quarta-feira, 14 de agosto de 2013

APOCALIPSE E AS SETE IGREJAS DA ASIA.

APOCALIPSE E AS SETE IGREJAS DA ASIA. As cartas que constituem esses dois capítulos do livro de Apocalipse não foram enviadas às sete igrejas dos dias de João. Simbolizam sete períodos bem definidos da história da igreja, desde o seu nascimento em Pentecostes até o arrebatamento. Essas igrejas são chamadas candeeiros, ou “candelabros”, para mostrar que a função da Igreja é brilhar, por Jesus, em meio às trevas do mundo. À igreja em Éfeso (Ap 2:1-7), a mensagem foi que o Construtor da Igreja caminhava em seu meio. Se, contudo, ela deixou de andar com ele e abandonou o seu primeiro amor, então, como um candeeiro, seria tirada de seu lugar. Os que, mesmo dentro dessa igreja apóstata, permaneceram fiéis ao seu Senhor, comerão “da árvore da vida”, que significa a promessa da restauração do Paraíso (Gn 3:8; Ap 1:3). Essa dádiva de imortalidade é o próprio dom de Cristo que virá. À igreja em Esmirna, Cristo revela-se como “o primeiro e o último”, e tudo o que há nesse meio (Ap 2:8-11). Os religiosos hipócritas são apresentados como “sinagoga de Satanás”. Quanto aos “dez dias”, simbolizam “as dez grandes perseguições” sob os cruéis imperadores romanos. Esmirna, que significa “amargar”, associa-se a mirra, um unguento associado à “morte”. A recompensa prometida aos mártires era “a coroa da vida”. À igreja em Pérgamo, Cristo apresenta-se como possuidor de “uma afiada espada de dois gumes”. Essa expressão figurada denota o poder de sua Palavra para salvar ou matar. Refere-se a Pérgamo como o trono de Satanás, ou seja, a sua central de operações, de onde inspirou Constantino a inaugurar o seu estado cristão. Foi também nessa época que o Catolicismo Romano começou a florescer. Contra todos os apóstatas e enganosos, o Senhor disse que lutará com a espada de sua boca. Aos que perseverassem fiéis a ele nessa época degenerada, havia a promessa do maná escondido, uma pedrinha branca e um novo nome. À igreja em Tiatira, o Senhor revela seus olhos como chama de fogo, e os pés como bronze polido — símbolos achados na visão que João teve do Senhor (Ap 1:19-26). A Jezabel do AT (1 Rs 16:19-26) levou todo Israel a pecar com Jeroboão, filho de Nebate. Se a Jezabel, a que Cristo se refere na carta, era uma pessoa real ou não, é difícil afirmar-se. No entanto, é evidente que ela tipifica um sistema perverso, responsável por doutrinas perniciosas, sedução e adoração a ídolos. Um estudo cuidadoso do desenvolvimento do sistema papal com a paganização dos ritos cristãos mostra a correspondência com o Jezabelismo da igreja em Tiatira. Aos que resistissem aos falsos apelos desse sistema, há a promessa de que governarão sobre as nações com cetro de ferro e possuirão a Estrela da Manhã. Essas figuras de linguagem representam autoridade e glória vindouras. À igreja em Sardes (Ap 3:1-16), o Senhor se apresenta como possuidor dos sete espíritos de Deus e as sete estrelas. Essa linguagem própria de parábolas, ligeiramente diferente da anterior (1:4), mostra que o Senhor não é apenas o que enviou o Espírito Santo, mas também o seu possuidor, e que só ele pode fazer com que os mensageiros de sua igreja brilhem como estrelas. Aos que, em meio ao formalismo e morte espiritual no lagar da ira da igreja em Sardes, resistirem firmemente ao fluxo do ritualismo, o Senhor promete que seriam vestidos de vestiduras brancas e teriam eterna lembrança no livro da vida. Andar com ele com gloriosas roupas brancas será a eterna recompensa das testemunhas fiéis. A volta de Cristo como um ladrão reporta-nos aos ensinos das parábolas (Mt 24:42,43; Lc 12:39,40). A igreja em Filadélfia (Ap 3:7-13) Cristo apresenta-se não apenas como o Santo e Verdadeiro, mas também o que possui a Chave de Davi (Is 22:22; Hb 3:2,5,6). Os reconhecidos mestres da lei deixaram de usar corretamente a chave do conhecimento (Lc 11:52). Cristo é o verdadeiro Despenseiro da casa de Davi. Se a igreja em Filadélfia representa o reavivamento da Igreja no século XVII, após um período de inanição, na Idade Média, então, através dos avivamentos de Whitefield e dos Wesleys, e da obra missionária de William Carey, abriu-se a porta da graça às multidões. Por isso, os vencedores receberão a coroa e tornar-se-ão colunas no Santuário de Deus, onde será gravado O Novo Nome de Cristo. Sob esses expressivos símbolos está a perspectiva de possuir