional”
(p. 5) (213-214).
...Uma análise das
mudanças curriculares nos últimos 20 anos revela a preocupação e, mesmo, as
tentativas crescentes de atualização, embora saibamos que muito do modelo
tradicional perdura e que, para se empreender uma mudança estrutural, que
parece ser a meta, é necessário mais do que repensar carga horária ou
substituir disciplinas. Tais mudanças superficiais estão fadadas ao fracasso e
certamente não contribuirão para alterações significativas na construção da
ciência e prática psicológicas entre nós (p. 214).
Bastos e Achcar (1994):
...É necessário que no curso de formação acadêmica do psicólogo sejam rompidos os limites que o aprisionam a uma formação fragmentada e tecnicista ou que o preparem para reproduzir formas extremamente limitadas de enfrentar um reduzido leque de problemas (p. 325).
...A mudança na
formação não pode se reduzir ao plano dos conteúdos ou conhecimentos, mesmo que
a sua ampliação dê conta dos novos contextos, clientelas e problemas com os
quais o psicólogo passou a se deparar (p. 325).
Duran (1994):
Duran (1994):
...Muito do que tem
sido dito ou escrito convence da necessidade de reformas no plano de formação.
O quadro que se revela, a partir dos resultados e reflexões constantes dos
trabalhos até aqui expostos, nos mostra uma profissão em processo de
transformação e necessitando revisão em seus modos de formação profissional.
Tal revisão implica novas atitudes em relação ao conhecimento, a sua produção,
ao exercício da profissão e, naturalmente, ao processo formador. Não se esgota
em qualquer procedimento discreto, mas supõe um processo abrangente em que
instituições em vários níveis no âmbito da educação e no âmbito profissional,
nos limites de suas competências, promovam as avaliações e as medidas que
possam contribuir para aproximar a formação profissional das exigências sociais
que a derivam condicionar (p. 368).
Baseando-se nas citações acima, fica
claro que, desde aquela época, já existia uma necessidade emergente na
Psicologia, não só do reconhecimento de novas áreas, mas, principalmente, da
reestruturação das diretrizes de formação do psicólogo. Todos os autores, sem
exceção, apontavam para a necessidade de mudanças emergentes, destacando entre
elas: o abandono ao modelo hegemônico, que acaba dificultando ao psicólogo a
possibilidade de ampliar sua inserção no mercado e transformar seu campo
potencial em demanda de serviços; uma mudança estrutural no modelo de formação
que não se reduza apenas a repensar a carga horária ou substituir disciplinas
(Francisco e Bastos, 1992) e, um processo abrangente em que instituições, em
vários níveis no âmbito da educação e profissional, possam promover avaliações
e medidas que venham contribuir para aproximar a formação profissional das
exigências sociais que a deveriam condicionar (Duran, 1994).
Os autores, Bastos e Achcar (1994),
acrescentavam, também, que o fato de se discutir formação em nível de
graduação, não necessariamente implicaria que só o mesmo teria que dispor de
condições para preencher essas lacunas já que, dada a diversidade de problemas
e contextos que o psicólogo encontrava e encontra até hoje, a mesma não
conseguiria ser contemplada em toda a sua extensão num curso no nível de
graduação.
Mesmo porque, entende-se que a
formação dada pelos cursos universitários deve ou deveria constituir a base de
conhecimento para formar um profissional, e não se tornar o único recurso
responsável na aquisição do mesmo, que surge, posteriormente, na vida de um
profissional quando este se depara com novas necessidades produzidas pela
dinâmica do mundo e dos indivíduos que fazem parte dele.
Sendo assim, diante dessas e outras
mudanças emergentes apontadas pelos autores e pela própria Psicologia , em 12
de Abril de 2004, através da Resolução CNE/CES6 Nº 87, foram aprovadas as novas
Diretrizes Curriculares do curso de Psicologia, que propõem, hoje, como bases
de formação do psicólogo desenvolver competências e habilidades profissionais,
em substituição à tradição curricular baseada na enunciação de disciplinas e
conteúdos programáticos, que se expressaram historicamente na obrigatoriedade
de um currículo mínimo (Maluf e cols, 2003; p. 9). É, também, papel da formação
atual desenvolver forte compromisso com a perspectiva científica e com o
exercício da cidadania, assegurar postura ética, garantir visão integrada dos
processos psicológicos e permitir a ampliação dos impactos sociais dos serviços
psicológicos prestados à comunidade (p. 9).
Em outras palavras, pode-se afirmar,
que a aprovação das novas Diretrizes Curriculares significa não só o resultado
dos esforços que foram feitos na direção da reestruturação dos cursos de
Psicologia, mas também, a possibilidade de reflexão sobre estes esforços,
discutindo suas implicações e influências, principalmente, no campo da
Psicologia do Esporte, já que isolar os reflexos dessa reestruturação da área
em relação à própria estruturação deste campo seria inevitável ou, no mínimo,
impossível.
Neste sentido, não basta apenas olhar
para o processo de crescimento da Psicologia do Esporte no Brasil que, como já
apontado, anteriormente, é visível. É necessário sim, mergulhar em sua história
buscando identificar e entender em que bases os saberes que caracterizam seu
campo de intervenção foram construídos e quais as competências exigidas no
fazer profissional do psicólogo esportivo. Afinal, como profissão relativamente
nova, muito dos saberes da Psicologia do Esporte ainda estão se consolidando no
nível da ciência e isto influi no seu fazer, o que significa que ainda há
muitas divergências de dados, de teorias, de modelos, insuficientemente
pesquisados que necessitam maior aprofundamento. Além do que, a realidade
também tem demonstrado que os próprios psicólogos e estudantes de Psicologia
ainda reagem com certa estranheza à possibilidade de trabalhar, por exemplo,
junto a uma quadra de tênis ou campo de futebol.
No entanto, há de se considerar que o
esporte não é, hoje, apenas um espetáculo onde os indivíduos vivenciam
superações e se realizam, mas é, também, um meio no qual os atletas incorporam
papéis que se misturam a sua própria identidade, ao seu próprio self.
O que torna possível afirmar que
existe um elemento neste cenário, que está além da habilidade motora, o chamado
fenômeno psicológico, co-responsável pela produção de ações e reações que
mobilizam não só atletas, mas todos aqueles que direta ou indiretamente estão
envolvidos com o esporte. E é este o fenômeno, que tem sido responsável por
reformular, segundo Bastos e Achcar (1994), os esquemas conceituais que embasam
a atuação profissional do psicólogo, não só no campo da Psicologia do Esporte,
mas em outros campos de atuação.
Para os autores, o traço distintivo
de tal mudança consiste na busca de compreender o indivíduo e os fenômenos
psicológicos de forma integrada a outros fenômenos, especialmente aqueles de
cunho social, cultural e político (p. 305-306).
Ou seja, o que muda na intervenção do
psicólogo esportivo é apenas o tipo de atividade trabalhada – o esporte – e os
requisitos que são necessários ao bom desempenho do profissional da área. A
prática do psicólogo esportivo se assemelha às demais atividades de psicólogos
que lidam com a questão do trabalho, mudando, portanto, apenas o cenário
(Bonfim, 1994, p. 275).
Mas, se a “única” mudança que o
psicólogo enfrenta para trabalhar no campo da Psicologia do Esporte é seu
“locus de intervenção”, como relata Bonfim (1994), por que ainda existem tantos
equívocos a respeito de profissionais, que acabam exercendo funções que só
caberiam ao psicólogo ou psicólogos do esporte e a mais ninguém? Ou ainda, por
que a maioria das equipes esportivas e atletas continua privada da intervenção
deste profissional?
Talvez a resposta que se pretende
fornecer, ao longo deste trabalho, não seja tão “simplista” ou “ingênua” quanto
diria, tenha sido a dada por Bonfim (1994). Ao contrário.
Até o momento, algumas hipóteses já foram
levantadas, entre elas, a contradição existente entre a demanda de veículos de
formação e informação oferecidas aos profissionais e as queixas destes mesmos
profissionais sobre a dificuldade de encontrar formação e informação adequadas
para aprimorar seu conhecimento neste campo; a re-estruturação da própria
Psicologia enquanto área de conhecimento e enquanto campo de intervenção, que
passa, necessariamente como já mencionado, pela reforma curricular dos cursos
de formação inicial e, por que não dizer, dos cursos de formação lato e
stricto-sensu. Em outras palavras, talvez antes de se perguntar o porquê de
muitos profissionais assumirem funções ou intervenções que, legalmente, não
lhes pertence, seja necessário perguntar o quê, na verdade, faz um psicólogo do
esporte, quais são suas funções e, em que competências essas funções estão
alicerçadas.
A Psicologia no Brasil
A Psicologia no Brasil: história da
construção de uma ciência e sua práxis
Buscar
analisar a história de qualquer ciência se constitui numa tarefa complexa e,
muitas vezes difícil, já que seu processo de construção é contínuo e dinâmico.
E, no caso da Psicologia, isso não é diferente. A compreensão do processo de
construção histórica de uma área de conhecimento é tão imprescindível quanto o
conteúdo de suas teorias e o domínio de suas técnicas que, tomando
atemporalmente, são meros fragmentos de uma totalidade que não se consegue
efetivamente apreender (Antunes, 2001; p. 9).
Como protagonistas
desse cenário, muitos pesquisadores têm contribuído para atualizar ou
acrescentar maior conhecimento à humanidade através de estudos e pesquisas que
mostram a história da Psicologia sob vários aspectos: científico, prático e da
diversidade. Entre eles podemos citar Figueiredo (1992) que tem, através de
suas publicações, trilhado um caminho para entender melhor essa ciência nascida
no final do séc. XIX; Achcar (1994); Vilela, Cerezzo e Rodrigues (2001),
pesquisadores responsáveis pela publicação do Caderno Clio-Psyché10; Antunes
(2001); Massimi e Guedes (2004), além de outros pesquisadores ligados aos
órgãos oficiais, CFP e CRP (Conselho Regional de Psicologia). Todos, sem
exceção, têm apontado as inúmeras mudanças e crescimento nesta área. Por esse
motivo e, em virtude do valor das informações contidas em suas obras, estes e
outros autores foram utilizados como referência na construção desta lição.
Na
intenção de entender as raízes da Psicologia e seus reflexos para a Psicologia
dos dias atuais, procurou-se resgatar o processo que culminou no seu
desenvolvimento enquanto ciência, inicialmente na Europa e, logo após, no
Brasil já que: ao percorrer a história das idéias psicológicas ao longo da
cultura brasileira é possível evidenciar muitos dos conceitos utilizados pela
Psicologia moderna que possuem raízes no passado (Massimi, 2004, p. 65). No
entanto, para isso é necessário inicialmente entender como surgiu o que
chamamos hoje de psicológico.
Figueiredo
(1996), em uma de suas obras, afirma que o psicológico nasceu ou foi inventado,
a partir do que foi expurgado de um sujeito supostamente unitário e soberano
que, no final no séc. XIX viveu seu apogeu e sua dissolução ao começar a
perceber que o homem não ocupava o centro do mundo (p. 15). A partir daí, na
busca do entendimento desse sujeito, na intenção de restaurar o humanismo,
começaram a surgir as chamadas psicologias, representadas por diferentes
escolas que tinham, até aquele momento, como objetivo estabelecer uma
subjetividade indissociável.
O
homem, portanto, antes regido por uma razão que, até então, estava submetida à
fé, representante de um poder centralizador, sofreu transformações a partir do
surgimento do capitalismo. Este foi responsável pelo aparecimento de novas
necessidades, fazendo o homem ir à busca de um conhecimento que deveria ser
produzido por ele e não mais pela fé. Os dogmas da Igreja passaram a ser
questionados e a racionalidade tornou-se a grande arma para a construção desse
novo conhecimento.
Era
preciso quebrar a idéia de universo estático para poder transformá-lo. Era
preciso questionar a Natureza como algo dado para viabilizar a sua exploração
em busca de matérias primas.
Estavam,
portanto, dadas as condições materiais para o desenvolvimento da ciência
moderna (Bock, Furtado & Teixeira, 1999; p.38).
Desde
então, o conhecimento científico procurou avançar, na modernidade, através de
análises rigorosas do ponto de vista metodológico. As idéias mais claras e
simples, os objetos reduzidos em sua complexidade, a possibilidade de
quantificação dos fenômenos transformaram-se em pré-requisitos para um
conhecimento rigoroso e sistemático da natureza, condição para que um saber
almeje o status de científico (Mancebo, 2004; p.12).
O
modelo de racionalidade, portanto, passa a se estender progressivamente às
ciências sociais e humanas emergentes assim como às questões relacionadas ao
individual e ao coletivo, resultando em estudos voltados à necessidade de novas
teorizações que dessem conta dos interesses individuais, da vida em sociedade
recém-inaugurada, bem como ao duplo processo de individualização/integração em
que se sustentava a formação dos estados modernos (Mancebo, 2004; p. 12).
Surgem, então, as primeiras ciências sociais voltadas a desenvolver teorias
sobre a economia, política, o Estado, o social e também as primeiras ciências
psicológicas encarregadas dos indivíduos, suas paixões, pulsões e interesses
(Mancebo apud Mancebo, 2004).
O
capitalismo, portanto, se constitui num fator determinante na construção da
Psicologia enquanto ciência mas, segundo Antunes (2001), não foi o único. Ele
foi, utilizando uma linguagem simbólica da autora, o terreno fértil e propício
que deu o substrato para que a Psicologia se desenvolvesse e pudesse alçar à
condição de ciência independente (p. 115). O processo de constituição da
Psicologia foi multideterminado: não um, mais vários fatores contribuíram para
a construção do seu conhecimento científico, incluindo as influências da
Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia que alavancaram o entendimento da
Psicologia em relação ao homem através de descobertas importantes como, por
exemplo, a de que a doença mental era fruto da ação direta ou indireta de
diversos fatores sobre as células cerebrais (1846), ou ainda que a atividade
motora nem sempre está ligada à consciência, pelo fato de não estar
necessariamente na dependência dos centros cerebrais superiores (Bock, Furtado
& Teixeira, 1999).
Adquirindo
o status de ciência autônoma formada por diversas correntes, a Psicologia
desenvolveu campo e objeto próprios, diferenciando-se em relação às demais
ciências, ao adotar outros métodos e outras metas de investigação. A matéria
prima da Psicologia passou a se constituir no homem em todas as suas expressões:
as visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as
singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos
assim)- é o homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação, tudo isso
como síntese de uma subjetividade (Bock, Furtado & Teixeira, 1999; p.23).
Já no
Brasil, o reconhecimento da Psicologia enquanto ciência também não foi
diferente. Alicerçada, inicialmente pela Medicina e Educação, a Psicologia
conquistou espaço na necessidade de uma nova visão do homem e da sociedade.
Através da demanda produzida pelo país de solucionar seus problemas, promover a
educação, propiciar infraestrutura para a saúde e etc, a preocupação com os
fenômenos psicológicos se tornou intensa propiciando, por assim dizer, condições
para a busca de novos conhecimentos, muitos deles “importados” por brasileiros
do exterior que, na época, foram em busca de uma formação superior que, como
veremos a seguir, só foi criada no país no final do séc. XIX (ver p. 13).
Talvez, por conta disso, o período que compreende a última década do séc. XIX à
terceira década do séc. XX tenha sido considerado o momento histórico em que a
Psicologia alcançou sua autonomia em relação às outras áreas de conhecimento,
tornando-se reconhecida como ciência independente e, principalmente, integrada
a vários e importantes campos da vida social brasileira, quer pela sua própria
produção teórica, por sua prática ou até mesmo pelo fornecimento de técnicas
aplicáveis às situações mais amplas que a própria Psicologia (Antunes, 2001; p.
116).
No
entanto, numa pesquisa realizada por Massimi (1990), que abrange a História da
Psicologia Brasileira- da época colonial até 1934, encontram-se fatos que
comprovam que a manifestação pelo entendimento dos conhecimentos psicológicos se
dá muito antes do séc. XIX. A mesma autora, em 2004, em um capítulo intitulado
“As idéias Psicológicas na produção cultural da Companhia de Jesus no Brasil do
séc. XVI e XVII” descreve que ao analisar a produção luso-brasileira colonial,
verificou que delineavam-se temáticas mais relevantes no que diz respeito a
conhecimentos e práticas psicológicas, assim como se destacava o papel
significativo que alguns indivíduos exerciam, especialmente expressivos e
atuantes no âmbito da cultura oficial ou da cultura acadêmica e popular
brasileira (p. 27). Um exemplo dessa expressividade e atuação sob o povo
brasileiro foram os jesuítas.
Formados
pelo Colégio das Artes de Coimbra, palco de um dos movimentos filosóficos da
época (Segunda Escolástica Ibérica12), eles chegaram ao Brasil após 1549
assumindo a função de portadores e transmissores da tradição medieval e
renascentista da Europa, no contexto da colônia.
Através
de seus ensinamentos, estimularam idéias, sonhos e desilusões, riquezas e
contradições. A educação, portanto, era reconhecida como instrumento
privilegiado para criar um novo homem e uma nova sociedade no Novo Mundo, ou
seja, as Américas seriam o terreno fértil para se fecundar essa utopia, já que
na Europa isso não foi possível. Para colocar em prática tal objetivo, os
jesuítas viam na criação de escolas um dos caminhos possíveis para a realização
do ideal preconizado (Massimi, 2004). Além disso, segundo a autora, este
empreendimento acarretava a necessidade de formular conhecimentos e práticas de
caráter pedagógico e psicológico (p. 29), o que mais tarde, seria identificado
no conhecimento de si e do diálogo interpessoal, ambos promovidos pelo
desenvolvimento da espiritualidade, recurso este utilizado pela Companhia na
formação de seus membros.
Vale
ressaltar que os jesuítas também receberam fortes influências dos textos de
Aristóteles. Os comentários redigidos pela Companhia, encontrados em
Comentários Conimbricenses à Ética a Nicômano, impressos em Lisboa em 1593, já
que no Brasil, na época não havia imprensa, nos mostram que a concepção
psicológica é claramente inspirada na tradição aristotélico-tomista13 onde a
alma é definida como o ato primeiro e substancial do corpo, a forma do corpo e
o princípio de toda atividade (Massimi, 2004; p.31-32). Mas além deste, outros
tópicos de natureza psicológica também foram identificados neste período
retratando a contínua preocupação com a formação do indivíduo: as noções acerca
da estrutura e da dinâmica psicológica do homem (vontade, intelecto e apetite
sensitivo), as noções acerca dos estados da alma definidos como paixões, e as
relações entre as virtudes (hábitos) e as paixões (Massimi, 2004; p. 33).
Já nos
séculos XVII e XVIII, a história das idéias psicológicas foi marcada por uma
experiência bastante peculiar vivenciada pelos autores brasileiros: o do
autodidatismo.
Naquele
momento, o país ainda se resumia apenas numa colônia de exploração. Portugal
visava o lucro e, portanto, decidia o que deveria ou não ser produzido e a
maneira de fazê-lo.
Não
havia universidades e escolas de terceiro grau no território nacional para os
jovens brasileiros, o que acabou acarretando um êxodo dos mesmos para outros
países com o objetivo de adquirir conhecimento. Aqueles que aqui ficaram
adquiriram sua formação cultural num cenário bem diferente das grandes
universidades da época: buscaram realizar seus estudos num contexto hostil,
marcado pela desigualdade social, mas em momento algum, deixaram de produzir
obras que de forma significativa, influenciaram o desenvolvimento das idéias
psicológicas (Massimi, 2004).
Vários
foram os autores que abordaram o tema, relacionando-o principalmente às
condições vivenciadas pelo indivíduo. Entre eles podemos citar: Souza Nunes
(1734-1808), Matias Aires Ramos da Silva de Eça (1705-1770), Francisco de Mello
Franco (1757-1822), José Bonifácio de Andrade e Silva (1763-1838), este último
teve algumas de suas obras analisadas por Massimi (2004).
Enquanto
os jesuítas estavam preocupados em ensinar, corrigir, aconselhar e oferecer
regras de várias naturezas aplicáveis universalmente, estes autores propunham a
observação e reflexão da experiência individual, colocada como ponto de partida
da realidade social. Mesmo caracterizando uma dispersão e isolamento, evidentes
dos pensadores brasileiros, fruto talvez da desintegração da visão social ampla
do séc. XVI (Morse apud Massimi, 2004), algumas idéias psicológicas são
identificadas nesse período através das obras dos autores citados: o tema da
existência humana como transformação, mudança, movimento; tristeza e pessimismo
(marcado pela condição social que o indivíduo vivenciava na época); o
conhecimento humano e suas limitações; a vaidade do homem apontada como
limitação da própria razão humana, incapaz de atingir a verdade por estar presa
à dinâmica das paixões e, ao que parece o início da apropriação da Psicologia
pelas Ciências Médicas. A obra de Francisco de Mello Franco, por exemplo,
publicada em 1813, trazia como premissa que o estado físico do corpo tinha
grande influência nas manifestações da alma. Em outras palavras, Mello Franco
propunha que a medicina do corpo também daria conta da medicina da alma (Mello
Franco apud Massimi, 2004; p. 61). Mas Mello Franco apenas antecipou o que
seria mais tarde uma realidade no séc. XIX: a produção do saber psicológico
seria gerada no interior de outras áreas de conhecimento, fundamentalmente na
Medicina e na Educação. Este processo, segundo Antunes (2001) ocorreu em
decorrência das profundas transformações vivenciadas pelo país naquele período:
o Brasil passa de colônia à condição de império, ainda que se mantendo sob o
poder da realeza portuguesa, provocando profundas transformações à sociedade
(p. 23). Essas transformações geraram a criação de cursos superiores para
formar indivíduos capazes de dar conta da nova situação do país. Entre os
cursos estavam inseridas as duas escolas médico-cirúrgicas instaladas em
Salvador e no Rio de Janeiro, transformadas em 1832, em Escolas de Medicina, a
Faculdade de Farmácia (1832), as Escolas de Belas Artes (1877), Direito (1891) e
a Politécnica (1897). Essas três últimas derivaram-se da iniciativa privada,
formando em 1946 a recém fundada Universidade Federal da Bahia (Rocha, 2004; p.
89).
Mas são
nas Escolas de Medicina acima citadas, que se tem registros das primeiras teses
publicadas sobre assuntos psicológicos. Na época, os médicos para adquirirem o
título de doutor, precisavam, como em qualquer profissão nos dias de hoje,
defender uma tese de doutoramento ou inaugural, que lhe conferia o título.
Alguns dos trabalhos encontrados segundo Antunes (2001), tratavam, grosso modo,
de temas relacionados à Psiquiatria, Neurologia, Neuriatria, Medicina Social e
Medicina Legal. No entanto, muitas dessas teses antecedem a criação formal de
uma cátedra afim às questões psicológicas, já que a primeira delas foi criada
em 1881 e denominada de “Clínica das Moléstias Mentais” e o registro que se tem
de teses que tratam do fenômeno psicológico data de 1836 (p. 27).
Os
assuntos mais freqüentes encontrados nos conteúdos das teses foram amizade, amor,
gratidão, amor pela pátria, sexualidade (cópula, onanismo, histeria,
ninfomania, prostituição) e epilepsia, esta relacionada ao crime (área da
Medicina Legal). Mas, foi só ao final desse período que os temas mais próximos
da Psicologia começaram a surgir, revelando características de maior rigor
metodológico bem como uma base científica mais apurada. Um exemplo foi uma
tese14 defendida no final do séc. XIX, considerada por alguns autores como
sendo o primeiro trabalho de Psicologia Experimental, baseado em número
significativo de dados obtidos experimentalmente com o uso do psicômetro de
Buccola (Antunes, 2001).
A
partir daí, encontram-se também teses na área da Medicina Social, priorizando
melhores condições de saneamento das cidades e saúde da população que, até
então, eram extremamente precárias. Em 1830, também se iniciam as primeiras
reivindicações para criação de hospícios já que “os loucos” eram normalmente
encarcerados em prisões comuns, ou reclusos em celas especiais das Santas Casas
ou ainda, abandonados pelas ruas.
O
resultado desse movimento gerou, em 1842, a criação do Hospício Pedro II no Rio
de Janeiro. Assim como em outros países da Europa, “os loucos” eram afastados
de sua família, da sociedade para assumir uma rotina de isolamento, vigilância,
distribuição e organização de tempo com vistas à repressão, controle e
individualização (Antunes, 2001; p.30).
Já no
que diz respeito às influências exercidas pela Educação na produção do
pensamento psicológico, encontram-se as correntes de pensamento herdadas da
Europa. O liberalismo, o positivismo, a forte presença do tomismo e do
empirismo, o espiritualismo francês e o idealismo alemão são algumas das
correntes que constituíram, em seus conteúdos, questões relacionadas à natureza
psicológica. Vale ressaltar que estes conteúdos eram encontrados nos programas
dos cursos superiores criados neste século, sobretudo em obras filosóficas
escritas por teólogos, médicos e professores. Segundo Antunes (2001), tais
obras consideravam a Psicologia como parte integrante da metafísica, tendo como
objetivo de estudo geralmente “a alma”, “o espírito” e “o eu” (p. 25).
Outra
influência apontada pela autora em relação ao desenvolvimento do pensamento
psicológico foi a preocupação pedagógica da época. Os profissionais designados
à educação entendiam que os métodos de ensino envolviam não só o conteúdo a ser
ensinado, mas principalmente a necessidade de conhecimento sobre o educando e à
formação do educador, o qual deveria dominar esse saber para realizar mais
eficazmente sua ação pedagógica (p. 25). Passa-se a se esboçar, portanto, uma
sistematização que irá assumir dimensões maiores no séc. XX, buscando maior
aprofundamento e especialmente maior rigor metodológico em seu estudo, o que,
historicamente, culmina com o reconhecimento da Psicologia como ciência na
mesma época, na Europa e, em seguida nos Estados Unidos.
Pode-se
dizer, portanto, que a virada do século caracterizou um intenso desenvolvimento
da ciência psicológica em todas as instâncias, quer no plano teórico, destacando-se
a diversidade de abordagens surgidas nessa época, como o aumento significativo
na produção de pesquisas-quer no plano prático, em que esta ciência penetrou e
ampliou seu potencial de aplicação (Antunes, 2001; p. 37).
Mesmo
assim, a Psicologia no Brasil ainda permaneceu ligada a outras áreas do saber
por muitos anos e, só gradativamente, foi delas se separando e assumindo seu
espaço próprio por meio da definição e delimitação cada vez mais explícitas de
seu objeto de estudo e seu campo próprio de ação.
O
Brasil da década de 1930 traz um cenário de diversas transformações, entre elas
o início do processo de industrialização que acaba mobilizando no país, a
necessidade de otimização do trabalho assim como a eficientização do processo
educacional como uma possibilidade de atender uma parcela significativa dos
problemas referentes à força de trabalho (Mancebo apud Mancebo, 2001).
Portanto, as primeiras intervenções psicológicas no Brasil ocorreram junto aos
trabalhadores que, na época, passaram a ser selecionados para trabalhar nas
indústrias e no comércio, a partir da criação do Departamento do Serviço
Público (DASP), no governo Getúlio Vargas, através de concursos. Cabia à
Psicologia avaliar aptidões e habilidades dos indivíduos como um critério de
alocação dos sujeitos no trabalho promovendo, ao lado do aperfeiçoamento
técnico, uma adaptação mais harmoniosa e produtiva aos cargos e funções
(Mancebo, 2001; p. 3-4). Isso significou, do ponto de vista da intervenção, a
aplicação de testes psicológicos e descoberta de aptidões profissionais
individuais e seleção/orientação prévia para o mercado de trabalho. Um exemplo
disso foi o curso ministrado em 1945 na Fundação Getúlio Vargas, pelo professor
Mira y Lopes, figura de relevo internacional no campo da Psicologia Aplicada ao
trabalho, cujo tema foram os problemas enfrentados em seleção, orientação e
readaptação (Mancebo, 2001).
Além
deste, outros fatos históricos auxiliaram no crescimento da Psicologia não só
enquanto ciência, mas enquanto campo de atuação.
Observa-se
que houve um amadurecimento da Psicologia entre 1953 e 1962, período este em
que o número de atividades realizadas aponta para indícios de uma maior
organização e sistematização tanto da área de conhecimento quanto da profissão.
Não à toa, os esforços dos profissionais engajados nessas e outras atividades
resultaram, mesmo com a reivindicação de um grupo de médicos pelo veto ao
exercício da psicoterapia por profissionais que não tivessem formação em
Medicina17, na aprovação da lei nº 4119, em 27 de agosto de 1962, que
reconhecia a profissão de psicólogo no país. Esta lei foi acompanhada por uma
ementa que dispunha sobre os cursos de formação deste profissional e fixava seu
currículo mínimo.
Também
em 1962, a Portaria nº 227 baixada pelo Ministério da Educação, designou uma
comissão de professores de Psicologia e de especialistas em Psicologia Aplicada
para apreciar a documentação de candidatos ao registro profissional de
psicólogo. No entanto, por falta de atos complementares à lei, a comissão não
conseguiu dar início às atividades naquele ano, dando continuidade ao processo
apenas em 1963, quando, nova portaria garantindo as necessidades legais,
possibilitou o início dos trabalhos da comissão que recebeu, só nesta época,
1.511 pedidos para a obtenção do registro profissional. Estes profissionais,
pode-se afirmar, foram os primeiros psicólogos reconhecidos legalmente no país,
cuja formação superior fora obtida principalmente em Pedagogia e Filosofia
permitindo ao Brasil, o lugar de um dos primeiros países do mundo a aprovar e
regulamentar legalmente a profissão de psicólogo (Massimi, 1990; p. 1).
Mas a
luta só estava começando afinal, da mesma forma que a situação política do país
alavancou o desenvolvimento da Psicologia e seu reconhecimento como profissão,
assim também provocou inúmeras adversidades através dos acontecimentos
ocorridos na época, como por exemplo, o Golpe de 64 e a Reforma Universitária
de 1968.
É,
também, no decorrer desse período que acaba se observando um aumento
significativo das Instituições de Ensino Superior (IES) no setor privado. As
IES funcionavam, na maioria das vezes, em condições precárias oferecendo cursos
que não necessitavam nada mais do que salas de aula e professores, estes
últimos nem sempre possuíam a qualificação esperada para formar novos
profissionais (Antunes, 2004). Ainda assim, a procura pelos cursos superiores
aumentou consideravelmente, da mesma maneira que o interesse pela Psicologia.
Na
verdade, pelo fato do curso de Psicologia não significar, naquela época, muito
investimento para as instituições no que diz respeito a sua estrutura na
utilização de material, equipamentos de laboratório, etc, as IES particulares
passaram a deter o maior número de cursos de Psicologia e conseqüentemente, a
responsabilidade na formação dos futuros psicólogos a caminho do mercado de
trabalho.
Os
psicólogos encaminhados ao mercado de trabalho passaram, então, a responder a
uma demanda maior do que a realidade, provocando saturamento, desemprego quando,
não obstante, mão de obra inadequada apontada por Antunes (2004) quando se
refere por exemplo, à discussão fomentada na época, entre Psicologia e
Educação, um dos primeiros campos de intervenção do psicólogo fora da clínica:
ou seja, de um lado, o conhecimento psicológico estava incorporado aos
diferentes aspectos da Pedagogia e à prática profissional dos educadores; por
outro lado, a atuação do psicólogo na escola estava muito mais calcada numa
perspectiva clínica, ocupando-se do atendimento individual de crianças
designadas como portadoras de problemas de aprendizagem (Antunes, 2004; p.141).
Não
diferentemente do que se esperava, duras críticas foram feitas, tanto por
psicólogos quanto por educadores, em relação à atuação dos psicólogos na escola
apontando para uma deficiência na adequação do fazer deste profissional. Houve
até um momento, em que muitos dos psicólogos desacreditaram na possibilidade da
Psicologia contribuir com as questões educacionais, o que mobilizou a inibição
de muitos psicólogos, na época, em dar continuidade ao trabalho na escola, já
que a expectativa de sua atuação estava voltada para a clínica e não para
intervenções pedagógicas e coletivas. Os poucos trabalhos que conseguiram
intervir no espaço escolar de maneira mais ampla, foram aqueles que se firmaram
e permitiram ao longo dos anos, o desenvolvimento da Psicologia Escolar
(Antunes, 2004).
Em
outras palavras, o exemplo acima citado serve para demonstrar que todos os
campos de atuação delimitados pela Psicologia ao longo de sua trajetória
tiveram seu saber e saber fazer questionados por outros profissionais que, a
princípio se consideravam, por sua formação e prática, “proprietários” do
conhecimento que caracterizava esses campos.
O
problema, no entanto, é que muitas vezes, os questionamentos acabaram por se
concentrar não só no campo das idéias (delimitação de espaços e habilidades), o
que teria contribuído e muito, para o crescimento de ambos, mas sim, na
substituição do profissional de Psicologia por outro, que se julgava capaz de
exercer o mesmo tipo de trabalho ou intervenção do psicólogo.
Por
conta disso e de outros fatores caracterizados na emergência de discutir o
papel do psicólogo nos dias atuais, a Psicologia se viu com a missão de, não só
regulamentar, legalmente, os campos de atuação do psicólogo, mas,
principalmente, discutir continuamente os saberes que envolvem e alicerçam sua
prática.
Esse
movimento pode ser comprovado por diversas publicações, organizadas por
profissionais da área, principais escritores dessa história, que têm produzido
conhecimento através de pesquisas que auxiliam na formalização da atuação do
psicólogo nos mais diversos campos nos quais têm atuado, ultimamente, incluindo
aqueles que, há algum tempo atrás, não eram reconhecidos como possibilidade para
o psicólogo. É o caso da Psicologia do Trânsito, Psicologia Jurídica,
Psicologia do Esporte (tema desse curso), entre outros.
Psicologia do Esporte no Brasil
Psicologia do Esporte no Brasil: trajetória e rumos de um campo
em construção
Para se compreender a
Psicologia do Desporto, quer quanto às teorias que a fundamentam, como quanto a
sua aplicação prática, é necessário perceber em que consiste o seu conceito,
qual o seu percurso histórico e o seu estado actual (Araújo, 2002; p. 9).
Ao iniciar esta lição citando Araújo, in Serpa e Araújo (2000), é possível perceber que a preocupação com a Psicologia do Esporte não se restringe apenas aos profissionais que compõem o cenário brasileiro. Profissionais de outros países, já há algum tempo, têm desenvolvido trabalhos e pesquisas na tentativa de delinear e compreender o perfil da Psicologia do Esporte dentro de sua realidade específica.
Sendo
assim, sem isentar fatos e acontecimentos de outros países que tenham
influenciado, em algum momento, a história da Psicologia do Esporte no mundo e,
em particular, a “nossa história”, o presente capítulo tem como objetivo
definir e compreender a trajetória da Psicologia do Esporte no Brasil,
identificando em que bases se alicerçam seus fundamentos teóricos, como tem se
constituído seu processo de evolução ao longo do tempo até os dias de hoje,
assim como as necessidades contempladas em função do seu contínuo crescimento.
Para
tal, acredita-se que o ponto de partida para contar essa história se inicie, a
partir do que a literatura nacional traz a respeito da definição de Psicologia
do Esporte. No entanto, acredita-se ser importante considerar, antes de
recorrer às definições de autores nacionais a respeito do tema, que existem
inúmeras definições sobre Psicologia do Esporte. Algumas, inclusive,
encontram-se concentradas em capítulos de duas publicações da literatura
nacional que também discutem a história e o papel da Psicologia do Esporte no
Brasil: Barreto (2003) e Franco (2004). Veja quadro a seguir:
Nomes dos autores estrangeiros
e nacionais que definem a Psicologia do Esporte
De
acordo com o quadro acima, é possível contabilizar em Barreto (2003; p. 62-63)
12 definições sobre Psicologia do Esporte. Destas 12 definições, no entanto,
apenas três são de autores nacionais: Da Silva (1967), Becker Jr. (2000) e
Barreto (2001). Já Franco (2004; p. 34-36), apresenta 16 definições sobre o
tema e, da mesma forma que em Barreto (2003), apenas três delas são referência
nacional: Samulski (1992), Machado (1997) e Becker Jr. (2000). Também é
possível observar, a partir desses dados, que tanto Barreto (2003) quanto
Franco (2004), têm 6 citações de autores em comum, como Lawther (1972; 1973),
Singer (1977; 1978)21; Thomas (1983; 1983), Cratty (1984; 1989), Casal (1996;
1996), além de Becker Jr. (2000; 2000).
Não
seria possível afirmar, mas talvez levantar a hipótese de que estes seis
autores poderiam ser aqueles cujas definições de Psicologia do Esporte aparecem
com maior freqüência nas publicações sobre o assunto. Além disso, um outro dado
importante e este sim, relevante à discussão que se propõe aqui, é com relação
aos autores nacionais. De acordo com o Quadro anterior, ao somar os autores
nacionais citados por Barreto (2003) e Franco (2004), obtêm-se cinco definições
sobre Psicologia do Esporte (incluindo Becker Jr.), comum para ambos os autores,
num período que vai de 1968 (Da Silva) até 2000 (Becker Jr.). Ou seja, em 38
anos, de acordo com estes autores, a Psicologia do Esporte no Brasil foi
definida de cinco formas diferentes o que, num primeiro momento, pode refletir
não só a diversidade, mas a dificuldade de se chegar a um consenso sobre então
o que é a Psicologia do Esporte?
Mesmo
Franco (2004), ao discutir as diferentes definições sobre Psicologia do
Esporte, já aponta para essa preocupação sobre as divergências encontradas na
compreensão desta jovem ciência. Segundo a autora, um dos motivos que levaria a
essa realidade é que, ao se deparar com diferentes definições, depara-se
conseqüentemente, com a forma como cada autor enxerga a Psicologia do Esporte,
seus objetivos e aplicação.
Nesse caso,
levando-se em conta os dados apresentados no Quadro anterior, haveria ainda 22
definições, ou melhor, 22 autores diferentes definindo a Psicologia do Esporte,
de acordo, não só com sua formação teórica, mas a realidade na qual esse autor
está inserido, cultura, experiência prática e etc.
Vale
relembrar, no entanto, que este capítulo não tem como objetivo discutir toda e
qualquer definição dada para a Psicologia do Esporte ao longo de quase 100 anos
(se levar em conta o primeiro encontro científico realizado em 1913, em
Lausane-Suíça), o que, só pela sua extensão, já acarretaria num novo curso, mas
sim, propor a reflexão e discussão sobre a Psicologia do Esporte no Brasil,
tomando-se como base publicações nacionais mais recentes como Becker Jr.
(2000), Samulski (2002), Barreto (2003) e Franco (2004) que trazem, em suas
obras, definição e discussão sobre o tema em questão.
Sendo
assim, ao se deparar com as definições dadas por estes autores sobre Psicologia
do Esporte, já é possível observar diferenças, ou na forma como os mesmos
definem a Psicologia do Esporte, ou na escolha que realizam de definições já
publicadas por outros autores. Veja a seguir:
É a disciplina que investiga as
causas e os efeitos das ocorrências
psíquicas que apresenta o ser humano antes, durante e
após o exercício ou o esporte, sejam estes de cunho educativo, recreativo, competitivo ou reabilitador (Becker, 2000; p. 19).
após o exercício ou o esporte, sejam estes de cunho educativo, recreativo, competitivo ou reabilitador (Becker, 2000; p. 19).
A Psicologia do Esporte
representa uma das disciplinas da Ciência
do Esporte e constitui um campo da Psicologia Aplicada.
Segundo Nitsch (1989:29) a “Psicologia do Esporte analisa as bases e efeitos psíquicos das ações esportivas, considerando por um lado, a análise de processos psíquicos básicos (cognição, motivação, emoção) e, por outro lado, a realização de tarefas práticas do diagnóstico e da intervenção” (Samulski, 2002; p. 3).
Segundo Nitsch (1989:29) a “Psicologia do Esporte analisa as bases e efeitos psíquicos das ações esportivas, considerando por um lado, a análise de processos psíquicos básicos (cognição, motivação, emoção) e, por outro lado, a realização de tarefas práticas do diagnóstico e da intervenção” (Samulski, 2002; p. 3).
A Psicologia do Esporte é a
ciência do comportamento que visa
auxiliar e exercitar o treinador e os atletas de alto rendimento, através de uma metodologia de preparação
psicológica, voltada para
o desenvolvimento e aprimoramento das habilidades psicomotoras no tocante à auto-eficácia e à
auto-eficiência, na adaptação
ao estresse pré-competitivo e, como principal meta, capacitá-los cognitiva, emocional e
psicomotoramente, noenfrentamento adaptativo do estresse agonístico, na busca
da máxima
eficiência nas suas performances (Barreto apud Barreto, 2003; p. 62).
A Psicologia do Esporte se
interessa pelos fatores psicológicos
que influenciam a prática do esporte e do exercíciofísico, assim pelos efeitos
psicológicos que derivam dessa participação
(Williams apud Franco, 2004; p. 35).
Baseando-se nessas definições acima descritas, é possível identificar contradições e semelhanças a respeito do que é e a que se propõe a Psicologia do Esporte no Brasil.
Segundo
Becker Jr. (2000), por exemplo, a Psicologia do Esporte denominada por ele de
Psicologia Aplicada ao Esporte e ao Exercício é uma disciplina científica, cujo
campo profissional está associado a três áreas distintas: Prática do exercício
e do esporte, Psicologia e outras ciências. Ou seja, segundo este autor, há uma
subdivisão clara da Psicologia do Esporte: em primeiro lugar, a Psicologia
associada à prática de exercício e esporte estaria estudando questões
emocionais originadas pelo praticar exercício e/ou esporte. Nessa direção,
afirma Becker Jr.: A Psicologia objetiva também, estudar o efeito do exercício
sobre a área emocional do ser humano normal como aquele portador de patologias
(2000, p. 20). Em segundo lugar, submetida à área da Psicologia, a Psicologia
do Exercício e Esporte fudamentaria-se nas diferentes linhas da Psicologia e,
de um modo geral, como subdisciplina desta, contribuiria para seu maior
entendimento (p. 20). E, em terceiro e último lugar, submetida ao que o autor
chama de outras ciências, a Psicologia do Exercício e do Esporte ocuparia o
lugar de uma disciplina entre as ciências do Movimento Humano e as Ciências do
Esporte. Em outras palavras, o profissional em atuação nesta área poderia
ganhar conhecimento específico através de investigações, utilizando abordagens
interdisciplinares, ou seja, usando o conhecimento de outras ciências (p. 20).
Aparentemente,
a definição dada por Becker Jr. (2000), parece ser, à primeira vista, a que
mais abrange possibilidades de intervenção para a Psicologia do Esporte, não
fossem algumas questões que merecem ser levantadas. A primeira se refere à
afirmação do autor em relação à Psicologia do Esporte como sendo uma disciplina
e não um campo de intervenção da Psicologia como já reconhecido e mencionado ao
longo deste trabalho. Isso significa que, no papel de disciplina e não de campo
de intervenção, a Psicologia do Esporte poderia estar inserida em qualquer
área, cujos interesses estão relacionados ao seu conteúdo, portanto, às
Ciências do Movimento Humano e às Ciências do Esporte, como o próprio Becker
Jr. afirma (2000; p. 20).