a recompensa e de manter a palavra de sua paciência. À igreja em Laodicéia (Ap 3:14-22), uma igreja para a qual ele não tem sequer um elogio, apenas reclamações, Cristo elabora um magnífico camafeu de si Mesmo. Ele é “o amém, a fiel e verdadeira testemunha, o princípio da criação de Deus”. Esses títulos simbolizam seu cuidado, sua imutabilidade e supremacia. Como essa carta, com severas repreensões, está cheia de símbolos expressivos! A igreja em Laodicéia, cheia de justiça própria, autosatisfação e opulência, não era fria nem quente, mas morna; e, por ser morna, causava náusea em Cristo. Por isso, ele diz que a vomitará de sua boca. Temos aqui uma parábola de rejeição da apóstata igreja organizada, quando ele voltar para a sua verdadeira igreja. A respeito de seu ouro corrompido ou adquirido desonestamente, aconselha-se à igreja que compre do Senhor “ouro refinado no fogo”, riquezas celestiais incorruptíveis; aos cegos espiritualmente, clama-se que comprem “colírio” para que vejam. Mercadores com seus unguentos e ervas medicinais não conseguem reproduzir qualquer substância que restaure a visão espiritual deteriorada. Somente a unção divina pode fazer isso. Para a sua nudez espiritual, a igreja é desafiada a comprar de Cristo “vestiduras brancas”, sem as quais ninguém jamais permanecerá em sua presença. Ao incluir tantas coisas em seu íntimo, e ter deixado Jesus de fora, seus membros são amavelmente chamados a abrir a porta e deixá-lo entrar. Que contradição é a igreja sem Cristo! Somen FUNDO HISTÓRICO DO LIVRO DE APOCALIPSE O termo grego para o nome do livro é apokalypsis, que significa revelar. Os livros da literatura apocalíptica pretendem revelar os mistérios sobre o desenrolar da história e do fim do mundo. O Apocalipse surgiu em um contexto em que existiam muitos livros semelhantes. Todos eles só podem ser entendidos com base no pano de fundo da profecia do AT. Os profetas do AT recebiam aquilo que precisavam dizer por inspiração divina, e em muitos casos a sua mensagem estava relacionada com os fatos políticos, econômicos e religiosos do seu dia-a-dia. Por outro lado, recebiam também mensagens que são dirigidas aos acontecimentos do futuro. Anunciam o juízo de Deus e a salvação no fim dos tempos. Esse segundo aspecto da mensagem profética é retomado na literatura apocalíptica. Ela se desenvolveu quando Antíoco Epifânio IV governava a Palestina (175-164 a.C.). Foi um tempo de grande opressão do povo judeu, pois Antíoco Epifânio tentou introduzir a cultura e religiosidade grega à força. Nesse tempo difícil o povo judeu se lembrou das promessas de salvação de Deus dadas pelos profetas. Deus não tinha prometido ajudar e dar vitória ao seu povo sobre todos os inimigos no final dos tempos? Por que isso não estava se cumprindo? O objetivo dos livros da literatura apocalíptica era dar respostas ao povo judeu tão oprimido. Esses livros surgiram quase que exclusivamente na Palestina e lá foram difundidos. Os escribas judeus, no entanto, eram críticos em relação a esses livros. Hoje temos acesso a alguns desse livros apocalípticos judaicos: O livro etíope de Enoque, IV Esdras, o Apocalipse grego e siríaco de Baruque, o Apocalipse de Moisés, o Livro de Enoque eslavo e o Testamento dos 12 Patriarcas. Para dar autoridade aos escritos, eram editados sob nomes de pessoas famosas do AT. Contêm muitas visões, figuras, sonhos e números simbólicos. A história geral do mundo é dividida em duas etapas: a época atual e a época vindoura. Essas épocas principais são, por sua vez, subdivididas em épocas menores. Também a época atual é dividida em períodos, que são descritos em detalhes. Sinais para o fim da época atual são a perseguição dos fiéis, catástrofes naturais e guerras. Eles antecedem a vinda do Messias. São denominados “as dores do Messias”. No final de toda a opressão está a vitória de Deus sobre as forças do mal, a ressurreição dos mortos e o início de uma nova época. 