Como
conseqüência, ao assumir essa posição, a Psicologia do Esporte, neste sentido,
seria vista apenas como uma disciplina acadêmica, cujo conteúdo abrangeria
teorias e métodos que permitissem ao aluno aprender como lidar emocionalmente
com um indivíduo que pratica exercício ou esporte, já que as ciências acima
citadas são ciências que reconhecem a Educação Física como uma de suas áreas
(Reis, 2002; Tubino, 2002). Nesta mesma linha de raciocínio, ainda Becker Jr.
teria estabelecido a Psicologia do Esporte como subdisciplina da Psicologia, ou
seja, como uma nova disciplina submetida a uma outra, dentro da própria
Psicologia.
A
Psicologia do Esporte, portanto, seria tanto uma disciplina da Psicologia como
da Educação Física e, dessa forma, tanto psicólogos como educadores físicos
poderiam aprender e desenvolver trabalhos nesta área (?), campo (?), disciplina
(?) ou subdisciplina (?).
Já a
definição de Samulski (2002), além de demonstrar a influência de um autor
estrangeiro (Nitsch), estabelece que a Psicologia do Esporte é uma disciplina
das Ciências do Esporte e um campo da Psicologia aplicada. Ao fazer essa
afirmação, o autor assume que a Psicologia do Esporte está inserida em duas
áreas distintas da ciência que contêm, em suas características, referenciais
teóricos e conteúdos bastante diferenciados.
Um
outro aspecto a ser levantado é que, ao endossar a afirmação de Nitsch que, a
“Psicologia do Esporte analisa as bases e efeitos psíquicos das ações
esportivas, considerando por um lado, a análise de processos psíquicos básicos (cognição,
motivação, emoção) e, por outro lado, a realização de tarefas práticas do
diagnóstico e da intervenção”, Samulski defende um fazer da Psicologia do
Esporte, inicialmente, voltado apenas ao alto rendimento, já que o mesmo não
esclarece o que ele denomina de “ações esportivas”, ou seja, se essas ações são
apenas voltadas à competição ou também se incluem ações de lazer e saúde.
A
terceira definição aqui relacionada é a definição de Barreto (2003). Essa
definição já deixa explícito que não existe qualquer outro fazer da Psicologia
do Esporte que não seja o do alto rendimento. Sem hesitação, o autor afirma que
o trabalho de intervenção está focado diretamente para o desenvolvimento e
aprimoramento das habilidades psicomotoras no tocante à auto-eficácia e à
auto-eficiência, na adaptação ao estresse pré-competitivo e, como principal
meta, capacitá-los cognitiva, emocional e psicomotoramente, no enfrentamento
adaptativo do estresse agonístico (p. 62). Qualquer que seja o trabalho de
orientação psicológica, este deve estar voltado ao sucesso e à superação do
atleta, visando sempre a máxima eficiência nas suas performances. Em outras
palavras, a Psicologia do Esporte, baseada nesta definição, não teria espaço no
esporte de reabilitação, atividade física, projeto social e etc, ou, se
abrangesse todas essas possibilidades, talvez não se chamasse Psicologia do
Esporte.
Ainda
em Barreto (2003), um outro dado importante que aparece na sua definição é
quando afirma que a Psicologia do Esporte é a ciência do comportamento. Se
analisado por esse prisma, é possível sugerir duas interpretações: a primeira é
de que, sendo uma ciência do comportamento, a Psicologia do Esporte poderia
estar inserida em qualquer uma das ciências reconhecidas como ciências do
comportamento como a Antropologia, Sociologia e a própria Psicologia (que teve
sua origem, inicialmente, como ciência do comportamento através dos
experimentos realizados em laboratório no final do séc XIX). Em segundo lugar,
essa afirmação também pode levar ao entendimento de que a Psicologia do Esporte
seria uma ciência relacionada à Análise do Comportamento, ou seja, uma das
abordagens reconhecidas dentro da área da Psicologia voltada a estudar,
especificamente, o comportamento do indivíduo.
No
entanto, avançando um pouco mais na obra de Barreto (2003), em um capítulo
denominado Campos Psicológicos como base da Psicologia Esportiva, é possível
encontrar uma postura mais flexível e, ao mesmo tempo, mais determinada do
autor, a respeito da Psicologia do Esporte. Afirma Barreto: o esqueleto da
psicologia esportiva repousa na riqueza científica das psicologias aplicadas
(p. 67). Ou seja, para ele, são os vários campos da Psicologia aplicada que
irão alicerçar as bases científicas da Psicologia do Esporte fornecendo, através
da sua diversidade, contribuições significativas no que diz respeito ao fazer e
ao saber fazer do psicólogo esportivo e por que não do educador físico que,
segundo Barreto (2003), costuma usar princípios da Teoria do Reforçamento
Contínuo e Intermitente nos seus ensinamentos, na tentativa de motivar o atleta
a um desempenho melhor na aprendizagem de sua habilidade técnica (p. 68). Um
pouco mais adiante reafirma: um treinador inteligente ajuda o atleta a
manter-se dentro dos níveis de sua realidade técnica, encorajando-o a obter
mais progressos nas metas estabelecidas (p. 69).
Estas
duas frases estão incluídas na explicação dada pelo autor sobre as
contribuições de um dos campos da Psicologia à Psicologia do Esporte, a
Psicologia Experimental. Além deste, são ainda citados os campos da Psicologia
do Desenvolvimento, Psicologia da Personalidade, Psicologia Educacional,
Psicologia Social e Psicologia Clínica. Portanto, para Barreto (2003), a
Psicologia do Esporte está voltada ao alto rendimento e, sua base teórica é
formada, principalmente, pela contribuição advinda dos vários campos aplicados
da Psicologia.
A
quarta e última definição não é de autoria de Franco (2004). Na verdade a
autora, como já mencionado anteriormente, ao discutir as diferentes definições
da Psicologia do Esporte, deixa clara sua preferência pela definição de
Williams (1991). Segundo ela, a Psicologia do Esporte ainda é vista por alguns
autores como diagnosticadora de percalços esportivos (p. 37), isso quer dizer,
voltada apenas a diagnosticar causas de uma enfermidade sem valorizar o fator
prevenção. Por conta disso, sua escolha por Williams (1991) se deu pelo fato de
acreditar que sua definição abarca tanto a aplicação da Psicologia do Esporte
no contexto esportivo como na atividade física, fatores importantes que alguns
autores ainda excluem; e, além disso, considera a influência recíproca entre os
efeitos psicológicos e a prática do esporte ou do exercício físico, isto é,
tanto o esporte quanto o exercício interferem no psiquismo como este pode
alterar a prática física (p.33).
O
mesmo, no entanto, não pode ser observado nas outras três definições
apresentadas por Becker Jr. (2000), Samulski (2002) e Barreto (2003). Nenhuma
delas consegue se sustentar por si só. Todas, na verdade, acabam se complementando
de uma forma ou outra. Em Becker Jr. (2000) e Samulski (2002), por exemplo,
encontram-se pontos comuns: ambos classificam a Psicologia do Esporte não como
um campo da Psicologia, mas como uma disciplina das Ciências do Esporte; já as
definições de Becker Jr. (2000), Samulski (2002), Barreto (2003) e Williams
apud Franco (2004) afirmam que a Psicologia do Esporte investiga, analisa,
auxilia e se interessa pelas causas e efeitos dos fatores psíquicos que ocorrem
com o atleta.
Das
quatro definições, no entanto, apenas Becker Jr (2000) e Williams apud Franco
(2004) abordam a Psicologia do Esporte voltada não só para o esporte de alto
rendimento, mas também à atividade física, ou seja, a quem apenas pratica um
exercício, seja por saúde ou lazer. Nos dois outros autores, Samulski (2002) e
Barreto (2003), fica claro que a Psicologia do Esporte está voltada para
atletas de alto rendimento, enfocando auto-eficácia, melhora da performance e
etc.
Diante
dessa realidade, de semelhanças e contradições apresentadas até o momento,
torna-se difícil não evidenciar a dificuldade de se definir a Psicologia do
Esporte e, conseqüentemente, delimitar seu público alvo, assim como os
profissionais aptos a exercer o trabalho de intervenção. Na mesma proporção,
não bastando diferentes definições, ainda existem diferentes denominações.
Alguns
autores como Becker Jr (2000) e Samulski (2002) costumam usar, para se referir
à Psicologia do Esporte o nome Psicologia do Exercício e Esporte ou Psicologia
do Esporte e do Exercício; outros preferem apenas utilizar Psicologia do
Esporte ou ainda Psicologia aplicada ao esporte e, talvez, o que cause maior
discussão seja a denominação Psicologia no esporte. Isso porque, na verdade, a
questão não se resume a apenas um nome, mas sim ao que ele pode abranger a
partir de sua denominação.
Já fora
do Brasil, por exemplo, os termos utilizados normalmente, são Psicologia do
Esporte e do Exercício (Sport and Exercise Psychology) e Psicologia do Esporte
(Sport Psychology). Mesmo não incluindo o termo Exercício, a segunda
denominação não traz contradições na sua definição, quando comparada à
primeira. Tampouco, encontram-se discussões em torno da preposição do ou no em
Psicologia do Esporte. Este fato pode significar que, em outros países, a Psicologia
do Esporte conserva a mesma identidade, no que diz respeito a objetivos e
público alvo. Um exemplo que comprova essa afirmação se encontra em Araújo
(2002), autor português, citado no início desse capítulo, que procurou, através
das definições de autores como Feltz (1992); Gill apud Feltz (1992), Cratty
apud Feltz (1992), Singer (1993) e a Federação Européia de Psicologia do
Esporte e das Atividades Corporais (FEPSAC) (1995), investigar também o que
constituía a Psicologia do Esporte para esses autores.
A
conclusão a que Araújo (2000) chegou a partir das definições dos autores e
Federação Européia de Psicologia foi a seguinte: de que, a própria FEPSAC,
enquanto Federação Européia de Psicologia do Esporte e das Atividades Físicas,
criada em 1968 durante o primeiro Congresso Europeu de Psicologia do Esporte,
em Varna (Bulgária), com o objetivo de sossegar as divergências até então
apontadas pelos autores acima citados pelo autor (p. 10), emitiu sua própria
definição de Psicologia do Esporte:
A Psicologia do Esporte diz
respeito aos fundamentos psicológicos, processos e conseqüências da regulação
psicológica de atividades relacionadas ao esporte, tendo como sujeitos dessa
atividade uma ou mais pessoas. O foco pode ser um comportamento ou aspecto
(dimensão) psicológico do comportamento humano, seja ele afetivo, cognitivo,
motivacional ou sensório-motor. A atividade física pode acontecer num contexto
competitivo, educacional, recreativo, preventivo e de reabilitação, incluindo
exercícios realizados para saúde. Os sujeitos são todas as pessoas envolvidas
em diferentes contextos do esporte e do exercício como atletas, treinadores,
juízes, professores, fisioterapeutas, pais, espectadores, etc.
(tradução livre)
(tradução livre)
Segundo
Araújo (2000), essa definição conseguiu satisfazer os dois lados possíveis da
Psicologia do Esporte no que diz respeito ao seu objetivo e intervenção: o
esporte competitivo e a atividade física, esta última não visando ao
rendimento, mas sim, à educação, à recreação, à saúde, ao lazer e à reabilitação.
Já em
termos de Brasil, o que se encontra em termos de órgãos representativos da
Psicologia do Esporte é bem restrito. Além Sociedade Brasileira de Psicologia
do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOBRAPE), criada em 1979, em
Novo Hamburgo-RS, a Sociedade Mineira de Psicologia do Esporte e a Sociedade
Gaúcha de Psicologia do Esporte e do Exercício (SOGAPE) e, a Associação
Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP), criada em 2003, durante o I
Simpósio de Psicologia do Esporte, promovido pelo Instituto Sedes Sapientiae,
em SP.
Vale
ressaltar, porém, que apenas a Sociedade Mineira de Psicologia do Esporte e a
SOGAPE aparecem cadastradas no site da SOBRAPE, recentemente desenvolvido. E
aqui é importante um parêntese em relação a essa questão: não fica claro se, a
existência de apenas duas Sociedades registradas no site se deve ao fato da
pouca divulgação sobre o mesmo, ou se, até hoje, após 26 anos, só estas duas
Sociedades se credenciaram.
De
qualquer forma, essa iniciativa da SOBRAPE, de criar um site, representa um
movimento importante na direção de tornar essa Sociedade mais acessível aos
interessados em Psicologia do Esporte e aos profissionais que atuam e/ou
contribuem nesse campo.
Resta
só saber, se o mesmo também irá ajudá-la a se reafirmar enquanto órgão oficial,
ajudando-a a cumprir os objetivos a que tem se proposto desde 1979: dar
oportunidade aos profissionais integrados ao esporte reunirem-se e
multiplicarem seus conhecimentos entre si (Becker Jr., 2000; p. 116).
Se isso
se concretizar, é possível que essa atitude não corra o risco de se constituir
em mais uma iniciativa isolada como inúmeros endereços virtuais que trazem
informações sobre Psicologia do Esporte e que foram em sua maioria, iniciativas
individuais de profissionais que decidiram compartilhar suas experiências e
conhecimento numa época em que não existia nenhum site oficial que suprisse as
expectativas e dúvidas de pessoas interessadas em Psicologia do Esporte, pelo
menos, em termos de Brasil.
Hoje,
pode-se afirmar que, além da SOBRAPE, sites oficiais como dos Conselhos Federal
e Regional de Psicologia (www.pol.org.br e www.crpsp.org.br , respectivamente)
trazem, desde 2001, quando foi aprovado o título de especialista em Psicologia
do Esporte, informações sobre cursos, código de ética e formação do psicólogo
esportivo. Mas nem sempre foi assim. Ou seja, ao longo desses 48 anos, isso
significa, desde de 1957, quando o psicólogo João Carvalhaes começou a
desenvolver um trabalho de orientação psicológica com os jogadores do São Paulo
Futebol Clube e, mais tarde na Seleção Brasileira de Futebol (Rubio, 2000), os
profissionais da área têm se mostrado com ótimas intenções para tornar a
Psicologia do Esporte no Brasil, um campo reconhecido com sujeitos, método e
intervenção determinados. E, seria no mínimo, infame, afirmar o contrário.
No
entanto, ao que parece, mesmo com todos os esforços, a Psicologia do Esporte
tem se desenvolvido apenas dentro de núcleos. Ou seja, é possível identificar
grandes avanços dentro da Psicologia do Esporte em São Paulo, Minas Gerais,
Paraná, Rio Grande do Sul e alguns outros mais modestos, nas regiões norte e
nordeste do país. Mas a interrelação que deveria existir entre esses núcleos é
mínima, o que, sem discussão, influencia diretamente os canais de comunicação
voltados a germinar novos seguidores. Por conta disso, é reforçado o desejo de
não se perpetuar iniciativas isoladas.
Alguns
autores da Psicologia do Esporte no Brasil compartilham dessa preocupação e
ressaltam suas expectativas em relação à solidificação da área, entre eles
Brandão (1995), Machado (1997), De Rose Jr. (2000) e Rubio (2000a). Veja o que
eles dizem:
...Uma das funções da Sociedade
Brasileira de Psicologia do Esporte deve ser a de discutir e clarificar quem é
tecnicamente e legalmente capacitado ou qualificado para aplicar os princípios
psicológicos a atividade física e ao esporte, qual a formação profissional
mínima requerida para o desempenho profissional, seja ele acadêmico ou
aplicado. Esta preocupação se deve ao fato de que a Psicologia do Esporte no
Brasil precisa ser reconhecida como ciência e como campo profissional de
trabalho. Este reconhecimento é que levará a identificação e delineamento de
todos os tipos de contribuição e interfaces da Psicologia do Esporte (Brandão,
1995; p. 142).
Pela sua pequena história
acredita-se que a Psicologia do Esporte está principiando um caminho promissor,
no aguardo do reconhecimento que merece, tendo em vista a dialética trajetória
assumida, de questionamentos geradores de respostas que precipitam novas
questões...Os esforços e a seriedade a que se prende quem assume a área serão
responsáveis pela sua divulgação e crescimento, independendo da formação
inicial do pesquisador e da área de atuação a que se atem, transitando
livremente pelo esporte escolar, passando pelas atividades livres e esporádicas
da recreação e do lazer, até atingir o esporte competitivo, de resultados
olímpicos (Machado, 1997; p.18).
Discutir, participar de fóruns
de debates, unir-se a grupos de estudos, elaborar projetos de pesquisa,
publicar (trabalhos, artigos e livros), unir esforços e colocar à disposição de
todas as experiências adquiridas no decorrer do tempo talvez sejam as melhores
estratégias para a consolidação de uma área tão importante e rica, como a
Psicologia, no contexto esportivo (De Rose Jr., 2000; p. 35).
...Só poderemos falar de uma
Psicologia do Esporte brasileira quando sua diversidade tiver sido
compartilhada e
discutida nas diversas regiões do país, assentada no conhecimento e na realidade produzido por nós (Rubio, 2000a; p. 128).
discutida nas diversas regiões do país, assentada no conhecimento e na realidade produzido por nós (Rubio, 2000a; p. 128).
O posicionamento desses autores deixa evidente algumas necessidades emergentes da Psicologia do Esporte que merecem ser discutidas e aprofundadas. Mas antes de fazê-lo, acredita-se ser importante resgatar um pouco da história da Psicologia do Esporte no Brasil baseando-se, principalmente, nos eventos ocorridos ao longo desses anos e que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a sua divulgação.
Vale
ressaltar que o critério aqui escolhido parte da constatação de que a
Psicologia do Esporte brasileira não dispõe, como em outros países, de uma
cronologia de acontecimentos regulares, que pudessem contemplar uma divisão
histórica em períodos como a realizada por Araújo (2002) para a compreensão dos
fatos que influenciaram a Psicologia do Esporte em Portugal. O autor, também na
busca de compreender a sua realidade, baseando-se em outros dois autores
Cruz-Féliu (1991) e Brito (1996), propôs 6 períodos de divisão para a história
da Psicologia do Esporte: Raízes da Psicologia do desporto (até 1919);
Antecedentes preparatórios da Psicologia do desporto (1920-1945); Emergência da
Psicologia do desporto (1946-1964); Autonomia da Psicologia do desporto
(1965-1981); Especificação da Psicologia do desporto (1982-1992) e Integração
da Psicologia do desporto (1993 até hoje 2002). No caso do Brasil, no entanto,
este tipo de divisão seria quase impossível, uma vez que, como já dito
anteriormente, o primeiro fato reconhecido, que comprova os primeiros sinais de
uma intervenção psicológica voltada ao esporte, ocorreu só em 1954.
Sendo
assim, ao relatar a história da Psicologia do Esporte brasileira, preferiu-se
não optar por nenhuma divisão específica, discorrendo e discutindo, apenas,
seus principais fatos históricos até os dias de hoje. Para isso foram usadas as
seguintes fontes de consulta: Brandão (1995); Machado (1997); Rubio (2000;
2000a); Abdo (2000a); Becker Jr. (2000a; 2000); Epiphanio (2001); Rodrigues
(2003); Barreto (2003) e Franco (2004).
Neste sentido,
é possível afirmar que, de acordo com os autores, o primeiro grande
acontecimento que inaugurou uma nova prática na história da Psicologia no
Brasil, foi o trabalho realizado pelo psicólogo João Carvalhaes, na década de
50 [1950]. Vale ressaltar aqui, que sua importância não se deu apenas pelo fato
de ser uma intervenção inédita, mas principalmente por que a Psicologia, até
então, ainda não tinha sido reconhecida legalmente como profissão no país (ver
p. 61).
Segundo
Epiphanio (2001) e Becker Jr. (2000), João Carvalhaes começou, em 1954, a
desenvolver um trabalho com árbitros de futebol, no Departamento de Árbitros da
Federação Paulista de Futebol. Posteriormente, Carvalhaes trabalhou com os
jogadores do São Paulo Futebol Clube, onde permaneceu por 17 anos, além de
acompanhar a Seleção Brasileira de Futebol rumo à Copa de 1958. Naquela época,
o Brasil foi o único país a ter um psicólogo como integrante de sua delegação,
mas este fato, ao contrário do que se esperava, trouxe diversas críticas pelo
fato de Carvalhaes ter, em suas avaliações psicológicas, considerado jogadores
como Pelé e Garrincha, inaptos para comporem a equipe do Brasil (Epiphanio,
2001; p. 11). Em outras palavras, considerar jogadores de talento reconhecidos
como inaptos a fazer parte da Seleção Brasileira era inexplicável,
principalmente porque tanto Pelé quanto Garrincha foram os responsáveis por
diversos gols que levaram o Brasil a ser campeão.
De
qualquer forma, independente desse acontecimento, o psicólogo do São Paulo
Futebol Clube participou de vários eventos científicos, incluindo o VI
Congresso Interamericano de Psicologia, em 1959, no Rio de Janeiro com o
trabalho Experimentações Psicológicas no Esporte e o II Congresso Mundial de
Psicologia do Esporte ocorrido em Washington em 1969, com a apresentação do
trabalho Correlação entre o estado psicológico e o rendimento do atleta de
futebol (Abdo, 2000a; p. 15). Em 1974, publicou o livro Psicologia no Futebol
onde descreveu o trabalho realizado nesta modalidade e suas demais particularidades
(Rubio, 2000a).