5. O Apocalipse de João como livro profético e apocalíptico O nome do último livro da Bíblia já indica a sua relação com a literatura apocalíptica. O leitor percebe isso nos símbolos que aparecem no livro. As cores têm significado especial. Branco é a cor da divindade, da alegria, da vitória, do céu. Preto é a cor da morte. Vermelho é a cor do luxo. O Apocalipse está repleto de figuras: coroa da vitória e palmeiras simbolizando a vitória. O diadema é o sinal do domínio e da soberania. O chifre é o sinal do poder. Na literatura apocalíptica os números também têm significado simbólico. Quatro é o número do mundo criado, sete é o número da perfeição e da plenititude, 12 é o número do povo eleito de Deus, 10.000 é o número da multidão ilimitada, 144.000 é o número do povo de Deus incontavelmente grande. Assim como a literatura apocalíptica, o Apocalipse tem o objetivo de interpretar a história do mundo até o seu final (cf. Ap 1.1,19). Essa história vai trazer grande opressão sobre o povo de Deus e muitas guerras e catástrofes ecológicas para a humanidade. Mas no final está a vitória de Deus, a implantação do seu domínio sobre essa terra e a criação de um novo céu e de uma nova terra. Por outro lado, não podemos ignorar a relação do livro com a profecia. O livro está em forma de carta, que João escreve às sete igrejas da província da Ásia (cf. 1.4; 22.21). O autor é conhecido entre as igrejas. Provavelmente é o apóstolo João, que, de acordo com a tradição da igreja antiga, viveu em Éfeso. Agora ele está escrevendo da ilha de Patmos às igrejas tudo aquilo que o Senhor vivo lhe disse e mostrou por meio de figuras e imagens. Ele quer ajudar as igrejas receptoras do seu livro a entenderem a sua própria situação. Ele quer apoiar e incentivar as igrejas a permanecerem firmes nas perseguições e a contarem com a vitória de Jesus Cristo (cf. 2.3,10; 3.8; 17.1ss; 20.4,6 e outros). Nesse aspecto, o livro de Apocalipse é um livro de consolo e exortação, como grandes partes da literatura profética do AT. Como surgiu esse livro? João tem à sua disposição a riqueza da literatura profética. Ele faz uso das figuras e dos símbolos apocalípticos. Será que ele uniu esses dois aspectos e criou um novo tipo de livro apocalíptico? Ele mesmo sugere algo diferente (cf. 1.9-20). Na ilha de Patmos ele teve um encontro visionário com o Senhor Jesus Cristo. O que o Senhor lhe mostrou está relacionado com o AT e com a literatura apocalíptica. Nesse mundo imaginário que lhe é tão conhecido, o presente e o futuro da Igreja lhe são interpretados. Ele recebe a tarefa de escrever o conteúdo das visões. Nessas visões está refletido o drama da perseguição dos cristãos na época de João. Com a besta que emerge do mar (13.1ss) é feita indicação do estado romano sob Domiciano; com o falso profeta se faz menção do sacerdócio do imperador. A “prostituta” (17.1ss) simboliza Roma com sua impiedade. Perseguições da igreja na Ásia Menor são citadas diretamente (cf. 2.3,10,13; 3.8). O autor antevê uma batalha decisiva vindo sobre a igreja (3.10), que deixará muitos mártires (6.9; 7.9ss; 15.2). Mas eles são os vencedores. O autor já consegue ouvir o seu louvor (12.10ss). Ele os vê reinando juntamente com Cristo (20.4,6). Todo o livro é um encorajamento para a hora do martírio. A história da igreja mostra como foi importante esse aspecto nos primeiros três séculos, nos quais ondas de perseguição caíram sobre a igreja. Não conseguiram destruir a igreja de Jesus. Para João, no entanto, a perseguição da igreja não é o conflito principal. O conflito principal está por trás dessa perseguição, que é a batalha entre Deus e Satanás. A besta que emerge do mar é o símbolo apocalíptico para o império romano. Mas mesmo esse império romano recebe o seu poder de Satanás (13.2) e serve a Satanás (13.4ss). Que diferença em relação à avaliação que o apóstolo Paulo faz do estado romano (Rm 13.1ss)! O que levou a isso? O estado romano citado em Apocalipse não é só uma figura política. Ele exige a adoração do imperador. Com isso ele concorre com a adoração a Deus. O sacerdócio do imperador (falso profeta) exige o culto fanático ao imperador. Satanás se lança a anti-Deus. É ele que está por trás da perseguição dos cristãos (12.4,7,17). Mas Satanás está derrotado; ele tem pouco tempo para agir. Jesus Cristo é o Senhor da nova época (1.13; 5.5; 3.21; 14.14). Satanás foi lançado do céu sobre a terra (12.9). Isso leva a guerras e catástrofes ecológicas terríveis, que, no entanto, não fazem com que as pessoas se voltem a Deus (9.20s e outros). Somente a volta de Jesus muda a história da humanidade: o poder dos reinos inimigos de Deus é destruído (19.11ss). Cristo reina na terra com os mártires por 1.000 anos, durante os quais Satanás está amarrado. Depois disso ele se levanta uma última vez e é destruído (20.7ss). Deus cria um novo céu e uma nova terra, que