O
segundo psicólogo a desenvolver um trabalho com a Seleção Brasileira de Futebol
foi Athayde Ribeiro da Silva, na Copa de 1962 que ocorreu no Chile. Segundo
Barreto (2003), Da Silva chegou até a formalizar a criação de uma Sociedade
Brasileira de Psicologia do Esporte, no Rio de Janeiro, mas nunca chegou a
regularizá-la (p. 47). No entanto, suas contribuições ao longo dos anos foram
bastante importantes. Entre elas é possível citar a publicação do primeiro
livro de Psicologia do Esporte, Futebol e Psicologia, escrito em parceria com
outro psicólogo Emílio Mira, em 1964; sua participação, em 1965, do I Congresso
Mundial de Psicologia do Esporte, em Roma, com o trabalho Observações sobre
Psicologia aplicada ao Futebol [também neste Congresso, foi criada a Sociedade
Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP- International Society of Sport
Psychology)], sociedade esta que, até hoje, cumpre a missão de facilitar o
intercâmbio entre profissionais e estabelecer um intervalo de quatro anos entre
um congresso mundial e outro (Rodrigues, 2003; p. 19); também em 1965, publicou
seu segundo livro Psicologia esportiva e a preparação do atleta, no qual
buscava ampliar a aplicação da Psicologia a outras modalidades que não apenas o
futebol.
Já sob um enfoque mundial, se
fosse feita uma comparação, neste período (entre 1945 e 1964), enquanto o
Brasil vivenciava suas primeiras experiências com profissionais da Psicologia no Esporte, vários acontecimentos
ocorridos tanto na Europa como nos Estados Unidos demonstravam que a Psicologia
do Esporte se tornava um campo importante de pesquisa, teorias e métodos
específicos voltados ao esporte. Veja quadro a seguir, de acordo com Araújo
(2002; p. 18):
Acontecimentos
que possibilitaram a emergência da Psicologia do Esporte
Segundo o próprio Araújo
(2002), todos esses acontecimentos acima relatados ocorreram em decorrência do
término da II Guerra Mundial que, apesar de ter interrompido o movimento
desportivo, aperfeiçoou as técnicas de treino possibilitando o surgimento, no
início dos anos 50, de um grande número de laboratórios nas universidades com o
objetivo de pesquisar a Psicologia do Esporte. Ainda afirma o autor: nos
anos 70, nos EUA, ao mesmo tempo em que diminuía o interesse pela aprendizagem
motora por parte dos psicólogos, aumentava o número de profissionais de
educação física interessados pelo tema, nomeadamente por stress, rendimento
desportivo e sobre as funções do treinador (p.17).
De
volta ao Brasil, afirmam Brandão (1995), Abdo (2000a) e Rúbio (2000a) que a
década de 70[1970] foi um período em que a Psicologia do Esporte foi ampliada
através da participação de diversos psicólogos em modalidades esportivas, dando
destaque para o futebol, até pelo fato que, talvez, além de algumas referências
já publicadas sobre o assunto (Carvalhaes e Da Silva), o futebol foi e
continuará sendo o cartão de visitas do Brasil, dentro e fora do país, dadas as
influências culturais e principalmente os excelentes jogadores, que hoje são
vendidos por preços exorbitantes para clubes estrangeiros.
Em
1971, o psicólogo João Serapião realizou um trabalho de acompanhamento
psicológico junto ao Guarani Futebol Clube, em Campinas-SP. Em 1973, o médico
psiquiatra e psicanalista Dr. Paulo Gaudêncio trabalhou com Sport Club Corinthians
que, logo após em 1982, contratou outro médico psiquiatra para exercer o
trabalho de orientação psicológica, o Dr. Flávio Gikovate.
Porém,
é a partir de 1976 que a Psicologia do Esporte alcança outras modalidades
esportivas, que não só o futebol. Segundo Abdo (2000a) e Rubio (2000a), o
responsável por tal iniciativa foi o psicólogo Mauro Lopes de Almeida que
passou a desenvolver, junto ao Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em
São Paulo, um trabalho de acompanhamento psicológico. Neste ano também, começou
a ser desenvolvido no CELAFISCS, o setor de Psicologia aplicado ao esporte,
coordenado pela psicóloga Sandra Cavasini. Esta última, citada por Becker Jr.
(2000) como sendo uma das psicólogas que compôs o trio de psicólogos da segunda
geração no Brasil (1975). Os outros dois psicólogos citados pelo autor são João
Alberto Barreto, no Rio de Janeiro e o próprio autor, no Rio Grande do Sul (p.
27-28). Ainda de acordo com Becker Jr. (2000), a partir de 1975, quase todo o
evento científico de Educação Física, Esporte ou Medicina do Esporte, passou a
ter a participação da Psicologia do Exercício e do Esporte nas suas sessões (p.
28).
Por
conta disso talvez, e pelo aumento de profissionais envolvidos com Psicologia
do Esporte no país, em 1979 foi fundada a SOBRAPE, como já mencionado,
anteriormente, cujo presidente-fundador foi o psicólogo Benno Becker Jr.,
permanecendo neste cargo até 2002. O atual presidente desta Sociedade é o Prof.
Dr. Dietmar Samulski. O primeiro evento realizado pela SOBRAPE foi o I
Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte, ocorrido em 1981, em Porto
Alegre-RS, com a participação de 1700 profissionais de toda a América Latina
(Becker Jr, 2000).
De
acordo com Becker Jr. apud Becker Jr. (2000), esse evento foi marco fundamental
para o desenvolvimento da Psicologia do Exercício e Esporte na América Latina,
pois os contatos entre profissionais das Ciências do Esporte de inúmeros países
foram a base para o planejamento de futuras realizações. Começaram, então, a
serem criadas as sociedades estaduais brasileiras bem como as de vários países
da América Latina (p. 28). Porém, por problemas internos e estruturais aponta
Rubio (2000a), a maioria delas não conseguiu se manter atuante, levando muitos
psicólogos e profissionais de educação física a um desconhecimento de sua
existência ou efetividade (p. 24).
Portanto,
de acordo com os dados levantados até o momento, é fato que a Psicologia do
Esporte no Brasil está, por assim dizer, ensaiando seus primeiros passos, ainda
que num movimento incerto, mas ao mesmo tempo, promissor, no que diz respeito
ao empenho dos profissionais. É fato, também, que se no Brasil (década de 60
[1960]) começava-se a falar e discutir essa “tal” Psicologia do Esporte, na
Europa, URSS e EUA, os acontecimentos que ocorreram entre 1965 e 1975, segundo
Araújo (2000) só cooperaram para possibilitar a autonomia da Psicologia do
Esporte. Entre os fatos descritos pelo autor, destacam-se: a criação da
Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (1965); publicação de artigos
relacionados à intervenção psicológica realizada com atletas (1966-1967);
publicação do primeiro teste específico voltado para o contexto esportivo
medindo variáveis como agressividade, treinamento e confiança nas próprias
capacidades (1969); publicação do International Journal of Sport Psychology
(primeira revista específica de Psicologia do Esporte-1970) e a publicação do
livro Sport et Personalité, desenvolvendo especificamente o tema da
personalidade no esporte (1975).
Diante
dessas informações, fica difícil não perceber a diferença de desenvolvimento e
crescimento da Psicologia do Esporte fora do Brasil. Como exemplo, é só
constatar que do I Congresso Mundial de Psicologia do Esporte realizado em 1965
(Roma) e o I Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte realizado em 1981
(Rio Grande do Sul), são 16 anos. Um outro fato relevante que chama a atenção,
diz respeito à publicação de um veículo específico sobre Psicologia do Esporte.
O Journal of Sport Psychology passou a ser publicado em 1970. No Brasil, até
este ano, 2006, ou seja, 36 anos depois, não existe, como já descrito
anteriormente, nenhuma revista específica sobre o assunto. Claro que isso não
significa que os pesquisadores e profissionais inseridos neste campo, não
estejam publicando seus trabalhos em outros veículos de comunicação. Ao
contrário, tanto isso acontece que, num levantamento feito pela SOBRAPE em
1978, foi possível não só identificar os artigos publicados, mas também a
profissão dos escritores (Machado, 1997).
E qual
não foi a surpresa ao constatar que dos artigos levantados, apenas 19%
pertenciam a psicólogos. 2,1% eram de autoria de médicos e a maioria, 53,6% era
de educadores físicos. Este também se tornou ao longo do tempo, mais um ponto
de discussão dentro da Psicologia do Esporte brasileira: a formação do
psicólogo esportivo. Tema que será abordado com maior profundidade no próximo
capítulo.
Dando
continuidade à história, o período de 1982 a 1987, não foi de grandes
acontecimentos para a Psicologia do Esporte no Brasil. Nele destaca-se: a
implementação de um Centro de Preparação Psicológica, no Esporte Clube
Pinheiros-SP, sob a coordenação inicial do psicólogo William U. de Lima e,
posteriormente, da psicóloga Eliana Abdo Philippi. Segundo Abdo (2000a), este
departamento foi extinto em 1997. Em relação aos eventos, nos anos de 1983,
1985 e 1987 foram realizados os Congressos Brasileiros de Psicologia do
Esporte.
Desse
período em diante, é unânime para os autores, que a década de 90 [1990] foi,
até agora, a década mais promissora para a Psicologia do Esporte no Brasil, não
só no que diz respeito a eventos, mas principalmente em relação à criação de
cursos de especialização para a formação do psicólogo esportivo, publicação de
diversos livros em português sobre os mais variados temas dentro da Psicologia
do Esporte, aumento no número de profissionais trabalhando com intervenção
junto a atletas, não só do futebol, mas de outras modalidades, criação de
laboratórios para pesquisa, inserção da disciplina Psicologia do Esporte em
alguns cursos de Psicologia e, num movimento muito particular de alguns membros
do Conselho Regional de Psicologia (CRP-SP), a criação de um espaço de
discussão, dentro da sede do Conselho, sobre a Psicologia do Esporte enquanto
opção profissional e área de atuação.
Em
outras palavras, não faltaram iniciativas, boas intenções, discussões e
encontros durante esse período de 1990 até os dias atuais, para solidificar a
Psicologia do Esporte brasileira. Ao contrário, até a mídia, como relata Franco
(2004) tem cumprido seu papel, publicando matérias sobre o tema, encorajando
direta ou indiretamente, técnicos e equipes esportivas a buscarem o trabalho de
orientação de um psicólogo esportivo (p. 32). Mas, ao que parece, “algo” tem
provocado lentidão a esse processo de tornar a Psicologia do Esporte no séc.
XXI, não só um campo com métodos e teorias próprios, mas também, um campo
promissor para a formação de novos e capacitados profissionais. Muitas
publicações, inclusive, trazem propostas de discussão sobre essa questão, mas é
inevitável detectar que pouco se consegue para se chegar a uma conclusão ou uma
solução mais palpável sobre essa questão. Como resultado, o que se observa são
discussões que, mesmo sem a intenção, acabam assumindo a característica de um
monólogo, onde autor acaba“travando um diálogo com ele mesmo”.
A
história, no entanto, registra um momento durante o final da década de 90
[1990] em que foi possível assistir ao encontro de diversos profissionais e
estudantes, de diferentes estados, diferentes profissões, diferentes atuações
que deixaram de lado essas diferenças para discutir e compartilhar informações
sobre um tema comum a todos: a Psicologia do Esporte. O evento, realizado pelo
Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, em São Paulo, capital recebeu o
nome de Encontros e Desencontros: Descobrindo a Psicologia do Esporte.
Sob a
coordenação da Profa. Dra. Kátia Rubio, durante três dias, aproximadamente, 400
pessoas ouviram e debateram temas pertinentes à área (Rubio, 2000a). Segundo
Rubio (2000a), esse evento pode ser considerado um marco histórico, na medida
que conseguiu reunir pessoas que atuam em Psicologia do Esporte há várias
décadas, em espaços importantes e privilegiados, em vários estados do país, e
que em seus clubes e instituições acadêmicas, estão pesquisando, ensinando ou
intervindo, enfim, fazendo a Psicologia do Esporte no Brasil (p. 9). E ainda
acrescentou:
a unanimidade não era a
intenção do evento. Pelo contrário, o objetivo maior era apresentar aos
neófitos e aos iniciados a pluralidade de formação e ação que caracterizam
nossa prática. Dos campos de atuação às linhas teóricas, o que se observa hoje,
na Psicologia do Esporte, é um apelo à alteridade, no sentido do respeito às
diferentes formas de se fazer uma prática que ainda carece de tradição (p. 10).
Sem dúvida, o evento cumpriu o seu papel. Houve troca de informações, apresentação de trabalhos, relatos de experiências, mesas redondas e até novas publicações brasileiras sobre Psicologia do Esporte. Entre elas, Psicologia do Esporte- interfaces, pesquisa e intervenção (Rubio e cols, 2000), Manual de Psicologia do Esporte e Exercício (Becker Jr., 2000), Psicologia no Esporte e na Atividade Física (Franco, 2000) que contaram com a presença dos respectivos autores para autografar ou conversar sobre os livros.
Sem dúvida, o evento cumpriu o seu papel. Houve troca de informações, apresentação de trabalhos, relatos de experiências, mesas redondas e até novas publicações brasileiras sobre Psicologia do Esporte. Entre elas, Psicologia do Esporte- interfaces, pesquisa e intervenção (Rubio e cols, 2000), Manual de Psicologia do Esporte e Exercício (Becker Jr., 2000), Psicologia no Esporte e na Atividade Física (Franco, 2000) que contaram com a presença dos respectivos autores para autografar ou conversar sobre os livros.
Com o
passar do tempo, outros eventos ocorreram, promovidos por diferentes
profissionais, através de instituições de ensino ou da própria SOBRAPE. Mas
nenhum deles conseguiu repetir, novamente, a façanha do simpósio realizado em
2000.
Abdo
(2000a), durante a década de 90 [1990], mais precisamente, neste evento
realizado pelo CRP-SP, procurou alertar os profissionais da área sobre o
crescimento isolado dos trabalhos que estavam sendo realizados em Psicologia do
Esporte no Brasil.
Além disso,
também já era possível perceber, segundo a autora, que a maior dificuldade que
existia para a Psicologia do Esporte no Brasil, era a falta de união das duas
principais profissões envolvidas neste campo, a Educação Física e a própria
Psicologia (p. 17). E, ao que parece, essa “disputa” de espaço permanece até os
dias de hoje. Abdo (2000a) ainda, utilizando-se de uma citação de Butt (1997)
para confirmar sua hipótese acrescenta: existem alguns conflitos no campo da
Psicologia do Esporte no sentido de quem deve praticá-la e que formação é
necessária para tal. A questão é como identificar quem é capaz de ajudar os
atletas a desenvolver e aumentar seu desempenho de uma maneira construtiva
(...) se o atleta está sofrendo realmente ou está em decadência, o psicólogo
tem a responsabilidade e a formação para dar-lhe assessoramento apropriado e
colocar o seu bem estar em primeiro lugar. Existem muitas pessoas trabalhando
em aconselhamento esportivo que não são psicólogos e que não põem o bem estar
do paciente em primeiro lugar. A sua primeira responsabilidade é para o esporte
ou aprimoramento do desempenho...(Butt apud Abdo, 2000a; p. 17).
Franco
(2004), ou seja, quatro anos depois de Abdo (2000a), também aborda em sua obra
essa questão do fazer profissional do psicólogo esportivo, que segundo ela,
está intimamente ligado à formação deste profissional. Para a autora, que se
baseia em Feliu (1997), a Psicologia do Esporte só ganhará consistência e
credibilidade quando a formação do psicólogo esportivo conter conteúdos
relacionados não só à Psicologia, mas também às Ciências do Esporte e do
esporte em si, isto é, uma formação teórica e prática (Feliu apud Franco, 2004;
p. 47). Do contrário, baseando-se apenas numa formação voltada à Psicologia, o
psicólogo esportivo correrá o risco de continuar recebendo críticas como
aquelas relatadas por De Rose (2000) em que o mesmo aponta, como as duas outras
autoras, problemas na formação do psicólogo no Brasil e, conseqüentemente,
falta de conhecimento não só do atleta, mas do cenário esportivo, o que
implicaria diretamente na sua rejeição ou por parte do técnico ou por parte do
atleta e/ou equipe esportiva.
Afirma
De Rose (2000):
As faculdades de Psicologia
parecem não conhecer a importância do esporte como campo profissional para seus
egressos e não proporcionam a seus alunos a oportunidade de conhecer um pouco
mais sobre o assunto. Sequer são oferecidas disciplinas optativas e o que se
encontra são raros cursos de especialização, que formam pequenos grupos de
psicólogos interessados e atentos ao movimento desse mercado de trabalho
promissor. Não possuindo essa complementação em sua formação, o psicólogo não
acostumado ao esporte, encontra uma grande resistência por parte dos técnicos e
atletas, por não falar e não entender a linguagem cotidiana das quadras, dos
campos, das pistas e das piscinas. O atleta não pode e não deve ser tratado
como um paciente de consultório (p. 34).
Ou seja, de uma forma ou de outra, todos os autores, independente da sua formação inicial, atestam para a importância da formação do psicólogo esportivo e, principalmente, para a urgência de se criar ou desenvolver formas de se suprir essa carência de saberes e prática no campo da Psicologia do Esporte. Isso até seria possível se realmente houvesse, por parte dos envolvidos, sejam estes profissionais, instituições de ensino, conselhos e sociedades não só iniciativas, mas a concretização de projetos que tornassem esse fato realidade.
Sabe-se
que, em 1994, segundo Abdo (2000a) foi encaminhada ao CRP, durante o Congresso
Regional de Psicologia, a proposta de inclusão da disciplina Psicologia do
Esporte nas grades curriculares das Faculdades de Psicologia. Mas até hoje, 11
anos após esse encaminhamento, é possível “contar nos dedos” as instituições de
ensino que mantêm a disciplina como parte do seu currículo, seja na condição de
disciplina obrigatória ou optativa. Uma outra questão a ser levantada, diz
respeito aos estágios. Na maioria dos campos onde a Psicologia atua como
clínica, escola, hospital, creches, o aluno possui prática de estágio
supervisionado, onde ele pode colocar em prática o que aprendeu e receber
supervisão adequada para o aprimoramento do seu saber fazer. No caso da
Psicologia do Esporte se não todas, quase nenhuma instituição oferece oportunidade
de estágio supervisionado o que dificulta mais ainda a formação e
conseqüentemente, como apontou De Rose (2000), sua aceitação junto ao atleta ou
comissão técnica.
Para
completar, é possível, também, que um outro fator que tenha contribuído, mais
ainda, para acentuar as dificuldades até aqui descritas, tenha sido a
regulamentação do título de especialista concedida pelos Conselhos Federal e
Regional de Psicologia, a partir de 2001, apenas para profissionais formados em
Psicologia. Este fato pode ter despertado o descontentamento de profissionais
da área da Educação Física, já que os mesmos, acreditando, pela própria
formação, serem, talvez, os profissionais mais aptos a trabalhar com os
atletas, não possam adquirir o título de psicólogo esportivo, realidade essa
comum em outros países e que será, posteriormente, discutida no próximo
capítulo com mais detalhes.
Por
conta disso, muitos profissionais da área da Educação Física que, desde o
início contribuíam para o crescimento do campo, assumiram uma postura de defesa
contra os psicólogos, colocando em discussão se realmente os mesmos dispunham
de conhecimento suficiente para atuar na área, uma vez que não pertenciam a uma
área ligada diretamente ao Esporte. Essa discussão tornou-se tão emergente que,
durante o XI Congresso Brasileiro e IV Congresso Internacional de Psicologia do
Esporte, realizado em 2004, em Curitiba-PR, houve dois momentos em que este
assunto foi abordado: o primeiro momento foi realizado através de um Fórum
informal, onde integrantes do Congresso foram convidados a participar da
discussão denominada Fórum de discussão sobre a formação do Psicólogo Esportivo
no Brasil e o segundo momento, foi a mesa redonda Formação do Psicólogo do
Esporte," presidida pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Moraes, atual secretário
geral da SOBRAPE.
Mas em
ambas as situações, não foi possível caminhar muito mais dentro do que se
esperava.
Neste
sentido, o que se percebe é que, os pontos se unem e forma-se uma interrogação
(?) que se resume não mais a uma disputa de lugar ou título, ou seja, quem é ou
deveria ser o profissional a exercer o papel do psicólogo esportivo hoje, no
Brasil. Do ponto de vista legal, de mercado, não há dúvida de que é o
psicólogo. Mas a realidade não nos aponta isso. Os casos mais recentes, publicados
na mídia apontam médicos, engenheiros e professores de educação física atuando
com questões psicológicas ao realizar acompanhamentos junto a atletas e equipes
esportivas. Em contrapartida, como já descrito anteriormente, os cursos de
Psicologia, na sua maioria, continua a não possuir a disciplina Psicologia do
Esporte, tampouco, estágio supervisionado neste campo, o que, é importante
esclarecer, não seria a solução, mas talvez um avanço.
Como
conseqüência, fica a cargo dos cursos de especialização em Psicologia do
Esporte, a responsabilidade de dar conta de um conhecimento que,
necessariamente não teria que se concentrar apenas num curso de nível lato
sensu. E, em se tratando da realidade brasileira, isso se complica mais, já
que, até o momento, o único curso de especialização direcionado a formar
psicólogos esportivos e que cumpre com as exigências feitas pelo Conselho
Federal de Psicologia é o curso do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. O
restante que existe e de que se tem conhecimento, não cumpre as exigências
formais. Ou seja, são reconhecidos pelo MEC e não pelo CFP e Associação
Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), mas não concedem o título de
especialista em Psicologia do Esporte.
Portanto,
para concluir, o que foi dito até o presente momento, não difere em nada, das
expectativas e preocupações dos autores mencionados anteriormente (ver p.
65-66). A única diferença é que o posicionamento desses autores concentrava-se
ainda num momento de afirmação da Psicologia do Esporte no Brasil, o que é
natural, se, se levar em conta que traçar planos para o futuro, faz parte de
pessoas que querem realizar algo. Mas infelizmente, a solidificação da
Psicologia do Esporte ainda exige esforços e mais do que qualquer coisa,
estruturação.
Sendo
assim, acredita-se que, além dos objetivos traçados para este trabalho, um
outro objetivo, talvez mais informal que se deseje atingir seja, através de
toda essa reflexão sobre o campo da Psicologia do Esporte, revelar o
irrevelável, apontar as rachaduras sem desmerecer a construção já existente e
oferecer possíveis ferramentas para o conserto.
Neste
sentido, levando-se em conta a importância da formação do psicólogo esportivo
no cenário brasileiro e a necessidade de se identificar e compreender as
rachaduras que têm impedido que os alicerces que sustentam essa formação se
solidifiquem, o próximo capítulo intitulado: Psicologia do Esporte: refletindo
sobre as competências do psicólogo esportivo no Brasil irá tratar,
primeiramente do conceito de competência, numa visão geral e, em seguida, das
competências exigidas no fazer profissional do psicólogo do esporte, tendo como
fonte de consulta órgãos oficiais nacionais e internacionais que têm, ao longo
dos anos, se preocupado em delimitar tanto as competências necessárias, quanto
as funções que devem e/ou podem ser exercidas pelo psicólogo esportivo.
Sobre as Competências do Psicólogo Esportivo no Brasil
Em diversos países da Europa e
América tem havido uma acentuada preocupação com o significado da palavra
competência, principalmente no que diz respeito aos saberes e ao saber-fazer
que devem ou deveriam caracterizá-la dentro de qualquer profissão.
Alguns autores como Desaulniers
(1998); Manfredi (1988); Schwartz (1998); Stroobants (1998); Meghnagi (1998);
Ropé e Taguy (2002) e Vosgerau e Eleuterio (2005) têm buscado, com muita
propriedade, discutir a dimensão do significado das palavras competência, saberes
e qualificação, já que, sem um prévio conhecimento, muitas pessoas podem chegar
até a utilizá-las como sinônimo, como afirma Manfredi (1988): o uso desses
conceitos polissêmicos, na grande maioria, são empregados como equivalentes e
sinônimos mas, na verdade, ao se consultar a literatura, os mesmos conceitos
aparecem como conceitos novos, atuais e não como reatualizações (p. 14).
Procurando manter este cuidado, sem
se afastar do objetivo principal deste capítulo, que consiste em refletir sobre
as competências necessárias ao exercício profissional do psicólogo esportivo no
Brasil, optou-se por esclarecer, inicialmente, o significado do termo
competência para que, ao final, seja possível identificar, de acordo com os
órgãos oficiais, nacionais e internacionais, responsáveis pelo fazer
profissional do psicólogo esportivo, as competências necessárias para exercer
sua profissão. Para tal, foram usados como referência para discutir o tema, os
seguintes autores: Manfredi (1998); Meghnagi (1998); Shwartz (1998) e Vosgerau
e Eleuterio (2005).
Sendo assim, ao se
reportar à questão sobre as diferenças entre os termos competência,
qualificação, saberes e habilidades, Manfredi (1998) afirma que essas
expressões têm ocupado lugar de destaque nos discursos e documentos dos
diferentes agentes e instituições sociais.
Segundo a autora, as transformações em curso na sociedade brasileira, decorrentes das mudanças técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo ressurgir, com muita ênfase, acalorados debates relativos a temas e problemas que nos remetem às relações entre trabalho, qualificação e educação (especialmente a formação
profissional). Estudos nacionais e internacionais envolvendo tais questões têm envolvido pesquisadores de vários campos das ciências. As discussões têm navegado pelos mais diferentes campos das ciências sociais- economia, sociologia, história, antropologiapassando também a se constituir em objeto de preocupação de educadores, lingüistas, psicólogos, engenheiros de produção, médicos psiquiatras etc; enfim, todos aqueles que se preocupam com as questões relativas ao trabalho humano e as suas metamorfoses (1998; p. 14).
Segundo a autora, as transformações em curso na sociedade brasileira, decorrentes das mudanças técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo ressurgir, com muita ênfase, acalorados debates relativos a temas e problemas que nos remetem às relações entre trabalho, qualificação e educação (especialmente a formação
profissional). Estudos nacionais e internacionais envolvendo tais questões têm envolvido pesquisadores de vários campos das ciências. As discussões têm navegado pelos mais diferentes campos das ciências sociais- economia, sociologia, história, antropologiapassando também a se constituir em objeto de preocupação de educadores, lingüistas, psicólogos, engenheiros de produção, médicos psiquiatras etc; enfim, todos aqueles que se preocupam com as questões relativas ao trabalho humano e as suas metamorfoses (1998; p. 14).
O interessante, porém, é que o que se
tem encontrado na literatura, não são simples reatualizações do termo, mas sim
conceitos novos e atuais que, de acordo com Manfredi (1998) merecem ser
abordados dentro de uma perspectiva histórico-crítica constituindo não apenas
um mero exercício intelectual, como poderiam interpretar alguns, mas uma
tentativa de demarcar as diferenças existentes nas diversas abordagens, seja no
âmbito teórico ou político (p. 14). Ou seja, ao basear-se na crença de que tais
conceitos expressam sentidos e intenções diferentes (p. 14), Manfredi (1998)
realizou uma pesquisa junto aos trabalhos mais significativos existentes sobre
o tema, na intenção de investigar a construção social dos significados que têm
sido atribuídos às noções de qualificação e competência no campo da Economia da
educação, Economia política, Sociologia do trabalho, Psicologia e Avaliação
educacional.
O resultado encontrado entre outros,
foi o de que as expressões qualificação e competência parecem ter matrizes
distintas. A noção de qualificação está associada ao repertório teórico das
ciências sociais, ao passo que o de competência está historicamente ancorado
nos conceitos de capacidades e habilidades, constructos herdados das ciências
humanas- da Psicologia, Educação e Lingüística (Manfredi, 1998; p. 15).
No entanto, com o passar dos anos, a
ressignificação do conceito de qualificação e sua substituição pelo conceito de
competência foram inevitáveis. O processo de reorganização da economia mundial
e as transformações técnico-organizacionais afetaram não só as condições, os
meios e as relações de trabalho, como também, provocaram a construção de novas
formas de representação das noções de trabalho, qualificação, competência e
formação profissional (Manfredi, 1998; p.25).
Progressivamente, segundo Schwartz
(1998), também os chefes de projetos e de empresa substituíram o termo
qualificação pelo de competência para pensar o problema dos ajustes das pessoas
às tarefas ou aos objetivos, bem como a busca de procedimentos ou modelos de
avaliação dessas competências (p. 101). Como conseqüência, os trabalhadores
passaram a responder a um novo perfil de qualificação de trabalho, capaz de
satisfazer as seguintes exigências: posse de escolaridade básica, de capacidade
de adaptação a novas situações, de compreensão global de um conjunto de tarefas
e das funções conexas o que demanda capacidade de abstração e de seleção, trato
e interpretação de informações. Além disso, como os equipamentos são frágeis e
caros e como se advoga a chamada administração participativa, são requeridas
também atenção e a responsabilidade (Manfredi, 1998; p. 25).
Em se tratando,
especificamente, do Brasil (década de 70 [1970]), Manfredi (1998) relata que a
noção de competência passa a ser incorporada nos discursos dos empresários, dos
técnicos dos órgãos públicos que lidam com o trabalho e por alguns cientistas
sociais, como se fosse uma decorrência natural e imanente ao processo de
transformação na base material do trabalho. Segundo a autora, no discurso dos
empresários há uma tendência de
definir competência muito mais como uma capacidade de agir, intervir, decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis do que um estoque de conhecimentos e habilidades (p. 27).
definir competência muito mais como uma capacidade de agir, intervir, decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis do que um estoque de conhecimentos e habilidades (p. 27).
Já nos dias atuais, a partir dessa
visão relatada por Manfredi (1998) pode haver limitações se levar em conta
autores como Meghnagi (1998) e Vosgerau e Eleuterio (2005).
Para ambos, a noção
de competência envolve muito mais do que apenas uma capacidade para agir ou
resolver problemas, envolve sim, uma inter-relação entre fatores que
compreendem desde a aquisição de escolaridade quanto os processos de
aprendizagem informais que ocorrem em momentos e espaços distintos, as
orientações de valorativas que dão suporte aos fatos inovativos, o
pertencimento a uma comunidade profissional e a apropriação de um saber teórico
ou gerado a partir de uma prática (Meghnagi, 1998; p.51).
Vosgerau e Eleuterio (2005) também se posicionam ao definir, separadamente, os termos competência, capacidade, saberes e habilidades, e reconhecem suas diferenças e possíveis inter-relações. Para estes autores, o termo competência constitui um saber-agir complexo, resultante da integração, da mobilização e do agenciamento de um conjunto de capacidades e de habilidades e de conhecimentos utilizados de forma eficaz, em situações similares (Lasnier apud Vosgerau e Eleutério, 2005; p. 7). Ou seja, tanto as capacidades como as habilidades e saberes são elementos que, uma vez determinados, seja em que contexto for, podem mobilizar as competências necessárias para uma atuação profissional ou acadêmica.
Vosgerau e Eleuterio (2005) também se posicionam ao definir, separadamente, os termos competência, capacidade, saberes e habilidades, e reconhecem suas diferenças e possíveis inter-relações. Para estes autores, o termo competência constitui um saber-agir complexo, resultante da integração, da mobilização e do agenciamento de um conjunto de capacidades e de habilidades e de conhecimentos utilizados de forma eficaz, em situações similares (Lasnier apud Vosgerau e Eleutério, 2005; p. 7). Ou seja, tanto as capacidades como as habilidades e saberes são elementos que, uma vez determinados, seja em que contexto for, podem mobilizar as competências necessárias para uma atuação profissional ou acadêmica.
Em outras palavras, como ressalta
Meghnagi (1998), ainda que cada profissão possa ser exercitada em níveis mais
ou menos elevados de capacidades e habilidades, com a finalidade de produzir
bens materiais ou imateriais, a competência se configura como sendo a
explicitação de repertórios cognitivos de natureza variada, que envolvem ações
e decisões das quais resulta a qualidade do desempenho. Hoje, tudo isso vale
para a quase totalidade das profissões, do trabalho autônomo ao assalariado,
para operários, quadros administrativos e dirigentes (p. 51).
Portanto, até este momento, pode-se
afirmar que o termo competência relacionado ao fazer profissional, na visão
desses autores, deve estar embasado numa perspectiva de formação ou de
trabalho, ou seja, na aquisição e produção de conhecimento constante,
referendado em teorias de aprendizagem bem como, numa perspectiva de contextos,
espaços e tempos sócio-culturais do indivíduo.
Uma vez tendo claro o significado da
palavra competência, é possível se concentrar no objetivo principal desse
capítulo, que é o de propor uma reflexão sobre as competências que envolvem o
exercício profissional do psicólogo esportivo.
Sabe-se que as
discussões em torno das competências que envolvem o fazer profissional do
psicólogo esportivo no cenário brasileiro não são recentes. O que, talvez seja
recente, é a direção que esta discussão tem tomado após o reconhecimento legal
da Psicologia do Esporte como especialidade da Psicologia (Resolução Nº
002/2001), ou seja, do ponto de vista das resoluções instituídas pelos
Conselhos Federal e Regional de Psicologia, por lei, é de direito do psicólogo
exercer a função de psicólogo esportivo junto ao mercado de trabalho.
No entanto, são claras as divergências a respeito desse assunto e, a maioria delas, acaba se detendo, principalmente, ao fazer profissional do psicólogo esportivo. Em outras palavras, a dúvida que permeia é: o que é de direito do psicólogo esportivo e o que é de direito também, de outros profissionais de outras áreas? E por quê? E mais, o que na verdade garante essa “diferença” que se denomina no fazer do psicólogo esportivo que qualquer outro profissional não estaria apto a realizar, a menos que fizesse uma graduação em Psicologia?
No entanto, são claras as divergências a respeito desse assunto e, a maioria delas, acaba se detendo, principalmente, ao fazer profissional do psicólogo esportivo. Em outras palavras, a dúvida que permeia é: o que é de direito do psicólogo esportivo e o que é de direito também, de outros profissionais de outras áreas? E por quê? E mais, o que na verdade garante essa “diferença” que se denomina no fazer do psicólogo esportivo que qualquer outro profissional não estaria apto a realizar, a menos que fizesse uma graduação em Psicologia?
Para dar conta de responder a estes
questionamentos, recorreu-se às Associações e Sociedades (nacionais e
internacionais), como também aos Conselhos Federal e Regional, órgãos oficiais
responsáveis pela sistematização do fazer profissional do psicólogo esportivo,
para identificar elementos que pudessem responder por que é o psicólogo e não o
professor de educação física, o engenheiro, o médico, etc que deve exercer o
papel de psicólogo esportivo. A escolha por estes órgãos foi feita pelo fato de
que não é possível discutir competência sem antes, se remeter àqueles que,
oficialmente, têm a função de sistematizar o fazer profissional, neste caso, do
psicólogo esportivo, e cuidar para que o mesmo esteja atendendo às exigências
necessárias e legais dentro da sua atividade profissional.
Sendo assim, para melhor visualização
e identificação das competências estabelecidas por cada um dos órgãos
consultados, as mesmas foram dispostas na forma de quadros, separadamente.
Optou-se por relacionar, inicialmente, as Sociedades e Associações
internacionais como a ISSP; a Associação Americana de Psicologia e o Comitê de
Reconhecimento de Especialidades e Proficiências do psicólogo (APA/CRSPP); a
Associação para o Avanço da Psicologia do Esporte Aplicada (AAASP), por
existirem há mais tempo quando comparadas ao Brasil em termos de sistematização
do fazer profissional do psicólogo esportivo e, em seguida, o CFP e CRP e a
SOBRAPE.
Antes, porém, de
discutir as competências estabelecidas pela ISSP, é necessário salientar alguns
pontos importantes da história e do posicionamento dessa sociedade perante a
construção e solidificação da Psicologia do Esporte no mundo, para se
compreender em que momento e por que se deu a atual sistematização do fazer
profissional do psicólogo esportivo.
A ISSP foi criada em 1965, durante o I Congresso de Psicologia do Esporte, realizado em Roma, por Ferruccio Antonelli. Antonelli, médico psiquiatra, tornou-se o primeiro presidente da ISSP, permanecendo no cargo por oito anos.
A ISSP foi criada em 1965, durante o I Congresso de Psicologia do Esporte, realizado em Roma, por Ferruccio Antonelli. Antonelli, médico psiquiatra, tornou-se o primeiro presidente da ISSP, permanecendo no cargo por oito anos.
Ao longo desses 40 anos que se
sucederam desde sua criação, a ISSP, hoje, é considerada uma organização
sólida, voltada a promover a disciplina Psicologia do Esporte, pesquisa e
desenvolvimento através do mundo. Além disso, é vista também, como uma
associação de escolas multidisciplinares cujo interesse está focado na pesquisa
sobre aspectos da Psicologia do Esporte. A ISSP existe, entre outras coisas,
para encorajar e promover o estudo do comportamento dos indivíduos e grupos
associados ao esporte e atividade física; facilitar o compartilhar dos
profissionais através de boletim de notícias, encontros e congressos realizados
num intervalo de quatro em quatro anos.
Para dar conta dessas funções, a ISSP
sempre esteve atenta à evolução que a Psicologia do Esporte sofreu ao redor do
mundo. Nos últimos 30 anos, foi possível presenciar o reconhecimento de vários
países em suas implicações política, econômica e social na área do esporte e do
exercício numa época em que a globalização permitiu que o esporte crescesse
propiciando às nações obter melhores caminhos para sua realização. Ao mesmo
tempo, os indivíduos envolvidos com o esporte e as próprias escolas
responsáveis pelo treinamento de educadores físicos, ciências do esporte ou
psicologia contribuíram para o desenvolvimento do estudo da atividade esportiva
através de uma perspectiva psicológica.
De acordo com um documento intitulado
Treinamento e Seleção de Psicólogos Esportivos: uma revisão internacional, a
interação estabelecida entre aqueles que praticam esporte ou necessitam de
atividade física, bem como os estudiosos interessados na área, resultou ou tem
resultado, no desenvolvimento da profissão que se denomina, hoje, Psicologia do
Esporte e do Exercício.
Em decorrência disso, e por acreditar
que é de responsabilidade da ISSP examinar o crescimento e desenvolvimento da
Psicologia do Esporte e do Exercício ao redor do mundo, bem como a maneira como
os psicólogos esportivos estão sendo treinados e selecionados para trabalhar
nos mais diversos cenários que necessitam dos seus serviços, o Conselho Diretor
da ISSP produziu o documento acima citado na intenção de informar as
descobertas a respeito de como têm se dado o treinamento e seleção deste
profissional numa perspectiva mundial.
A partir de uma pesquisa realizada
junto às publicações de livros, jornais e conferências, estatutos e outros
documentos oficiais de organizações de Psicologia do Esporte, nacionais e
internacionais, foram coletadas informações sobre o tema: treinamento e seleção
de psicólogos esportivos. Coube aos membros do grupo de revisão, além de
procurar informações em outras fontes, a tarefa de confrontá-las com aquelas já
encontradas.
O mesmo Conselho Diretor, formado por
quatro membros, foi o responsável por analisar os dados obtidos, tendo como
referência as seguintes regiões: África (Nigéria, Kênia, Zimbábue, Moçambique,
Marrocos, Egito, Botswana e Sul da África); Ásia e Pacífico Sul (Japão, Coréia
e Austrália); Europa (Alemanha, França, Espanha, Portugal, Itália, Dinamarca,
Finlândia, Noruega, Suécia; Rússia Lituânia, Estônia, Romênia, Bulgária,
Slovênia, Polônia, República Checa, Reino Unido); América do Norte (Canadá e
Estados Unidos) e América do Sul. Não há registros de investigação realizados
em países da América Latina.
As conclusões a que os diretores chegaram foram as seguintes:
·
Há uma grande variação entre os diferentes países a respeito da
duração de tempo na educação, treinamento e no processo de seleção em
Psicologia do Esporte. Isso, segundo os autores se deve aos fatores de ordem
cultural, social, política e econômica que influenciam a maneira na qual a
Psicologia do Esporte é e tem se desenvolvido como profissão;
·
Há uma dificuldade no desenvolvimento da Psicologia do Esporte em
qualquer nação que não possua um compromisso político e econômico com o esporte
internacional. Ou seja, embora a Psicologia do Esporte tenha sido, durante
muitos anos, uma matéria dos programas de Educação Física, é somente através
dos países que procuram o sucesso do esporte internacional em larga escala, que
os psicólogos esportivos são convidados a oferecer serviços de suporte que se
constata um envolvimento significativo pessoal e do ponto de vista de tempo de
duração;
·
Há poucos exemplos de organizações nacionais de Psicologia do
Esporte que seguem o sistema de exigências da profissão, mas as mesmas têm
aprendido a oferecer uma data para profissionalização do psicólogo esportivo em
países em que o tempo de formação é considerado;
·
A educação em Psicologia do Esporte tem sido, predominantemente,
desenvolvida nos departamentos de Educação Física das universidades. Mas com
freqüência, a Psicologia do Esporte é a única disciplina inserida em programas
mais abrangentes, embora alguns países tenham sido capazes de desenvolver um
programa específico de Psicologia do Esporte em nível de pós-graduação;
·
Ignorar ou evitar a Psicologia do Esporte é um fato ainda muito
comum nos departamentos de Psicologia das universidades e nas associações
nacionais de profissionais em Psicologia. Apenas num número, relativamente,
pequeno de países, a Psicologia do Esporte tem sido encontrada como disciplina
dentro dos programas e/ou reconhecida dentro das associações de profissionais;
·
É raro encontrar dentro da Psicologia, estatuto que licencie os
psicólogos como psicólogos esportivos, apesar de existirem muitos países que possuem
o estatuto da regulamentação da profissão;
·
O certificado em Psicologia do Esporte para qualquer profissional
de outra área que não seja da Psicologia é dirigido a um número pequeno de
países ao redor do mundo. A maior parte dos programas que oferece o certificado
de Psicólogo do Esporte foi estabelecida por associações profissionais de
Psicologia do Esporte que estão apoiadas na Educação Física ou nas Ciências do
Esporte ou sozinhas. É o caso da AAASP, nos Estados Unidos, como será visto
neste mesmo capítulo, posteriormente.
·
A influência do certificado ou a seleção do psicólogo esportivo
para trabalhar com profissionais ou times nacionais depende do relacionamento
que a associação nacional de Psicologia do Esporte tem desenvolvido com os
membros do governo que organizam o esporte como o Comitê Olímpico Nacional,
assim como, as organizações esportivas, como os clubes profissionais. Na maior
parte dos países em que existe a possibilidade de obter o certificado, os
psicólogos esportivos que não o possuem, acabam apenas exercendo sua função,
baseando-se apenas em suas reputações individuais (Morris, Alfermann, Lintunen,
e Halt; s/d; p. 23-24).
Baseando-se nesses pontos
apresentados pelos autores, parece claro que, mesmo os países da América Latina
não tendo sido incluídos na pesquisa da ISSP, é possível identificar
semelhanças em relação ao cenário brasileiro a começar pelo desenvolvimento da
Psicologia do Esporte que, também no Brasil, surgiu, inicialmente, nos
departamentos de Educação Física das universidades e não dentro das faculdades
de Psicologia.
Outro ponto em comum, mas voltado não
para diferenças entre países, como aponta a pesquisa da ISSP e sim, para
diferenças entre regiões, no caso do Brasil, é possível encontrar diversos
cursos de formação em Psicologia do Esporte que se diferenciam, não só no que
diz respeito ao tempo designado à formação, mas também ao conteúdo programático
dos cursos. Em alguns deles predominam mais disciplinas voltadas à Educação
Física e às Ciências do Esporte do que à Psicologia (Rodrigues, 2003).