já não conhecem o sofrimento nem a morte. O fato novo do Apocalipse de João é que as figuras e imagens são aplicadas coerentemente a Jesus, enquanto na literatura apocalíptica judaica o consolo estava relacionado aos patriarcas espirituais. No centro do livro de João está a ação de Deus que leva à salvação das pessoas por meio de Jesus Cristo. Diante disso, é possível ver a história com outros olhos, mesmo quando surge uma época de perseguição da igreja. O Apocalipse de João é, portanto, um livro de consolo e encorajamento para a igreja, que em pouco tempo será levada ao martírio. Essa igreja é encorajada a permanecer fiel pela esperança do cumprimento em breve de todas as coisas por meio de Jesus Cristo.te aos que lhe abrem a porta, serão abertas as portas do céu (Ap 4:1). ESTUDO APOCALIPSE.. Que contraste marcante no estilo existe entre as epístolas de João e Apocalipse, também escrito por ele! As epístolas não têm muitos adornos, longe de preocupações com imagens ou figuras, enquanto o livro de Apocalipse expressa-se através de parábolas. Em linguagem simbólica e apocalíptica, João foi inspirado pelo Espírito Santo a “encorajar e estimular o povo em tempos de angústia, por meio da segurança de um futuro glorioso pelo triunfo do tão esperado Libertador de Israel”. Ele governará como “o Príncipe dos reis da terra” (Ap 1:5). Temos ainda um contraste de tom e temperamento entre as epístolas de João e o livro de Apocalipse. Todavia, ambos, trovão e ternura, estavam presentes no modo de ser de João (Mc 3:17). Os primeiros livros exibem seu trovão (Ap 2:22; 5:16; 2Jo 10; 3 Jo 9,10), enquanto que Apocalipse é eloquente, mas com ternura, assim como o trovão do juízo (Ap 1:9; 7:14-17; 21:3,4). O simbolismo que João usa não é de sua própria autoria, mas simplesmente uma nova combinação de antigos símbolos hebreus, quase todos achados no AT. O dr. Scroggie afirma que “todas as figuras do Apocalipse foram tomadas do AT. Dos seus 404 versículos, 265 contêm linguagem do AT, e há cerca de 550 referências a passagens do AT. Mas para o AT, esse livro continua um enigma”. Esse último livro da Bíblia relaciona-se, por contraste e comparações, com o seu primeiro livro (Gênesis); todavia, essencialmente, Apocalipse, por seu conteúdo profético, relaciona-se mais com Daniel do que com qualquer outro livro do AT. Daniel esquematiza a história dos gentios durante os sucessivos impérios — Babilônico, Medo-Persa, Grego e Romano; João trata apenas da última fase da história romana. Daniel apresenta o curso total do Império Romano; Apocalipse é um livro das consumações, enquanto Gênesis é o livro das origens. Nosso propósito é mostrar que o livro profético de João (Ap 1:3; 22:7,10,18,19) revela muitos acontecimentos futuros, apresentados em parábolas e com linguagem rica em símbolos. Desde o enunciado em seu prólogo: “Ele as enviou pelo seu anjo, e as notificou ao seu servo João”. A palavra “notificou” pode ser traduzida como “significou”, ou dado através de sinais e símbolos, que proliferam aqui mais do que em qualquer outro livro da Bíblia. Muitos negligenciam essas revelações por seu caráter altamente simbólico, pois desconhecem que os símbolos, se não explicados no próprio livro, o são em alguma outra parte da Bíblia. Ordenou-se a Daniel que “selasse” as palavras de sua profecia até o “tempo do fim” — não o fim do tempo — mas o fim do “tempo dos gentios”. João, ao escrever sobre o nosso tempo presente (Ap 22:10), foi instruído a “não selar” as palavras do livro. O expressivo simbolismo de Apocalipse relaciona-se com Cristo e sua Igreja no começo do livro; com Israel, no meio do livro; e com as nações, no final. Na construção da cidade santa, a Nova Jerusalém, a Igreja é a fundação representada pelos nomes dos doze apóstolos; Israel simboliza as portas com os nomes das doze tribos escritos nelas; as nações salvas são as ruas, onde andam na luz da glória dessa majestosa cidade. Uma explicação completa de todas as figuras de linguagem no livro Apocalipse significaria uma exposição desse fascinante livro como um todo — uma tarefa admiravelmente executada por Walter Scott em The Exposition of Revelation [A exposição do Apocalipse]. Tudo o que faremos é listar os símbolos, com um breve comentário dos seus respectivos significados, e assim concluir o nosso estudo das parábolas nas Escrituras.

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