Já em relação à possibilidade de
realizar grandes eventos esportivos, pode se afirmar que o Brasil já foi sede
de alguns desses eventos como, por exemplo, a Copa do Mundo (1950) e os Jogos
Pan-americanos. Mas a realização destes não mobilizou, pelo menos publicamente,
convite das organizações ou equipes para atuação de psicólogos esportivos
especializados naquela época. Com exceção do psicólogo João Carvalhaes,
psicólogo que participou da Copa de 1958, o que se sabe, é que alguns
profissionais, entre médicos psiquiatras e engenheiros realizaram trabalhos e
palestras junto às equipes de diversas modalidades, mas apenas um pequeno
número de psicólogos esportivos pôde realizar um trabalho específico e adequado
junto aos atletas.
Um outro fator relevante consiste na
ausência da disciplina Psicologia do Esporte nos cursos de Psicologia. Como
apontou a pesquisa, também em outros países, o conteúdo da Psicologia do
Esporte ainda é mais freqüente na grade curricular dos cursos de Educação
Física.
O Brasil, como outros países
relacionados na pesquisa, também oferece licença ou certificado aos psicólogos
esportivos. Desde 2001, como já mencionado, anteriormente, neste curso, o
Conselho Federal e Regional de Psicologia concedem o título de especialista a
psicólogos que desenvolvem trabalhos na área do esporte, ou por meio de uma
prova, ou pela conclusão do curso de especialização oferecido pelo Instituto
Sedes Sapientiae em Psicologia do Esporte. Os primeiros psicólogos formados
pelo curso receberam o título de especialista em Psicologia do Esporte em 2003.
Ainda assim, como a própria pesquisa afirma, os psicólogos que não possuem o
título de especialista, mas realizam trabalhos no campo da Psicologia do
Esporte, no Brasil, estão por sua conta e responsabilidade, ou como dizem os
membros do Conselho Diretor da ISSP, estão exercendo suas funções baseando-se
apenas em suas reputações individuais.
Vale ressaltar que os pontos aqui
destacados como semelhantes àqueles levantados pela ISSP, só vêm demonstrar
que, apesar do desenvolvimento perceptível da Psicologia do Esporte fora do
Brasil, existem ainda muitos países em que este campo também necessita de
organizações que representem a área, cursos, disciplinas, congressos,
publicações e etc.
Ou seja, constatar que o Brasil não é
o único país que tem buscado atingir uma solidificação e uma credibilidade para
o campo da Psicologia do Esporte é um grande avanço, uma vez que, pouco se
conhece do que realmente acontece fora do território brasileiro. Mesmo assim,
saber que há um grande movimento em direção à conquista de maior reconhecimento
e espaço no mercado da Psicologia do Esporte, não significa esgotar as
reflexões propostas nesse capítulo sobre as competências exigidas no fazer
profissional do psicólogo esportivo, no Brasil. Ao contrário. Isso só aumenta a
responsabilidade dos profissionais envolvidos na estruturação desse campo, de
propor condições para que os profissionais em exercício e aqueles que pretendem
exercer a profissão, estejam aptos e qualificados para oferecer seus serviços à
comunidade.
A ISSP, por sua vez, acreditando na
importância do seu papel na formação de profissionais qualificados para exercer
suas atividades de intervenção no mercado de trabalho e na solidificação da
Psicologia do Esporte como campo de atuação e pesquisa, estabeleceu, em 1997,
um novo comitê para supervisionar o desenvolvimento da disciplina e dos métodos
utilizados para preparar e educar os psicólogos esportivos.
Com o acelerado crescimento do campo
da Psicologia do Esporte e do Exercício, a ISSP e seus membros decidiram
estabelecer, de forma mais definida e universal, padrões determinados para o
campo em questão, para serem utilizados por organizações profissionais
interessadas em estabelecer programas e/ou educação para os indivíduos que
desejam atuar como psicólogos esportivos.
Segundo a ISSP, a Psicologia do
Esporte é vista como uma área especial tanto do corpo de conhecimentos da
Psicologia como do Esporte e do Exercício que necessita de conhecimentos
científicos práticos de ambas as áreas. Como uma especialidade diferenciada, a
Psicologia do Esporte e do Exercício demanda o desenvolvimento de aplicações e
teorias que possam refletir um aumento de conhecimento tanto para a área da
Psicologia como para o Esporte e o Exercício. Em outras palavras, a Psicologia
do Esporte e do Exercício deve ser estudada, de forma sistemática, em
instituições acadêmicas que disponham de um currículo estruturado, um programa
de pesquisa e experiências supervisionadas e que sejam identificadas pela
responsabilidade de educar e treinar estudantes (Tenenbaum, Papaianou e
Samulski, 2001; p. 2-3).
Em 2001, durante o X Congresso
Mundial de Psicologia do Esporte, em Skiathos- Grécia, a ISSP realizou uma
sessão especial, presidida pelo Prof. Dr. Tony Morris, onde participaram
membros da ISSP, representando diversos países para discutir as competências
necessárias ao exercício profissional do psicólogo esportivo.
Todos os membros que se encontravam
presentes concordaram, unanimente, que a sistematização das competências era
necessária, principalmente pelo fato de terem sido constatadas várias
diferenças entre os países, no que diz respeito ao treinamento e seleção de
psicólogos esportivos. Mas, a partir de sua aprovação e posterior publicação
como documento da ISSP, as mesmas não deveriam se tornar ou serem vistas como
uma imposição feita a qualquer indivíduo ou grupo pelo mundo, mas sim, como
recomendações para os indivíduos e/ou instituições que desejam desenvolver,
planejar ou mudar os métodos pelos quais o psicólogo do esporte e do exercício é
preparado.
É fato que a ISSP tem clareza das
diferenças que existem na formação do psicólogo esportivo. Desde o processo até
os padrões aos quais são submetidos, ou seja, tanto os profissionais como a
cultura do país e/ou região têm características que podem chegar a
impossibilitar qualquer comparação, principalmente no que diz respeito à
formação dos profissionais. Mesmo assim, coube a alguns dos membros que
participaram dessa sessão especial redigir um documento onde estariam
dispostas, não só as competências exigidas no exercício profissional do
psicólogo esportivo (Quadro V; p. 109), mas também o esquema conceitual
desenvolvido pelos membros da própria ISSP que dispõe dos padrões teóricos da
Psicologia do Esporte e do Exercício e suas relações com a atividade prática.
Veja Figura 1 a seguir:
Esquema conceitual
para definir as competências e os cursos em Psicologia do Esporte e do
Exercício
De acordo com a Fig. 1, é possível
afirmar que a Psicologia do Esporte e do Exercício deve ser formada de uma base
teórica que mobiliza determinados conhecimentos (A1; A2; A3 e A4) e, estes
saberes devem abranger tanto a área da Educação Física e Esporte como também da
Psicologia. Uma vez cumprindo estes pré-requisitos e submetido às supervisões,
o psicólogo esportivo estará apto, segundo a ISSP, a realizar intervenções (B1
e B2), tanto no que diz respeito às equipes e atletas individuais, como
trabalhar a comunicação entre técnicos, administradores, dirigentes e etc.
Poderá atuar com crianças, adultos e pessoas idosas, assim como desenvolver
habilidades em atletas de nível amador ou profissional; desenvolver atividades
com indivíduos saudáveis como também indivíduos em fase de reabilitação ou
deficientes (atletas para-olímpicos, por exemplo). Os exercícios ou condutas
aplicados devem sempre buscar promover saúde, tanto no aspecto físico como no
emocional.
Tenembaum, Papaianou e Samulski
(2001) acreditaram que, ao redigir esse documento em nome da ISSP, o mesmo não
só deveria disponibilizar as competências exigidas no exercício profissional do
psicólogo esportivo, como também procurar deixar claro o que significava para a
ISSP o termo competência, possibilitando, portanto, a compreensão da dimensão
das competências dispostas no Quadro abaixo. Ou seja, ao se definir a
competência como sendo um desempenho e/ou habilidade a serem demonstrados por
uma pessoa que pretende tornar-se, ou já é, psicólogo esportivo ou do
exercício, em áreas específicas, torna-se possível entender, a partir do Quadro
abaixo, por que é tão importante e necessário um olhar mais atento à questão da
formação do psicólogo esportivo, não só no que diz respeito aos países de fora,
mas também no que diz respeito ao Brasil. Veja Quadro a seguir:
Competências
exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo segundo a ISSP
O Quadro acima,
portanto, mostra, de forma detalhada, a partir do esquema conceitual
anteriormente desenvolvido pela ISSP (Fig. 1), o que compreende cada uma das
competências estabelecidas como necessárias ao exercício profissional do
psicólogo esportivo. Porém, com a preocupação de não correr o risco de tornar o
texto repetitivo, a cada vez que for necessário se reportar às informações do
Quadro acima, as mesmas foram convertidas em tópicos para facilitar a posterior
comparação com os outros órgãos que virão a seguir: APA/CRSPP; AAASP; CFP e CRP
e SOBRAPE, respectivamente. Neste sentido, antes de prosseguir com essa descrição,
seguem os tópicos identificados nas competências, na próxima lição.
As Competências segundo a ISSP
A1. Base do Conhecimento
(Knowledge-base)
A1. Teorias:
Psicologia Geral: Fundamentos e História da
Filosofia-Psicologia; Teorias e principais enfoques (Psicodrama, Behaviorismo,
Cognitiva, Social e Cognitivosocial); Teoria do Desenvolvimento; Teoria
Psicodinâmica; Teorias da Aprendizagem; Bases sociais do comportamento; Bases
biológicas do comportamento; Teorias de técnicas de aconselhamento;
Psicopatologia; Comportamentos anormais; Métodos de terapia e de avaliação de
personalidade; Saúde; Metodologia da Pesquisa e Estatística; Ativação
(Arousal), Ansiedade; Emoção; Stress; Motivação; Necessidade de Realização;
Teorias sociais-cognitivas; Cognição (sensação, percepção, memória, processo de
informação, tomada de decisão, processo de atenção); Aprendizagem e
inteligência; Sexualidade; Psicologia Social; Liderança e Dinâmicas de grupo;
Psicologia Aplicada; Fundamentos da Psicofisiologia; Cultura e Ètica.
Psicologia do Esporte: Origem e História da Psicologia do Esporte;
Aplicação das principais teorias e enfoques no esporte; Ativação (Arousal),
Ansiedade e Performance no Esporte; Personalidade no Esporte; Teorias da
Motivação e Conceitos do esporte; Atribuição e Emoção; Psicologia Social no
esporte; Liderança e Dinâmicas de grupo no esporte; Socialização; Bases
psicológicas e biológicas da agressividade, violência e assertividade (atletas
e público); Questões relacionadas ao esporte juvenil; Comportamento dos
técnicos; Aspectos psicológicos de indivíduos com problemas emocionais, mentais
e físicos; Psicologia do Exercício (aderência, aptidão, efeito, vício e
percepção do esforço); Questões de gênero (igualdade, identidade e estereótipo);
Questões multi-culturais no esporte Teoria da Ação no esporte; Dinâmica para
aquisição de habilidades; Psicologia do Esporte cognitiva (atenção visual,
recursos de atenção e capacidades, antecipação, memória de longo prazo,
conhecimento estrutural, poder de tomada ou alteração de decisão e execução de
ações); Desenvolvimento de especialidades; Prática de discussão; Aquisição de
habilidades (desenvolvimento motor e especialidades); Psicofisiologia no
esporte; Psicologia de atletas lesionados (processo de reabilitação); Exercício
e saúde mental; Psicologia de um estilo de vida saudável e qualidade de vida;
Desenvolvimento da moral no esporte e exercício; Transição e encerramento da
carreira esportiva; Métodos de pesquisa e Estatística em Psicologia do Esporte
e Teoria do aumento da performance.
Teorias (em conhecimento motor,
físico e Cinesiologia): Fisiologia
do Exercício (geral); Fisiologia do Esporte e do Exercício; Aprendizagem motora
e aquisição de habilidades; Controle motor e processo neuro-muscular; Bases
biomecânicas de habilidades motoras; Bases de nutrição no esporte e exercício;
Anatomia; Medicina Esportiva; e Métodos de treinamento (principalmente
restabelecer carga de treinos e periodização).
Conhecimentos relacionados: Sociologia do Esporte; Programas de
computação e Princípios de organização e administração no esporte.
A2. Ferramentas de pesquisa:
o
Enfoque quantitativo, qualitativo ou uma combinação dos
dois;
o
Princípios metodológicos: amostragem, validade interna e
externa e segurança (confiabilidade);
o
Estatística: modelos simples, modelos multivariados, modelos
bayesian, modelos integrativos, modelos correlacionados, modelos experimentais
e uso de um programa (software) específico para estatística.
A3. Medição, avaliação e interpretação:
Do ponto de vista teórico: provando teoria e ética (introspecção, observação, entrevistas e outros); necessidade de avaliação; perfil psicológico; avaliação por computador; normas e critérios de medição; desenvolvimento de uma base de dados; uso de medidas através de ferramentas da Psicologia do Esporte; modelos de medida para traços latentes do indivíduo; administração, marcação, interpretação, relato e retorno (feedback) dos dados levantados; avaliação da vocação para a carreira e medição e avaliação das limitações do indivíduo.
Do
ponto de vista prático (relacionado especificamente ao esporte):
desenvolvimento de procedimentos de avaliação para o esporte competitivo;
implementação do programa de avaliação através de feedback; implementação de
dados e descobertas de técnicas de avaliação através da pesquisa científica.
A4. Ferramentas éticas:
Questões
éticas e profissionais (confidencialidade e sigilo); padrões éticos (nacionais
e internacionais) e ética e sigilo nos serviços realizados em programas de
computação.
B. Técnicas básicas de prática:
B1. Intervenções: Psicodinâmicas; Terapia cognitivo-comportamental; Modificação de comportamento; Terapias de relaxamento; Terapia familiar; Aconselhamento de carreira; Abordagem de organização de sistemas; Técnicas de aprendizado social e outras (Humanista, Existencial, etc).
Técnicas para aumento de
performance: Controle
de ativação da ansiedade; Concentração e controle de atenção; Relaxamento e
excitação (energização); Determinação de metas e perfil de desempenho;
Construção da confiança; Aumento da concentração; Visualização e Imaginação;
Rotina de desempenho e direcionamento das habilidades; Coesão da equipe,
eficácia e liderança; Debriefing33; Fornecimento de feedback e reforço; Aumento
da autoconfiança e Desenvolvimento de atitude.
Técnicas de desenvolvimento de
habilidades pessoais: Comunicação
das habilidades e processos; Gerenciamento de tempo; Resolução de conflitos;
Relações interpessoais; Habilidades de vida e Plano de carreira.
Intervenções críticas: Transtornos alimentares e administração do
peso; Pesar, depressão, perda e suicídio; administração de lesões e
reabilitação; Abuso de substâncias; Auto-estima e autoconfiança; Transtornos de
stress pós-traumático; Perfeccionismo e Procrastinação; Transição de carreira e
Risco de lesão e reabilitação.
Intervenções para organização: Dinâmicas de equipe; Liderança; Processos
de comunicação e Análise de sistemas.
B2. Comunicação:
Habilidades de Comunicação (verbal
e não verbal):
·
Entre atletas;
·
Entre atletas e técnico;
·
Entre atletas, técnico e instituição;
·
Desenvolvimento de uma liderança construtiva;
·
Com outros atletas;
·
Com outros profissionais da Psicologia do Esporte e do
Exercício
Experiência Supervisionada: é designada a fornecer supervisão com
orientação, ambiente e oportunidades que facilitem o desenvolvimento das
competências permitindo ao profissional utilizar seu conhecimento básico de
maneira ética.
Princípios
da Supervisão:
·
Aquisição de conhecimento sobre as competências associadas
ao profissional de Psicologia do Esporte e do Exercício;
·
Um supervisor qualificado ou vários supervisores que,
juntos, se encarregam de designar as competências ao profissional da área;
·
Determinação da duração de tempo requerido para o
desenvolvimento das competências, permitindo uma flexibilidade no tempo
necessário para tal;
·
Critérios os quais se referem a uma conclusão satisfatória
para que cada competência seja definida;
·
Critério de avaliação para o monitoramento e estabelecimento
dos relatórios de progresso (andamento);
·
Participação e apresentação (se possível) em reuniões
profissionais e conferências científicas;
·
Planejar encontros de supervisão regular com o supervisor
(s);
·
Manter um registro formal (escrito, gravado e/ou eletrônico)
dos registros de prática (data, tempo, resumo e nome do supervisor);
·
Um relato dos encontros com o supervisor
·
Um relato das atividades designado a desenvolver os
conhecimentos básicos e experiências práticas;
·
Um registro das conferências, workshops e encontros
assistidos;
·
Um registro dos trabalhos escritos, publicações e
apresentações;
·
Uma avaliação dessas atividades;
·
Manter um registro individual para os clientes, e/ou resumo
escrito ´para os técnicos, equipe e/ou organização;
·
Esboçar os principais problemas e desafios encontrados e os
métodos oferecidos e aplicados para resolvê-los ou melhora-los;
·
Preparar os detalhes do programa de intervenção e o esboço
de como os mesmos foram implementados;
·
Registrar como os padrões e o sigilo dos clientes foram
assegurados.
Portanto,
de acordo com os tópicos até aqui descritos, é possível perceber que a ISSP, ao
determinar as competências exigidas no exercício profissional do psicólogo
esportivo, não o fez de forma deliberada. Ao contrário. No papel que lhe cabe
enquanto Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte, a ISSP identificou
não só as competências, mas os saberes necessários para desenvolvê-las a
começar pela Base de Conhecimento que, segundo sua visão, deve ser oferecida ao
profissional que deseja atuar como psicólogo esportivo e que compreende tanto
as teorias da Psicologia Geral como as teorias específicas da Psicologia do
Esporte e outras teorias que abrangem conhecimento motor, físico e
Cinesiologia.
A
partir da aquisição desses conhecimentos, são oferecidas ao profissional,
ferramentas de pesquisa que irão ajudá-lo a sistematizar o estudo dos
indivíduos submetidos ao trabalho de intervenção psicológica. Além disso, o
profissional também aprende a medir, interpretar e avaliar dados, tanto do
ponto de vista teórico, como do ponto de vista prático. Questões éticas, no que
diz respeito à conduta desse profissional e também à forma como manuseia as
informações coletadas no campo de trabalho também são abordadas.
Do
ponto de vista da intervenção propriamente dita, o profissional interessado em
trabalhar como psicólogo esportivo aprende técnicas específicas de aplicação
tanto para o desenvolvimento de habilidades do indivíduo como a melhora da
performance. Nesse caso, o psicólogo poderá fazer uso de diversas abordagens da
Psicologia Geral para analisar o comportamento do atleta, da equipe, do técnico
ou da própria organização. Um outro fator importante que constitui um campo
para atuação do psicólogo esportivo é a comunicação.
A ISSP
acredita que trabalhar a comunicação entre atletas, entre atletas e técnico ou
entre atletas, técnicos e organização (clubes) contribui para o desenvolvimento
não só dos atletas, mas de todas as pessoas envolvidas com o esporte,
independente da modalidade.
Para
concluir, um outro tópico que merece destaque é a necessidade de supervisão
para os profissionais de Psicologia do Esporte. De acordo com a ISSP, é
imprescindível que os futuros psicólogos esportivos possam ter à disposição,
profissionais capacitados para realizar supervisão do material colhido em
campo. Dentre os pré-requisitos listados pela ISSP apontam-se os encontros
constantes com o supervisor para orientação dos dados coletados, participação
em congressos científicos e encontros profissionais para divulgação do trabalho
realizado, publicações, relatórios das atividades exercidas durante o trabalho
de campo, conduta ética e sigilo no manuseio das informações coletadas no
decorrer do trabalho e etc.
Sendo
assim, uma vez tendo claro o posicionamento da ISSP em relação aos critérios de
formação do psicólogo esportivo, tanto no que diz respeito às competências
exigidas para o exercício profissional, como os saberes necessários para o
desenvolvimento dessas competências, outras sociedades e associações se viram
no papel de procurar estabelecer, senão os mesmos critérios exigidos e
aprovados pela ISSP, pelo menos uma parte deles. Seguem, portanto, os próximos
órgãos consultados, APA/CRSPP; AAASP, CFP e CRP e SOBRAPE, respectivamente, com
o objetivo de analisar suas semelhanças e diferenças, a partir das referências
estabelecidas pela Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte.
As Competências segundo a APA
Ao consultar o site da APA
(www.apa47.org) acessa-se uma série de informações sobre a Associação
Norte-americana de Psicologia- Divisão 47, que corresponde à Divisão do
Exercício e Psicologia do Esporte.
Sua história se inicia em Agosto de
1986, data esta reconhecida, posteriormente, como sendo a data de sua criação,
quando um grupo denominado de Grupo de Interessados em Exercício e Psicologia
do Esporte, formou-se durante um encontro anual ocorrido em Washington D.C. em
1983. Com o passar dos anos, um comitê de direção foi formado e leis foram
desenvolvidas. A partir daí, um número significativo de pessoas passaram a se
interessar pelo grupo e se afiliar, superando a marca de 500 membros, o que
resultou num pedido formal, junto a APA, para que o mesmo grupo se tornasse uma
divisão da Associação Norte -americana. Hoje, a APA- Divisão 47 possui mais de
1000 membros e estudantes afiliados e tem, enquanto associação, realizado um
papel importante junto à história da Psicologia do Esporte na América.
A Divisão 47 representa o
desenvolvimento rápido e excitante de uma especialização que tem se colocado no
cruzamento entre a Psicologia e as Ciências do Esporte. Com a Divisão, os
cientistas e os praticantes da Psicologia do Esporte têm a oportunidade de
interagir e adicionar mais conhecimento às potencialidades pessoais e
profissionais. Os interesses de pesquisa dos membros da Divisão incluem a
motivação para persistir e conseguir cumprir metas; considerações psicológicas
nos casos de lesão e reabilitação do esporte; técnicas de aconselhamento com
atletas; avaliação de talento; adesão e bem-estar na atividade física;
autopercepções relacionadas à realização; habilidades para o esporte; esporte
juvenil e técnicas do aumento e auto-regulação do desempenho. A divisão promove
ainda, as fundações científicas, educacionais, e clínicas da Psicologia do
Esporte e do Exercício.
Além disso, a APA- Divisão 47 tem,
também, desde 2003, realizado um evento o qual foi denominado Giveaway-athon,
que tem como principal objetivo levar a Psicologia do Esporte ao conhecimento
da população. Segundo Judy Van Raalte, ex-presidente da APA, a idéia do evento
nasceu na cidade de São Francisco, durante a convenção anual da APA. Segundo
ela, a criação desse evento foi mobilizada pelo desejo de retribuir de alguma
forma a cidade que sediava a convenção. Para isso, seriam enviados alguns dos
melhores profissionais em Psicologia do Esporte para proferir palestras,
workshops, apresentações, de graça. Dessa forma, a comunidade poderia usufruir
deste conhecimento, assistindo aos profissionais fora do local da convenção. O
Giveaway-athon desse ano aconteceu em Washington D.C.
Já no que diz respeito à questão da
formação em Psicologia do Esporte, a APA acredita que, quando uma especialidade
passa a ser definida como uma área de prática psicológica, a mesma requer
conhecimento avançado do profissional e, as habilidades adquiridas, devem
possuir uma sistematização nas instruções e treinamento. Tanto o conhecimento
quanto as habilidades devem ser obtidos através de fundamentações científicas e
profissionais inseridas no campo da Psicologia.
Em se tratando da Psicologia do
Esporte, a APA defende que o conhecimento avançado na área deve vir dos
domínios psicológicos, do esporte e do exercício. O psicólogo do esporte e do
exercício é um profissional que tem, em sua formação, peculiaridades que o
diferem de outros especialistas, tanto no que diz respeito ao seu corpo de
conhecimento científico, como também na sua aplicabilidade. Como um
profissional distinto, as intervenções de campo e as teorias desenvolvidas
refletem e realçam o conhecimento da ciência Psicologia bem como do esporte e
do exercício.
Por conta disso, em Fevereiro de
2003, o Conselho dos Representantes da APA aprovou o que eles denominaram de
proficiência em Psicologia do Esporte. Essa nomeação indica que a Psicologia do
Esporte agora é reconhecida como sendo um aspecto particular da prática
psicológica. O reconhecimento dessa nomeação não se aplica, entretanto, num
nível individual. Um “mecanismo específico” necessita ser desenvolvido para
indicar se todo psicólogo em particular, pode ser considerado competente para
se tornar um psicólogo esportivo. Para isso, inúmeros caminhos têm sido
considerados, seguindo a aprovação do conselho. Estes incluem: o
desenvolvimento de diretrizes para psicólogos em Psicologia do Esporte, o
desenvolvimento de uma supervisão da prática do psicólogo esportivo, revisão
das credenciais e uma aprendizagem constante dos conteúdos teóricos.
Nos termos de proficiência da APA,
aprovados pelo CRSPPP, a especialização em Psicologia do Esporte é reconhecida
como uma especialização em caráter de pósgraduação, cumprida após a obtenção do
doutorado em uma das áreas primárias da Psicologia.
A proficiência abrange o treinamento
das habilidades psicológicas dos atletas, bemestar dos atletas, associado a
organizações esportivas e no desenvolvimento de aspectos sociais do esporte.
Vale ressaltar, no entanto, que a proficiência, segundo o comitê, não pode ser
confundida com o doutorado em Psicologia do Esporte, o qual, tem uma longa
tradição nos Departamentos de Ciências do Esporte e Cinesiologia.
A APA também estabeleceu, a partir
das competências exigidas na formação em Psicologia, duas outras competências
necessárias ao exercício profissional do psicólogo esportivo. Fato esse que chama
atenção para uma outra questão importante, já levantada no decorrer desse
trabalho: quem deve ou pode exercer o papel de psicólogo esportivo? Nesse caso,
a APA deixa claro que, ao exigir que o psicólogo esportivo deve apresentar as
competências que estão inseridas no Código de Ética do psicólogo, isso
significa que o profissional designado a exercer o papel de psicólogo esportivo
só pode ser aquele que tiver formação em Psicologia. Qualquer outro
profissional interessado em fazer a proficiência, no modelo oferecido pela APA
tem, no mínimo, que ser formado em Psicologia.
Sendo assim, alguns cuidados são
necessários ao exercício profissional do psicólogo esportivo para que o mesmo
seja considerado um profissional competente naquilo que ele faz. Veja Quadro a
seguir:
Quadro - Competências exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo segundo a APA/CRSPP
De acordo com as informações
dispostas no Quadro acima, é possível observar uma divisão no que diz respeito
às competências, ou seja, as primeiras competências, acima relacionadas, dizem
respeito àquelas desenvolvidas durante a formação do psicólogo e, aquelas que
pertencem à APA- Divisão 47 são designadas ao fazer profissional do psicólogo
esportivo.
Ainda no Quadro, também é possível
identificar, principalmente, a necessidade de conhecimento e treinamento
específicos que possibilitem intervenções adequadas no cenário esportivo e o
oferecimento de serviços, ensinamentos, supervisão e atendimento de qualidade,
baseado num conhecimento científico adquirido através de pesquisa.
Uma vez definidas as competências, a
APA procurou sistematizar um corpo de conhecimento teórico e prático capaz de
possibilitar ao psicólogo esportivo o desenvolvimento das competências
necessárias ao exercício profissional. São estes:
·
Ter conhecimento da teoria e pesquisa em fundamentos social, histórico e
cultural no desenvolvimento da Psicologia do Esporte;
·
Ter conhecimento dos princípios e as práticas da Psicologia do Esporte
aplicada, incluindo edições e técnicas da avaliação psicológica específica do
esporte e do treinamento mental para a melhora do desempenho e da satisfação;
·
Atendimento clínico e aconselhamento junto aos atletas;
·
Conhecimento dos aspectos organizacional e sistemático de um
consultor esportivo;
·
Entendimento do desenvolvimento das questões sociais relacionadas
à participação no esporte;
·
Conhecimento das bases bio-comportamentais do esporte e do
exercício (Fisiologia do exercício, aprendizado motor e medicina do esporte).
Ter conhecimento da teoria e pesquisa em fundamentos social, histórico e
cultural no desenvolvimento da Psicologia do Esporte.
No entanto, a APA alerta que, apesar
de oferecer a proficiência em Psicologia do Esporte e ressaltar a importância
da conduta ética do psicólogo esportivo, ela tem ainda mais dois desafios a
serem cumpridos: 1) promover sempre proteção ao público, através da verificação
do conhecimento no campo e extensa supervisão que irão assegurar os serviços
qualificados direcionados aos indivíduos. Atletas, técnicos, pais,
administradores e outros devem ser capazes de avaliar se os serviços oferecidos
pelo psicólogo esportivo estão dentro dos padrões exigidos pela APA; 2) a
proficiência deve ajudar os psicólogos atuais e aqueles que se encontram em
treinamento e que estão interessados no campo, obter o treinamento e a
experiência apropriados à Psicologia do Esporte. Além disso, sendo a Psicologia
do Esporte uma proficiência reconhecida como sendo da Psicologia, a mesma deve
fornecer um modelo de treinamento apropriado ao campo. E, nesse aspecto pode-se
destacar, segundo a APA, as seguintes estratégias e procedimentos:
·
Treinamento de habilidades psicológicas;
·
Determinação de metas e Perfil de desempenho;
·
Visualização e plano de performance;
·
Aumento da autoconfiança;
·
Técnicas cognitivas de comportamento de auto-regulação;
·
Estratégias de controle de concentração e atenção;
·
Treinamento no gerenciamento das emoções;
·
Interpretação de atribuições e auto-avaliação no esporte;
·
Transtornos alimentares e controle de peso;
·
Intervenção no abuso de substâncias;
·
Pesar, depressão, perda e suicídio;
·
Aconselhamento em casos de Overtraining e burnout;
·
Aconselhamento sobre questões relacionadas à sexualidade;
·
Aconselhamento em casos de violência e agressão no esporte;
·
Lesão e reabilitação;
·
Transição de carreira;
·
Treinamento para coesão de equipe;
·
Construção da equipe;
·
Treinamento de liderança;
·
Desenvolvimento do caráter e da moral no esporte;
·
Desenvolvimento da autoconfiança, auto-estima e competência no
esporte;
·
Intervenções dirigidas aos pais e à família quando necessário, no
caso de atletas infanto-juvenis.
Vale ressaltar que, praticamente,
todas as estratégias e/ou procedimentos aqui descritos são os mesmos
determinados pela ISSP, no que diz respeito às Técnicas de intervenção (B1),
com exceção de alguns itens que não aparecem na lista. Mas não existe nenhuma
informação concreta a respeito de um “convênio” entre a ISSP e a APA, do ponto
de vista da formação do psicólogo esportivo. Na verdade, o que existe é apenas
uma referência da APA a ISSP, bem como a outras sociedades e associações:
AAASP; Sociedade Norte-Americana de Psicologia do Esporte e Atividade Física
(NASPSPA) e Associação Britânica de Ciências do Esporte e Exercício (BASES) que
desenvolvem trabalhos dentro do campo da Psicologia do Esporte.
De qualquer forma, a ausência de um
“convênio” não significa, necessariamente, uma falta de intercâmbio de
informações entre os órgãos. Ao contrário. Mesmo porque, a própria ISSP, ao
estabelecer as competências exigidas no exercício profissional do psicólogo
esportivo, deixou claro que as mesmas não deveriam ser, de forma alguma,
entendidas como uma obrigação para outras sociedades e/ou associações.
Elas deveriam sim, servir de
parâmetro na confecção de cursos de formação e treinamento do profissional que
se interessa em trabalhar com Psicologia do Esporte.
As Competências segundo a AAASP
Nessa mesma linha de pensamento,
encontra-se também a Associação para o Avanço da Psicologia do Esporte Aplicada
(AAASP), o próximo órgão a ser descrito.
Fundada em 1986, a AAASP surgiu como
uma grande organização aplicada ao esporte, exercício e saúde psicológica. John
M. Silva, fundador e presidente estabeleceu que a AAASP deveria promover a
ciência e a prática da Psicologia do Esporte (exercício e saúde) e, ao mesmo
tempo, promover uma oportunidade dos indivíduos compartilharem informações
sobre desenvolvimento de teorias, pesquisa e promover também, serviço
psicológico à população.
Três áreas, então, inicialmente,
foram eleitas como focos para possibilitar a concretização desses objetivos:
1. Psicologia da
Saúde: abrange o papel dos fatores psicológicos na prática do esporte e do
exercício, particularmente, aqueles relacionados ao desenvolvimento e à cura de
doenças, stress e promoção da saúde. A principal preocupação é ajudar
indivíduos a se manterem saudáveis física e emocionalmente.
2. Intervenção para
o aumento da performance: o foco dessa área está no desenvolvimento de
pesquisa, teoria e prática para promover performance dentro do exercício e
esporte. Esta área também se preocupa com os efeitos da intervenção psicológica
no esporte na busca do bem estar daqueles que praticam atividade física.
3. Psicologia
Social: Seu foco principal é o processo individual e grupal no cenário
esportivo. Esta área aplica os fundamentos da Psicologia Social para examinar
fatores relacionados aos participantes do esporte, técnicos, equipe e platéia
(espectadores).
Posteriormente, a AAASP, com o
objetivo de ajudar atletas, técnicos, pais e pessoas interessadas em
compreender a Psicologia do Esporte aplicada, criou mais três áreas que
oferecem informações completas a respeito da Psicologia do Esporte aplicada.
São estas: Informações sobre Psicologia do Esporte aplicada; Questões
freqüentes feitas sobre Psicologia do Esporte aplicada; Definição de
habilidades psicológicas e Definição de papéis profissionais.
Além disso, a AAASP, também tem
dedicado tempo e esforços significativos aos critérios essenciais à identidade
e prática da Psicologia aplicada ao esporte. Como resultado desses esforços, em
1989, a AAASP estabeleceu e aprovou critérios para certificação do profissional
em Psicologia do Esporte, com a intenção de demonstrar que os indivíduos que
procurassem essa certificação deveriam ter no mínimo um nível de experiência e
treinamento para oferecer serviços em Psicologia do Esporte aplicada.
Atualmente, a AAASP é a única
organização em esporte, exercício e Psicologia da Saúde que oferece esse tipo
de certificado aos seus membros. No entanto, no que diz respeito aos critérios
exigidos para o desenvolvimento e aplicação da Psicologia do Esporte, estes
trazem algumas diferenças quando comparados aos órgãos anteriores (ISSP e APA).
De acordo com essa organização, são
conferidos certificados aos profissionais que recebem o título Consultor da
AAASP (Certified Consultant, AAASP). No entanto, a AAASP, diferentemente da
ISSP e APA, permite que outros profissionais que trabalham com o esporte, que
não o psicólogo, obtenham o certificado de Consultor da AAASP.
De acordo com seu estatuto, os
profissionais formados pela AAASP são reconhecidos pela Associação através da
obtenção de um conhecimento em nível profissional de subdisciplinas da
Psicologia do Esporte aplicada, como por exemplo: Psicologia da Saúde e do
Exercício; Intervenção e aumento de performance e Psicologia Social. A
aplicação destes conhecimentos é, primeiramente, direcionada às atividades
educacionais envolvendo a comunicação dos princípios da Psicologia do Esporte
aos indivíduos envolvidos com treinamento desportivo, competição, exercício e
atividade física, além do desenvolvimento e compreensão das habilidades
cognitivas, comportamentais e afetivas de participantes de todas as idades e
níveis. Os procedimentos de avaliação e intervenção utilizados são específicos
em termos operacionais e avaliados, de forma objetiva, quando possível.
Nesse sentido, ao observar as
competências exigidas pela AAASP e dispostas no Quadro abaixo, poderia se
afirmar que, qualquer profissional, independente do psicólogo, estaria apto a
conseguir o título de Consultor da AAASP, já que as competências abaixo
relacionadas não oferecem limitações a quem não fez sua graduação em
Psicologia, como é o caso da APA, por exemplo. Mas nem sempre o que se mostra
muito simples, na verdade o é. Ao contrário.
Quadro - Competências exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo segundo a AAASP
O Quadro acima mostra resumidamente
algumas das competências que o profissional que recebe o título de Consultor da
AAASP deve possuir, mas ao consultar o site da AAASP (www.aaasponline.org ), é
possível encontrar cinco passos, ou como mencionado no texto, “cinco ciclos”
direcionados aos interessados em receber o título de consultor que
desmistificam a simplicidade aparente dessas competências, provando que, se o
profissional desejar possuir o título de consultor, ele terá que desenvolver
muito mais do que as quatro competências relacionadas anteriormente. Veja a
seguir:
O primeiro passo
refere-se ao Código de ética da Associação. A AAASP desenvolveu um código
de ética bastante semelhante ao da ISSP, que aborda, além dos 25 padrões de
conduta, seis princípios: Competência; Integridade; Responsabilidade científica
e profissional; Respeito e Dignidade pelas pessoas; Preocupação em dar
assistência aos outros e Responsabilidade Social. No Código de Ética descrito
pela ISSP, acrescentam-se ainda além destas: Permissão e Confidenciabilidade;
Conduta Pessoal e Ética de pesquisa.
Segundo a Associação, o profissional
deverá respeitar e cumprir todas as exigências feitas pelo Código de Ética.
O segundo passo diz
respeito ao tipo de seleção a que o profissional deverá se submeter para conseguir o certificado, de acordo com a
sua formação. Existem quatro tipos de opção para seleção:
1. Formulário de Aplicação de
Re-certificação (Recertification Application Form): para profissionais que já
possuem o certificado de consultor;
2. Formulário de aplicação para
Grandparenting (Grandparenting Application Form): para candidatos que obtiveram
o título de doutor até 31 de Dezembro de 1992;
3. Formulário de Aplicação Padrão
(Standard Application Form): para os candidatos que possuem doutorado;
4. Formulário de Aplicação para quem
possui o título de Mestre (Masters Degree Application Form): para os candidatos
que possuem mestrado (status provisório).
No caso do candidato escolher o
primeiro ou segundo Formulário de Aplicação (1 e 2), o mesmo poderá prosseguir
no passo quatro. Senão, ele deverá seguir a ordem.
O terceiro passo diz respeito à
contratação de um supervisor que estará disposto a ajudar o candidato a se
tornar Consultor da AAASP. O quarto passo consiste em o candidato imprimir a
aplicação à qual ele terá que se submeter (escolha feita no segundo passo). E o
quinto e último passo é uma revisão completa do preenchimento do Formulário de
Aplicação com o objetivo de verificar se está tudo correto.
Vale ressaltar, no entanto, que cada
um dos formulários41 descritos aqui, tem no mínimo 13 páginas, contendo desde
informações sobre o histórico escolar do candidato, passando pela avaliação de
conhecimento do Código de Ética, Psicologia do Esporte, Biomecânica e/ou Bases
Fisiológicas do Esporte, Bases históricas, filosóficas, sociais ou do
comportamento motor do esporte, Psicopatologia e suas avaliações, Habilidades
de Aconselhamento, Habilidades e técnicas de análise dentro do Esporte e do
Exercício e experiências relacionadas ao treinamento, Pesquisa, Estatística e
Avaliação psicológica, Bases biológicas do comportamento, Bases do
Comportamento cognitivo-afetivo, Bases do Comportamento social, Comportamento
individual.
Além dos itens acima, ainda é pedido
o relatório de avaliação da prática supervisionada. Nesse caso, o candidato
deverá contratar um supervisor indicado pela AAASP, através de uma lista com
nomes de todos os supervisores credenciados. O candidato deverá cumprir 400
horas de supervisão, sendo que 25% ou 100 horas devem ser direcionadas ao
atendimento com os clientes. O supervisor ficará encarregado de verificar e
avaliar não só o cumprimento das horas estipuladas, mas também as atividades
práticas realizadas pelo candidato durante sua experiência em campo.
Em outras palavras,
apesar da clara diferença dos outros órgãos para com a AAASP, fica evidente que
os critérios adotados na seleção de profissionais para exercer a função de
Consultor da AAASP são tão complexos e, ao mesmo tempo, completos quanto
aqueles oferecidos pela APA. Além disso, pode-se observar, também, que de
acordo com o
formulário de aplicação, os conhecimentos prévios exigidos pela Associação abrangem, não só grande parte dos conhecimentos teóricos estabelecidos pela ISSP, para o desenvolvimento das competências do psicólogo esportivo, como também exige o cumprimento de atividade prática supervisionada. E, esta, talvez, seja a primeira diferença a
apontar, entre AAASP e os outros órgãos: o profissional que cumpre todas as etapas de seleção, não recebe o título de “psicólogo” esportivo e sim, de Consultor da AAASP.
formulário de aplicação, os conhecimentos prévios exigidos pela Associação abrangem, não só grande parte dos conhecimentos teóricos estabelecidos pela ISSP, para o desenvolvimento das competências do psicólogo esportivo, como também exige o cumprimento de atividade prática supervisionada. E, esta, talvez, seja a primeira diferença a
apontar, entre AAASP e os outros órgãos: o profissional que cumpre todas as etapas de seleção, não recebe o título de “psicólogo” esportivo e sim, de Consultor da AAASP.
Em outras palavras, é possível
afirmar que essa formação existe e pode se diferenciar através de suas
intervenções. Mas essa discussão não se encerra aqui. Mesmo porque ainda falta
mencionar os órgãos nacionais e o que eles têm oferecido em termos de formação
e competências no caso da Psicologia do Esporte.
As Competências
segundo a AAASP
Nessa mesma linha de pensamento,
encontra-se também a Associação para o Avanço da Psicologia do Esporte Aplicada
(AAASP), o próximo órgão a ser descrito.
Fundada em 1986, a AAASP surgiu como
uma grande organização aplicada ao esporte, exercício e saúde psicológica. John
M. Silva, fundador e presidente estabeleceu que a AAASP deveria promover a
ciência e a prática da Psicologia do Esporte (exercício e saúde) e, ao mesmo
tempo, promover uma oportunidade dos indivíduos compartilharem informações
sobre desenvolvimento de teorias, pesquisa e promover também, serviço
psicológico à população.
Três áreas, então, inicialmente,
foram eleitas como focos para possibilitar a concretização desses objetivos:
1. Psicologia da
Saúde: abrange o papel dos fatores psicológicos na prática do esporte e do
exercício, particularmente, aqueles relacionados ao desenvolvimento e à cura de
doenças, stress e promoção da saúde. A principal preocupação é ajudar
indivíduos a se manterem saudáveis física e emocionalmente.
2. Intervenção para
o aumento da performance: o foco dessa área está no desenvolvimento de
pesquisa, teoria e prática para promover performance dentro do exercício e
esporte. Esta área também se preocupa com os efeitos da intervenção psicológica
no esporte na busca do bem estar daqueles que praticam atividade física.
3. Psicologia
Social: Seu foco principal é o processo individual e grupal no cenário
esportivo. Esta área aplica os fundamentos da Psicologia Social para examinar
fatores relacionados aos participantes do esporte, técnicos, equipe e platéia
(espectadores).
Posteriormente, a AAASP, com o objetivo
de ajudar atletas, técnicos, pais e pessoas interessadas em compreender a
Psicologia do Esporte aplicada, criou mais três áreas que oferecem informações
completas a respeito da Psicologia do Esporte aplicada. São estas: Informações
sobre Psicologia do Esporte aplicada; Questões freqüentes feitas sobre
Psicologia do Esporte aplicada; Definição de habilidades psicológicas e
Definição de papéis profissionais.
Além disso, a AAASP, também tem
dedicado tempo e esforços significativos aos critérios essenciais à identidade
e prática da Psicologia aplicada ao esporte. Como resultado desses esforços, em
1989, a AAASP estabeleceu e aprovou critérios para certificação do profissional
em Psicologia do Esporte, com a intenção de demonstrar que os indivíduos que procurassem
essa certificação deveriam ter no mínimo um nível de experiência e treinamento
para oferecer serviços em Psicologia do Esporte aplicada.
Atualmente, a AAASP é a única
organização em esporte, exercício e Psicologia da Saúde que oferece esse tipo
de certificado aos seus membros. No entanto, no que diz respeito aos critérios
exigidos para o desenvolvimento e aplicação da Psicologia do Esporte, estes
trazem algumas diferenças quando comparados aos órgãos anteriores (ISSP e APA).
De acordo com essa organização, são
conferidos certificados aos profissionais que recebem o título Consultor da
AAASP (Certified Consultant, AAASP). No entanto, a AAASP, diferentemente da
ISSP e APA, permite que outros profissionais que trabalham com o esporte, que
não o psicólogo, obtenham o certificado de Consultor da AAASP.
De acordo com seu estatuto, os
profissionais formados pela AAASP são reconhecidos pela Associação através da
obtenção de um conhecimento em nível profissional de subdisciplinas da
Psicologia do Esporte aplicada, como por exemplo: Psicologia da Saúde e do
Exercício; Intervenção e aumento de performance e Psicologia Social. A
aplicação destes conhecimentos é, primeiramente, direcionada às atividades
educacionais envolvendo a comunicação dos princípios da Psicologia do Esporte
aos indivíduos envolvidos com treinamento desportivo, competição, exercício e
atividade física, além do desenvolvimento e compreensão das habilidades
cognitivas, comportamentais e afetivas de participantes de todas as idades e
níveis. Os procedimentos de avaliação e intervenção utilizados são específicos
em termos operacionais e avaliados, de forma objetiva, quando possível.
Nesse sentido, ao observar as
competências exigidas pela AAASP e dispostas no Quadro abaixo, poderia se
afirmar que, qualquer profissional, independente do psicólogo, estaria apto a
conseguir o título de Consultor da AAASP, já que as competências abaixo
relacionadas não oferecem limitações a quem não fez sua graduação em
Psicologia, como é o caso da APA, por exemplo. Mas nem sempre o que se mostra
muito simples, na verdade o é. Ao contrário.
Quadro - Competências exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo segundo a AAASP
O Quadro acima mostra resumidamente
algumas das competências que o profissional que recebe o título de Consultor da
AAASP deve possuir, mas ao consultar o site da AAASP (www.aaasponline.org ), é
possível encontrar cinco passos, ou como mencionado no texto, “cinco ciclos”
direcionados aos interessados em receber o título de consultor que desmistificam
a simplicidade aparente dessas competências, provando que, se o profissional
desejar possuir o título de consultor, ele terá que desenvolver muito mais do
que as quatro competências relacionadas anteriormente. Veja a seguir:
O primeiro passo refere-se
ao Código de ética da Associação. A AAASP desenvolveu um código
de ética bastante semelhante ao da ISSP, que aborda, além dos 25 padrões de
conduta, seis princípios: Competência; Integridade; Responsabilidade científica
e profissional; Respeito e Dignidade pelas pessoas; Preocupação em dar
assistência aos outros e Responsabilidade Social. No Código de Ética descrito
pela ISSP, acrescentam-se ainda além destas: Permissão e Confidenciabilidade;
Conduta Pessoal e Ética de pesquisa.
Segundo a Associação, o profissional
deverá respeitar e cumprir todas as exigências feitas pelo Código de Ética.
O segundo passo diz
respeito ao tipo de seleção a que o profissional deverá se submeter para conseguir o certificado, de acordo com a sua
formação. Existem quatro tipos de opção para seleção:
1. Formulário de Aplicação de
Re-certificação (Recertification Application Form): para profissionais que já
possuem o certificado de consultor;
2. Formulário de aplicação para
Grandparenting (Grandparenting Application Form): para candidatos que obtiveram
o título de doutor até 31 de Dezembro de 1992;
3. Formulário de Aplicação Padrão
(Standard Application Form): para os candidatos que possuem doutorado;
4. Formulário de Aplicação para quem
possui o título de Mestre (Masters Degree Application Form): para os candidatos
que possuem mestrado (status provisório).
No caso do candidato escolher o
primeiro ou segundo Formulário de Aplicação (1 e 2), o mesmo poderá prosseguir
no passo quatro. Senão, ele deverá seguir a ordem.
O terceiro passo diz respeito à
contratação de um supervisor que estará disposto a ajudar o candidato a se
tornar Consultor da AAASP. O quarto passo consiste em o candidato imprimir a
aplicação à qual ele terá que se submeter (escolha feita no segundo passo). E o
quinto e último passo é uma revisão completa do preenchimento do Formulário de
Aplicação com o objetivo de verificar se está tudo correto.
Vale ressaltar, no entanto, que cada
um dos formulários41 descritos aqui, tem no mínimo 13 páginas, contendo desde
informações sobre o histórico escolar do candidato, passando pela avaliação de
conhecimento do Código de Ética, Psicologia do Esporte, Biomecânica e/ou Bases
Fisiológicas do Esporte, Bases históricas, filosóficas, sociais ou do
comportamento motor do esporte, Psicopatologia e suas avaliações, Habilidades
de Aconselhamento, Habilidades e técnicas de análise dentro do Esporte e do
Exercício e experiências relacionadas ao treinamento, Pesquisa, Estatística e
Avaliação psicológica, Bases biológicas do comportamento, Bases do
Comportamento cognitivo-afetivo, Bases do Comportamento social, Comportamento
individual.
Além dos itens acima, ainda é pedido
o relatório de avaliação da prática supervisionada. Nesse caso, o candidato
deverá contratar um supervisor indicado pela AAASP, através de uma lista com
nomes de todos os supervisores credenciados. O candidato deverá cumprir 400
horas de supervisão, sendo que 25% ou 100 horas devem ser direcionadas ao
atendimento com os clientes. O supervisor ficará encarregado de verificar e
avaliar não só o cumprimento das horas estipuladas, mas também as atividades
práticas realizadas pelo candidato durante sua experiência em campo.
Em outras palavras,
apesar da clara diferença dos outros órgãos para com a AAASP, fica evidente que
os critérios adotados na seleção de profissionais para exercer a função de
Consultor da AAASP são tão complexos e, ao mesmo tempo, completos quanto
aqueles oferecidos pela APA. Além disso, pode-se observar, também, que de
acordo com o
formulário de aplicação, os conhecimentos prévios exigidos pela Associação abrangem, não só grande parte dos conhecimentos teóricos estabelecidos pela ISSP, para o desenvolvimento das competências do psicólogo esportivo, como também exige o cumprimento de atividade prática supervisionada. E, esta, talvez, seja a primeira diferença a
apontar, entre AAASP e os outros órgãos: o profissional que cumpre todas as etapas de seleção, não recebe o título de “psicólogo” esportivo e sim, de Consultor da AAASP.
formulário de aplicação, os conhecimentos prévios exigidos pela Associação abrangem, não só grande parte dos conhecimentos teóricos estabelecidos pela ISSP, para o desenvolvimento das competências do psicólogo esportivo, como também exige o cumprimento de atividade prática supervisionada. E, esta, talvez, seja a primeira diferença a
apontar, entre AAASP e os outros órgãos: o profissional que cumpre todas as etapas de seleção, não recebe o título de “psicólogo” esportivo e sim, de Consultor da AAASP.
Em outras palavras, é possível afirmar
que essa formação existe e pode se diferenciar através de suas intervenções.
Mas essa discussão não se encerra aqui. Mesmo porque ainda falta mencionar os
órgãos nacionais e o que eles têm oferecido em termos de formação e
competências no caso da Psicologia do Esporte.
Competências do
Psicólogo Esportivo: Visão Geral
Retomando, em se tratando das
competências propriamente ditas, acredita-se que, a partir dos quadros
apresentados durante essas lições, seja possível visualizar, o cruzamento das informações
descritas, anteriormente, um único quadro de competências que devem ser
exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo. Sendo assim, o
Quadro abaixo, representa os pontos comuns e as diferenças em relação às
competências encontradas nos quatro quadros anteriores. Veja a seguir:
Quadro - Competências exigidas no
exercício profissional do psicólogo esportivo segundo a ISSP; APA/CRSPPP; AAASP
e CFP e CRP- Brasil
Portanto, ao observar o Quadro acima,
é possível enxergar que, todas as competências necessárias ao exercício
profissional do psicólogo esportivo, estabelecidas através de informações
advindas dos quatro quadros anteriores , representam as competências
necessárias ao exercício profissional do psicólogo. Porém, é necessário alertar
que as competências dispostas no Quadro acima podem e devem sofrer modificações
ao longo do tempo, já que tanto o conhecimento quanto os indivíduos são
dinâmicos, ou seja, estão em constante processo de mudança.
Formação e o Papel
do Psicólogo Esportivo
Quando se propõe discutir sobre a
formação do psicólogo esportivo no Brasil, inevitavelmente, se propõe
determinar, de início, quais são os elementos que compõem esse cenário, de que
forma eles estão dispostos e, mais do que isso, de que forma eles estão se
relacionando.
Levando-se em conta essa perspectiva,
ao longo desse trabalho, através de pesquisa e muita leitura, foi possível
determinar alguns elementos que têm assumido lugares importantes dentro da
formação do psicólogo esportivo e que merecem neste espaço, ser discutidos. São
estes: o papel da Psicologia dentro da formação do psicólogo do esporte, e aí
abrange em que nível (graduação ou pós-graduação lato e/ou stricto-sensu) tem
que se dar formação, de que forma e, as competências exigidas no fazer
profissional do psicólogo esportivo.
Com relação ao papel da Psicologia
dentro da formação do psicólogo esportivo, as informações, que, freqüentemente,
veiculavam através dos livros ou na opinião dos profissionais, fossem estes
psicólogos ou não, eram de que o curso de graduação deveria oferecer uma
disciplina no campo da Psicologia do Esporte a fim de “garantir”, mínima que
fosse, a possibilidade de um espaço para aquisição de conhecimento.
No entanto, hoje se tem claro, de
acordo com os resultados levantados, que a questão da inserção dessa disciplina
específica, não se constitui mais em uma necessidade vista como crucial na
formação do psicólogo esportivo. Isso porque, baseando-se nas Diretrizes
Curriculares do curso de Psicologia, sabe-se que uma única disciplina, seja em
que área for, não existe num currículo de graduação, para dar conta de
contemplar conteúdos que devam ser capazes de desenvolver as competências
necessárias ao exercício do psicólogo como um todo, seja no campo do esporte ou
em qualquer outro.
Ao contrário. Como apontaram Bastos e
Achcar (1994), dada a diversidade que tem se apresentado, através dos
diferentes contextos em que o psicólogo se encontra hoje inserido e aos
problemas enfrentados, a Psicologia não está e nem pode assumir uma postura
estática ou conservadora. Seu objeto de estudo é o indivíduo, e o indivíduo,
por sua natureza, é um ser dinâmico, que sofre transformações, desenvolve
necessidades, está o tempo todo em contato com estímulos capazes de mobilizá-lo
tanto positiva como negativamente.
Por conta disso, também o psicólogo
tem que, ao mesmo tempo em que acompanha essas transformações vivenciadas por
este indivíduo, desenvolver competências profissionais que o capacitem
adequadamente para lidar com as novas necessidades e os novos cenários impostos
pelas mudanças. Quando se fala aqui em competências, estas estão relacionadas a
uma especificidade necessária àquele contexto escolhido como campo de
intervenção pelo psicólogo. Ao examinar o Quadro da lição "Competências do
Psicólogo Esportivo: Visão Geral", é possível perceber essa realidade. Ou
seja, as competências exigidas no fazer profissional do psicólogo esportivo,
abrangem tanto competências que são desenvolvidas ao longo dos cinco anos do
curso de Psicologia, como também competências que só serão ou deverão ser
desenvolvidas num curso específico, no caso, provavelmente um curso de
especialização, que pela sua própria característica de formação, foi criado
para suprir a necessidade de profissionais em busca de conhecimentos
específicos de uma área.
Ainda assim, o fato de ficar claro
que não cabe aos cursos de graduação o ônus da responsabilidade de uma formação
específica, não liquida a discussão em torno da formação do psicólogo
esportivo. Na verdade, só inicia uma outra: a discussão sobre a demanda de
cursos de especialização em Psicologia do Esporte, oferecidos, atualmente, no
Brasil.
Pode-se afirmar que existe pelo menos
um curso de especialização em Psicologia do Esporte sendo oferecido em São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Estados onde,
coincidentemente, estão localizadas as chamadas ilhas de excelência, ou para
ser mais clara, os profissionais de renome do campo da Psicologia do Esporte
que, pelo seu trabalho, suas publicações, sua atividade acadêmica, etc,
tornaram-se referência nacional.
O problema, no entanto, é que dentre
essas possibilidades, só um desses cursos tem habilitado, legalmente, o
psicólogo como psicólogo esportivo, fornecendo ao mesmo, o título de
especialista em Psicologia do Esporte reconhecido pelos órgãos oficiais CFP e
ABEP. Isso significa que, desde a aprovação desse título (2001), cinco anos
depois, apenas um único curso foi, até hoje, credenciado no Conselho Federal de
Psicologia e aprovado pela ABEP. E quanto aos outros cursos existentes? Quem os
oferece não está habilitando seus profissionais, uma vez que não são credenciados?
Não é possível afirmar isso, mesmo porque, pela própria trajetória dos
profissionais entrevistados, já ficou comprovado que não é só um título de
especialização que pode fazer a diferença na formação de um profissional dessa
área e sim, um conjunto de fatores associados a um conhecimento específico, que
produz um profissional qualificado, apto a exercer sua profissão adequadamente.
A especialização deve ser um meio e não um fim, na formação do psicólogo
esportivo.
O que é possível afirmar nessa
questão, no entanto, é que sendo o curso de especialização um meio de aquisição
de conhecimento na formação do psicólogo esportivo e, o título de especialista,
uma “garantia” legal ao profissional e às pessoas que usufruem os seus
serviços, a união dos dois traria, teoricamente, ao psicólogo esportivo, um
duplo reconhecimento, ou seja, tanto o profissional quanto a população estariam
“garantidos” pela formação (já que o curso é credenciado) e pelo título de
especialista (o profissional está inscrito no Conselho que regulamenta e
responde pelas suas funções profissionais).
Mas na prática, sabe-se que isso não
ocorre dessa maneira, por que não há como provar se um profissional se torna
competente por ter feito um curso de especialização ou mesmo cursos em nível
stricto-sensu (mestrados e/ou doutorados). O que há é uma expectativa de que
esses veículos de formação possam contribuir sim, para que este profissional
esteja preparado para dar conta de suas funções como psicólogo esportivo.
Caso contrário, ainda, se nenhum desses
caminhos puder satisfazer as lacunas do conhecimento, existe um elemento de
formação que pode funcionar como diferenciador entre os profissionais que têm
atuado em Psicologia do Esporte: a formação em Psicologia.
Aqueles que se formaram, inicialmente, em outros cursos como Educação Física, Filosofia ou Pedagogia e se interessaram, posteriormente, pela Psicologia do Esporte, fizeram a graduação em Psicologia. E isso não é uma coincidência, porque está no relato desses profissionais que a procura pela graduação em Psicologia se deu pela necessidade de se conhecer de forma mais aprofundada o indivíduo, e olhar esse indivíduo pela lente de um referencial teórico-metodológico específico da área, no caso, a Psicologia. E, é esse referencial que serve de subsídios para a prática de intervenção do psicólogo esportivo. Se não, por que o nome Psicologia do Esporte, se não for a Psicologia a fazer diferença nessa atuação?
Afirmar que é do psicólogo, o direito
de exercer atividades de intervenção junto a atletas, equipes esportivas,
técnicos, pais, etc, é reconhecer que só ele, mais nenhum profissional formado
em outra área, ainda que tenha adquirido conhecimentos da Psicologia através de
disciplinas acadêmicas, cursos de extensão, especialização, mestrado ou doutorado,
está preparado para fazer leituras sobre o ser humano, seja no contexto
esportivo ou em qualquer outro. E aqui cabe um esclarecimento pela ênfase dada
ao afirmar só ele: hoje, no Brasil, ainda não existe nenhuma outra formação que
possa oferecer ao profissional, o conhecimento necessário advindo da
Psicologia, que não seja através de um curso de graduação nessa área. E, além
disso, também é necessário considerar que, por uma questão de legalidade, ou
seja, nas leis aprovadas pelo Ministério da Educação e pelos órgãos oficiais
responsáveis pelo exercício profissional do psicólogo, a Psicologia do Esporte,
enquanto prática de intervenção, é um mercado reservado ao psicólogo. Ou seja,
mesmo o profissional tendo, por exemplo, adquirido um certificado pela AAASP
(Associação para o Avanço da Psicologia do Esporte Aplicada) (ver p. 98-103),
que lhe dá o título de Consultor em Psicologia do Esporte, o mesmo não poderá
exercer essa função aqui no Brasil, a menos que consiga, junto aos Conselhos de
Psicologia, uma equivalência que o autorize a exercer essa função. Sem isso, o
profissional que, com essa formação insiste em realizar práticas de
intervenção, está fora das leis do país e, portanto, deverá ser denunciado.
Vale ressaltar que essa medida é
necessária, uma vez que se lida com o ser humano, ou seja, qualquer intervenção
inadequada ou ações que não sejam baseadas em conhecimento científico e
respeitem uma ética profissional, podem trazer sérios danos emocionais ao
indivíduo, muitas vezes, irreparáveis. E o Código de Ética do psicólogo, como
em qualquer outra profissão, é específico dessa atuação. É só comparar, por
exemplo, um dos itens, a obrigatoriedade do sigilo. Não existe no código de
ética do engenheiro algo que o obrigue a guardar “confidências” de um atleta em
relação ao técnico. É fato que isso pode ocorrer, até por uma questão de bom
senso do profissional, mas se assim for, se todos podem agir pelo bom senso
(que, a meu ver, é algo tão pessoal), de que serve a formação e a ética
profissional?
Por isso, independente da existência
ou não, de uma formação lato ou stricto-sensu, é do psicólogo, baseado em sua
formação inicial, considerada generalista no Brasil (Maluf, 2003), a função de
realizar intervenções, seja em que contexto for, principalmente, porque sua
formação permite, de acordo com as Diretrizes Curriculares, uma formação para
esse profissional, não só no campo profissional, como no campo da pesquisa e do
ensino.E estas características, de antemão já contemplam, de acordo com os
autores dos capítulos dos livros consultados, as três funções designadas no
fazer do psicólogo esportivo: o psicólogo esportivo clínico (que faz
intervenções), o psicólogo esportivo educacional (que ministra disciplinas,
conferências, palestras) e o psicólogo esportivo pesquisador (aquele que estuda
e desenvolve novos conhecimentos, métodos, estratégias, etc, no campo da
Psicologia do Esporte).
Portanto, se a formação do psicólogo
esportivo é um assunto que continua provocando polêmicas no campo da Psicologia
do Esporte, é necessário se investigar se os cursos oferecidos estão ou podem
dar conta da demanda de profissionais que têm interesse na Psicologia do
Esporte e, se o que tem sido oferecido através destes veículos de formação, tem
dado conta de formar psicólogos do esporte capazes de cumprir as competências
exigidas no seu fazer profissional.
Como aponta Franco (2004), citando
Horn e Dewar, para o futuro da Psicologia do Esporte como um todo, deve-se
analisar criticamente não só o que se está fazendo, mas como e por quê estamos
fazendo e, principalmente, por quê ainda estamos fazendo de maneira
individualizada. Desenvolvendo meios críticos e reflexivos que permitam rever o
exercício da Psicologia do Esporte poderemos, enfim, transformar a sua
história, o seu futuro.
Se a Psicologia do Esporte no Brasil
é propagada por vários profissionais como uma área promissora, por que o
retrocesso? E aqui se levanta uma outra questão? A quem caberia o papel e a
iniciativa de reunir as pessoas em sua diferença e manter aberto um canal de
comunicação entre elas? O CFP e CRP? A SOBRAPE? A nova Associação de Psicologia
do Esporte, a ABRAPESP (fundada em 2003, durante o I Simpósio de Psicologia do
Esporte, em SP)? Diria que, de acordo com as funções assumidas por cada um
deles em seus estatutos, todos teriam a possibilidade de exercer esse papel,
mas infelizmente, pouco se tem feito a respeito, pelo menos no que diz respeito
a reunir os profissionais das diferentes “ilhas”.
E, se o desejo de mudar essa
realidade existe, então diria que só é possível transformar essa história, se
houver um movimento conjunto, principalmente dos profissionais já inseridos na
área, de se posicionarem de maneira, não para disputar espaço, mas para
dividi-lo. É, tão necessária, é também saudável transitar na diferença. Só
assim pode-se enxergar o outro, só assim podemos enxergar a nós mesmos, seja
como pessoa ou como profissional.
Enquanto isso não ocorrer, estamos
correndo o risco de continuar em “ilhas isoladas”, com as mesmas pessoas,
falando sobre as mesmas coisas.
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